Trump divide esquerda parlamentar
Os dois partidos divulgaram ontem o conteúdo dos respetivos documentos. O do PS evita, por exemplo, qualificativos que o do BE atribui ao novo Presidente dos EUA: "Xenofobia", "racismo" e "sexismo". Querendo ser abrangentes, os bloquistas procuraram apoios fora da sua bancada. E conseguiram as assinaturas de uma deputada do PSD, Paula Teixeira da Cruz, e de dois deputados da bancada do PS (Alexandre Quintanilha e Bacelar de Vasconcelos), bem como de André Silva (PAN).
Na parte resolutiva do seu voto, o BE diz que a Assembleia da República "reafirma o seu compromisso com a defesa dos direitos humanos, da igualdade de género, da resolução pacífica dos conflitos, da liberdade de imprensa, da liberdade religiosa, do respeito pela Convenção de Genebra e pelos Acordos de Paris sobre alterações climáticas e o seu empenho no combate à xenofobia, ao racismo e ao sexismo, condenando as declarações e deliberações da administração Trump contrárias a estes princípios".
Já o do PS, centrado exclusivamente no "imigration ban" decretado pela administração Trump aos naturais de vários países muçulmanos, é mais suave, dizendo que a AR "lamenta as restrições recentemente impostas pelo Presidente dos Estados Unidos da América em matéria de imigração, acolhimento de refugiados e acesso de estrangeiros em geral ao território dos EUA" e "manifesta" a sua "profunda preocupação pelo significado que tais restrições acarretam para todos os que, diariamente, se vêm por elas atingidos, para a salvaguarda dos Direitos Humanos à escala global, e para a afirmação do primado do Direito Internacional e da correspondente vinculação dos Estados às suas disposições".
"As recentes medidas tomadas pela recém-empossada administração norte-americana, bloqueando o acesso ao território americano a certas categorias de pessoas discriminadas em função da sua origem e credo religioso, têm suscitado justificada indignação, pelo retrocesso civilizacional que representam e pelo desrespeito por princípios elementares de Direitos Humanos, e das Gentes, estruturantes da cultura ocidental e universal. A Assembleia da República confia que a democracia americana e as suas Instituições saberão preservar políticas coerentes com os seus valores fundadores, as quais têm inspirado outros povos na proteção dos Direitos Fundamentais e afirmação do primado da Lei", lê-se ainda no texto socialista.
Já o do Bloco, afirma que Trump, quando tomou posse, "deixou bem claro que o ideário e a retórica inflamada com que preencheu a campanha eleitoral iriam ser a base do seu mandato e não apenas um desvio de ocasião para, por via do ódio, mobilizar parte da sociedade e do eleitorado norte-americanos".
Os bloquistas recordam ainda, além das restrições de acesso aos EUS, várias iniciativas do novo inquilino da Casa Branca, iniciativas que o voto do PS omite: "[Donald Trump] pôs em execução uma das suas principais ameaças de campanha: a construção de um muro ao longo dos 3200 quilómetros da fronteira com o México", "tornou público que a sua administração está a trabalhar no regresso dos black sites, as prisões secretas da CIA em vários países onde, durante o mandato de George W. Bush, alegados suspeitos de terrorismo capturados no Iraque e noutros países eram interrogados e sujeitos a tortura".
Além disso, "cortou o financiamento público a ONG internacionais que apoiam mulheres no acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez, mandou bombardear o Iémen" e "ordenou a construção de oleodutos em zonas ambientalmente sensíveis e reincidiu na negação das alterações climáticas".
Já os socialistas preferem salientar que "as migrações no mundo têm sido uma constante da existência humana, induzidas pela procura de melhores condições de vida, pela busca de refúgio em face da perseguição politica ou religiosa, ou da fome e da guerra". E também que "os Estados Unidos da América, nação construída por imigrantes, sempre foram um exemplo, tendo bem impressa na sua identidade e caráter a abertura ao Mundo, às pessoas e à sua diversidade, uma pátria amiga da Liberdade, uma filha do Iluminismo".
Os votos serão discutidos e votados sexta-feira, ao fim da manhã. Não se sabe se outras formações apresentarão também votos próprios.