O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, está nomeado junto com o seu homólogo macedónio, Zoran Zaev, para o Nobel da Paz de 2019, por terem assinado em julho de 2018 um acordo que põe fim à disputa sobre o nome da Antiga República Jugoslava da Macedónia - que passará a chamar-se República da Macedónia do Norte. O acordo terá ainda de ser ratificado na Grécia e isso irá provavelmente fazer cair o governo de Tsipras mais cedo do que o previsto (as eleições deviam ser só em outubro). Tudo porque os parceiros de coligação, os conservadores populistas do ANEL, avisaram que vão deixar de o apoiar se houver a votação no Parlamento..Em finais de agosto, após uma pequena remodelação governamental, Tsipras afastou a hipótese de antecipar as legislativas, que chamou de "a mãe de todas as batalhas". Mas poderá ser obrigado a isso. "O Syriza está ciente de que existe essa possibilidade e aposta num impulso positivo que pode vir das melhorias na frente económica e nas relações externas da Grécia. Contudo, até agora, este impulso ainda não se materializou", disse ao DN Vasilis Leontitsis, membro do Grupo de Especialistas em Política Grega (GPSG, na sigla em inglês) e professor de Estudos Globais na Universidade de Brighton, no Reino Unido..Desde janeiro de 2016 que o Syriza está em segundo lugar nas sondagens, atrás da Nova Democracia, liderada desde então por Kyriakos Mitsotakis, filho do ex-primeiro-ministro Konstantinos Mitsotakis. Conseguirá o Syriza recuperar até às eleições? "A resposta é não. Tsipras espera um pequeno interlúdio da Nova Democracia no governo. Isto irá permitir, em teoria, que o Syriza se reagrupe e regresse ao poder mais cedo", explicou Leontitsis. Segundo uma sondagem para o jornal Proto Thema, em finais de novembro, 71% dos gregos acreditavam que a Nova Democracia vai ganhar as eleições..Entretanto haverá também as eleições europeias em maio - há quem defenda que podem até ocorrer em simultâneo com as legislativas, sendo certo que já vão realizar-se ao mesmo tempo que as locais. A nível europeu, o Syriza aposta na ideia de criar uma "frente progressista" para fazer face à extrema-direita e aos nacionalismos. Na Grécia isso é sinónimo de Aurora Dourada, que, apesar de popular, não parece continuar a crescer. "Ficaria surpreendido se ganhasse mais terreno comparado com as últimas eleições", indicou Leontitsis..Adeus ao partido de protesto.O partido de protesto que ganhou as eleições em 2015, com uma série de propostas contra a austeridade que preocuparam a União Europeia, desapareceu quando confrontado pela realidade e a necessidade de assinar mais um resgate - o terceiro da Grécia desde 2010. "A realidade é que já não é um partido de protesto, mas um partido de governo. Isto significa que agora precisa de trabalhar dentro de um certo contexto restritivo e produzir determinados resultados de governo", referiu o especialista.."A esquerda no poder provou que teve sucesso em garantir a estabilidade financeira, mas não cumpriu a promessa de reformas revolucionárias que levariam à redistribuição de riqueza", disse o historiador Kostis Karpozilos, citado no site Politico..Mais de três anos depois desse resgate da zona euro, que chegou ao fim em agosto, o Syriza espera uma recuperação económica para reconquistar o apoio perdido. "A situação ainda é complicada, mas não tão má como durante os anos da crise financeira profunda, especialmente em 2011 e 2012", explicou Leontitsis. Um exemplo é a queda do desemprego, que ronda os 18,6%, tendo chegado a ser de 27,9%, assim como o crescimento económico..Contudo, referiu, "a maioria dos empregos são em part-time ou não são bem remunerados e o crescimento do PIB tem sido lento". Uma sondagem publicada em meados de dezembro revelou que sete em dez gregos ainda acreditavam que o país está em recessão. "Isso significa que não viram grande melhoria na sua situação financeira pessoal", disse o académico. Resumindo: "A economia está em melhor forma, mas a situação global está a começar a deteriorar-se. Por isso, prevejo muitos ventos contrários no próximo ano. O que não vai ajudar o Syriza.".Mas será que a resolução do diferendo com a Antiga República Jugoslava da Macedónia poderá garantir-lhe votos: "O público grego é muito sensível em relação à questão do nome. Numa sondagem recente, a maioria disse rejeitar o acordo. Logo, terá um efeito negativo no Syriza", indicou Leontitsis. O impacto será maior na região grega da Macedónia, em especial, já que esta se sente "traída" pelo acordo de Tsipras. "Esta é uma região populosa, onde se situa Tessalónica, a segunda maior cidade grega. Isto pode ser um fator decisivo no resultado final das eleições", indicou o especialista do GPSG.