Como é trabalhar como assessor de imprensa da Casa Branca de Donald Trump? Tendo em conta que o presidente norte-americano tem um ódio especial contra os jornalistas e gosta de dizer o que pensa diretamente pelo Twitter, diríamos que é no mínimo complicado. E, tendo também em conta que Trump acaba de nomear a quarta pessoa para ocupar o cargo, diríamos que é um trabalho temporário..O cargo foi ocupado pela primeira vez por George Akerson, entre 1929 e 1931, na presidência de Herbert Hoover. Tradicionalmente os assessores de imprensa reúnem-se diariamente com os jornalistas que fazem a cobertura da Casa Branca, informando-os das várias ações da administração e reagindo a acontecimentos em todo o mundo, servindo ainda de intermediários do presidente..O ex-presidente Barack Obama, ao longo dos seus dois mandatos, teve três assessores de imprensa. Trump, que ainda não acabou o primeiro, já vai para o quarto: o primeiro foi Sean Spicer (esteve 182 dias no cargo), seguiu-se Sarah Sanders (que detém o recorde, com quase dois anos na posição), depois Stephanie Grisham (nove meses) e agora Kayleigh McEnany, que tomou posse a 7 de abril..Sean Spicer, o coelho da Páscoa.O primeiro assessor de imprensa de Trump esteve no cargo de 20 de janeiro a 21 de julho de 2017 e estabeleceu as bases da relação com os jornalistas logo no primeiro dia de trabalho..Spicer, de 48 anos, defendeu então que a tomada de posse de Trump tinha sido a mais concorrida de sempre e que os media tinham subestimado o número das pessoas presentes. Foi o início do que a conselheira do presidente Kellyanne Conway mais tarde apelidou de "factos alternativos". No seu dia-a-dia com os jornalistas foi sempre muito combativo..Contudo, Spicer, que tinha trabalhado como diretor de comunicação do Comité Nacional Republicano, já tinha passado antes pela Casa Branca: tinha sido o coelho da Páscoa que animou as crianças durante a festa anual no relvado da residência oficial do presidente norte-americano, ainda quando George W. Bush estava no cargo. Spicer era na altura representante comercial para os media e assuntos públicos da administração..Spicer demitiu-se do cargo depois de Trump nomear Anthony Scaramucci para diretor de comunicação da Casa Branca (só duraria dez dias no cargo). Depois, escreveu um livro sobre os seis meses que trabalhou como assessor de imprensa intitulado The Briefing: Politics, the Press, and the President, que foi publicado em julho de 2018. O seu segundo livro, Leading America: President Trump's Commitment to People, Patriotism, and Capitalism, será publicado em outubro..Em 2019, foi um dos concorrentes do programa de entretenimento Dança com as Estrelas, chamando a atenção pelo seu número de salsa logo no primeiro episódio - aguentou nove semanas, tendo tido o apoio do próprio Trump. Desde março de 2020 que apresenta o seu programa de talk show político, Spicer & Co., na Newsmax TV e tem estado nos briefings do presidente na Casa Branca sobre o coronavírus..Sarah Sanders, as declarações falsas.Sanders, que assumiu oficialmente o cargo de assessora de imprensa a 26 de julho de 2017, era a número dois de Spicer e já tinha subido ao pódio quando este não estava disponível. A filha de Mike Huckabee (governador do Arkansas e ex-candidato à nomeação republicana para a Casa Branca) ficaria no cargo até 1 de julho de 2019..A segunda assessora de imprensa de Trump ficou conhecida pelas declarações falsas que deu aos jornalistas - ela própria terá admitido que o fez à investigação do procurador Robert Mueller, sobre a alegada interferência russa nas presidenciais. Em causa esteve, por exemplo, o facto de ter dito ainda em maio de 2017 que havia muita gente dentro do FBI feliz com a demissão do diretor James Comey - quando, na realidade, muitos tinham expressado o seu desagrado..Sanders, de 37 anos, também repetiu em várias ocasiões que o presidente não tinha conhecimento de ter sido pago dinheiro a uma antiga amante, Stormy Daniels, para não revelar o caso que tinha tido com ele. Mais tarde, o advogado do presidente disse que ele reembolsou outro advogado pelos pagamentos feitos..Quando as suas declarações eram postas em causa, dizia que era uma pessoa "honesta"..Noutra ocasião, em agosto de 2018, recusou dizer que os media não eram os inimigos do povo, como Trump repetia inúmeras vezes nos seus ataques contra o jornalismo..A 13 de junho de 2019, o presidente anunciou que Sanders ia deixar o cargo no final do mês. Os briefings diários com os jornalistas já tinham praticamente acabado (o último tinha sido em março e durara 15 minutos) e o jantar dos correspondentes da Casa Branca tinha mudado de formato. Tinha-se considerado que, em 2018, a humorista convidada Michelle Wolf tinha ido longe de mais ao atacar pessoalmente Sanders -a sua maquilhagem, por exemplo..Sanders, que depois de deixar a Casa Branca foi trabalhar para a Fox News, estará a considerar concorrer a governadora do estado de Arkansas, seguindo as pegadas do pai..Stephanie Grisham, a invisível.A terceira assessora de imprensa de Donald Trump, que já tinha trabalhado com ele durante a campanha presidencial, nunca participou num briefing com os jornalistas na Casa Branca. Em vez disso, preferia entrevistas aos vários canais de televisão, nomeadamente a Fox News..Grisham, de 43 anos, começou a trabalhar na equipa de Sean Spicer logo em janeiro de 2017, mas em março passou para a equipa da primeira-dama, Melania Trump. Em junho de 2019, foi a própria Melania que anunciou que Grisham ia trabalhar como assessora de imprensa e diretora de comunicação de Trump..Durante o tempo no cargo, Grisham rejeitou as conferências de imprensa diárias, alegando que os jornalistas participavam para ganhar fama, já que os briefings se tinham tornado um teatro..A 7 de abril, a Casa Branca anunciou que Grisham regressava à equipa da primeira-dama, como sua chefe de gabinete..Kayleigh McEnany, a polémica.A mais recente assessora de imprensa de Trump é Kayleigh McEnany, que faz 32 anos no próximo sábado. Apesar de jovem, tem um longo currículo, tendo feito um estágio na Casa Branca durante a administração de George W. Bush, estudado Direito em Harvard, Georgetown e Oxford. Em 2016 começou a trabalhar como comentadora na CNN..Foi ainda porta-voz do Comité Nacional Republicano e, há dois anos, publicou o livro The New American Revolution: The Making of a Populist Movement..McEnany, que já tinha sido assessora da campanha de Trump, juntou-se depois à equipa para a reeleição, tendo apresentado um programa na página de Facebook do presidente e saído sempre em defesa dele: "Ele não mente. A imprensa é que mente", tem alegado..Em plena crise por causa do coronavírus, disse em finais de fevereiro que este nunca chegaria aos EUA. "Não vamos ver doenças como o coronavírus aqui, não vamos ver o terrorismo chegar aqui e não é refrescante quando comparada com a horrível presidência de Obama." E reiterou mais tarde que Trump estava a lutar para "derrotar o inimigo invisível" enquanto os media "enganavam o país"..Numa altura em que o presidente está diariamente nas televisões dos norte-americanos, a falar do coronavírus, McEnany foi a escolha para substituir Grisham. Veremos durante quanto tempo ficará no cargo.