Trump e Pence em duelo no Arizona, com 2024 no horizonte
Donald Trump e o seu ex-assessor Mike Pence, que passaram de parceiros na Casa Branca a rivais dentro da família republicana, realizaram uma espécie de duelo à distância, na sexta-feira no Arizona, onde as próximas eleições primárias republicanas oferecem um teste antecipado ao seu potencial confronto em 2024.
A convergência dos eventos de campanha ocorreu um dia depois de uma audiência no Congresso sobre o ataque ao Capitólio dos EUA, em janeiro de 2021, na qual um oficial de segurança da Casa Branca disse que membros da guarda pessoal de Pence temeram morrer quando os manifestantes invadiram o edifício.
Trump, que tal como Pence está a considerar concorrer à presidência em 2024, atacou o seu ex-vice-presidente pelo que ele descreveu como uma falha em bloquear a certificação dos resultados das eleições de 2020 e enviar o processo eleitoral de volta aos diferentes estados dos EUA.
Esse plano foi idealizado por assessores de Trump que apoiaram a sua teoria desacreditada de que a eleição de Joe Biden foi fraudulenta, mas Pence recusou-se a seguir esse plano, considerando que a ação seria ilegal.
Durante a insurreição de 6 de janeiro de 2021, Trump publicou no Twitter um ataque a Pence, dizendo que este "não teve coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger nosso país".
Antigos funcionários da administração Trump testemunharam na audiência de quinta-feira perante o Congresso que a publicação na rede social foi como combustível no fogo e virou os manifestantes no Capitólio contra o então vice-presidente.
Em revelações nessa audiência, um funcionário de segurança nacional da Casa Branca que testemunhou sob anonimato disse que "membros da equipa do vice-presidente neste momento começaram a temer pelas suas próprias vidas" e alguns ligaram mesmo para entes queridos para mensagens de despedida.
O comício de Trump na sexta-feira na cidade de Prescott Valley, no centro do Arizona, foi parte de uma série de comícios "Save America" que o ex-presidente realizou para impulsionar os seus candidatos favoritos antes das eleições primárias republicanas.
No início de julho, ele realizou um evento no Alasca para apoiar Kelly Tshibaka, uma desafiante da senadora em exercício no estado, Lisa Murkowski, a qual foi um dos poucos republicanos a votar pelo impeachment de Trump após a insurreição de 6 de janeiro de 2021.
No Arizona, um estado que perdeu por pouco em 2020, Trump fez campanha por Kari Lake, uma candidato a governadora, conotada com a extrema direita, que apoia a alegação de que a eleição de Biden em 2020 foi fraudulenta.
Lake, uma ex-apresentadora de TV, subiu ao palco primeiro, num estádio lotado, declarando que no Arizona "não aceitaremos mais a corrupção, e sei que não aceitaremos mais eleições fraudulentas".
O ex-presidente, que deixou a multidão à espera por mais de duas horas, começou o seu discurso focando na imigração - um importante tema de campanha no estado que compartilha uma grande fronteira com o México. Mas não demorou muito para que ele voltasse sua atenção para as eleições de 2020.
"A eleição foi fraudulenta e roubada e agora o nosso país está a ser sistematicamente destruído por causa disso!" gritou, com a multidão a reagir em resposta.
Pence fez escalas em Phoenix e no sul do Arizona pela candiata a governadora Karrin Taylor Robson, uma republicana mais "tradicional" do que Lake e que também tem o apoio do governador em exercício.
Com a rivalidade com Trump a intensificar-se no espetro político republicano, Pence posicionou-se como um conservador religioso de princípios. Mas recusou-se a atacar Trump diretamente.
Num discurso de 20 minutos, o antigo vice-presidente elogiou as realizações políticas durante os "quatro anos do governo Trump-Pence" e deu apenas uma breve "bicada" em na candidata de Trump, Kari Lake, criticando o seu apoio anterior aos democratas. "Os republicanos do Arizona não precisam de uma governadora que apoiou Barack Obama e Hillary Clinton!", disse.
Mais tarde, porém, Pence emitiu uma condenação indireta à fixação de Trump e Lake nas eleições de 2020. "Os democratas adorariam que os republicanos tirassem os olhos da bola e se concentrassem apenas nos dias passados", publicou no Twitter. "Mas se o Partido Republicano se deixar consumir pelas queixas de ontem, perderemos", acrescentou.
Pence deixou de lado as conversas sobre uma possível candidatura em 2024, dizendo que o seu foco agora está nas eleições intermédias para o Congresso, em novembro de 2022. "Depois, em 2023, olharemos para isso [Presidenciais]", disse à National Review no ano passado. "Nós iremos para onde formos chamados."