Trump prepara ataque político contra Comey

Especialistas em Direito criticam atuação do ex-diretor do FBI, mas defendem que será difícil para a Casa Branca atuar judicialmente
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O ex-diretor do FBI poderá ter infringido a lei ou pelo menos os seus deveres éticos. É nessa base que a equipa jurídica de Donald Trump, liderada pelo advogado Marc Kasowitz, pondera agir, devendo apresentar, nos próximos dias, uma queixa formal contra James Comey ao inspetor-geral do Departamento de Justiça. Os advogados do presidente norte-americano preparam-se também, em paralelo, para enviar uma outra queixa, esta para a Comissão Judicial do Senado.

James Comey disse na passada quinta-feira, no depoimento perante o Congresso, que - através de um amigo, Daniel Richman, professor de Direito na Columbia University - fez chegar ao The New York Times o conteúdo das notas que tinha tomado após as reuniões com Donald Trump, por estar convencido de que isso ajudaria a que fosse nomeado um procurador-especial para investigar as alegadas ligações entre a campanha de Trump e a Rússia. Comey entende que as suas anotações não se trata de material classificado, algo que os advogados de Trump contestam.

Especialistas ouvidos pelo Politico criticam a atuação de Comey, mas levantam dúvidas sobre a possibilidade de haver matéria para um processo judicial. "Para ele o perigo não é tanto criminal, mas de credibilidade. O que Comey fez foi muito pouco profissional. Na minha opinião, pode ter posto em causa a investigação", defende Jonathan Turley da Universidade George Washington.

Depois de Comey ter confessado que fez chegar a informação ao The New York Times, Donald Trump não perdeu tempo para atacá-lo, acusando-o de "bufo" através do Twitter. Apesar das várias queixas, o mais provável é que os próximos capítulos sejam todos de cariz político, mais do que judicial. De acordo com o The Hill, Comey terá feito uma preparação minuciosa das suas ações. "Tudo parece ter sido feito dentro da lei", defende Brad Moss, um advogado especialista em segurança e defesa nacional. Stephen Kohn, outro jurista ouvido pela mesma publicação e especialista em fugas de informação, está de acordo. "Comey estava consciente das questões legais. Mas o advogado de Trump também está a ser inteligente, porque vai apresentar as queixas em instâncias que não significam nada".

Depois de chamar "mentiroso" a Comey, Donald Trump garantiu na sexta-feira que está preparado para prestar declarações sob juramento. "Não houve qualquer obstrução à justiça", garantiu o presidente norte-americano numa conferência de imprensa ao lado do seu homólogo romeno, Klaus Iohannis. Trump garante que nunca pediu a James Comey para que abandonasse a investigação sobre as ligações e os contactos de Michael Flynn, ex-conselheiro para a Segurança Nacional, com a Rússia.

Sobre eventuais gravações das conversas entre Trump e Comey, o presidente norte-americano continua sem revelar se elas existem, mas prometeu novidades para os próximos dias. "Vou dar-vos informação sobre esse assunto muito em breve. Vão ficar muito desiludidos quando ouvirem a resposta", disse Donald Trump aos jornalistas.

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