Tribunal ordena captura de ex-líderes das FARC após anúncio de regresso às armas
O tribunal especial para a paz na Colômbia ordenou a captura de cinco ex-líderes da antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) que anunciaram esta quinta-feira, em vídeo, "uma nova etapa da luta" armada.
Na sequência do anúncio, o tribunal revogou "o benefício da suspensão dos mandados de prisão" de Iván Márquez - principal negociador do acordo de paz de 2016 -, Seuxis Paucias Hernández, conhecido como "Jesús Santrich", Henry Castellanos Garzón ("El Paisa"), José Vicente Lesmes ("Walter Mendoza") e José Manuel Sierra Sabogal ("Zarco Aldinever)".
Depois de mais de um ano de paradeiro desconhecido, o ex-número dois das FARC e principal negociador do acordo de paz de 2016, Iván Márquez, reapareceu num vídeo esta quinta-feira com outros ex-líderes do grupo, anunciando o regresso às armas. "Anunciamos ao mundo que começou a segunda Marquetalia (local de nascimento das FARC), sob o suporte do direito universal que assiste todos os povos do mundo a levantarem armas contra a opressão", afirmou Iván Márquez, denunciando uma "traição" do Estado ao pacto de 2016.
No mesmo dia, a União Europeia (UE) afirmou que o seu compromisso "com o processo de paz é e continua a ser inabalável". A porta-voz da UE para a Política Externa, Maja Kocijancic, afirmou em comunicado que a decisão de vários ex-ativistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) de se retirarem "do processo de paz ameaça desfazer os importantes progressos alcançados nos últimos anos", mas considerou que é "uma decisão de um pequeno grupo".
O ex-líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Iván Márquez, cujo paradeiro não se conhecida há um ano, reapareceu num vídeo onde anuncia "uma nova etapa da luta", juntamente com outros ex-lideres. De acordo com o vídeo, partilhado no Youtube pela Euronews, os dissidentes garantem voltar à luta armada.
Segundo o jornal espanhol El País, no vídeo - partilhado no Facebook -, Márquez diz: "Nunca fomos derrotados ou derrotados ideologicamente. É por isso que a luta continua. A história registará nas suas páginas que fomos obrigados a voltar às armas". O dissidente fez-se acompanhar por dois outros líderes das FARC, Seuxis Paucias Hernandéz e Hernán Darío Velázquez, conhecidos pela violência que operaram.
Márquez aparece no vídeo vestido de verde tropa e com uma arma à cintura. Afirmou que "a decisão de retornar é a continuação da luta de guerrilha como resposta à traição do Estado ao acordo de paz de Havana" e que tentarão realizar alianças com o Exército de Libertação Nacional (ELN), o último guerrilheiro ativo na Colômbia com uma forte presença na fronteira com a Venezuela.
Márquez diz no vídeo que a sua insurgência não é dirigida a soldados nem a polícia "que respeitam os interesses da população". Afirma, ainda que o Estado irá conhecer "uma nova modalidade operativa (...)" e que "responderão apenas à ofensiva". No final da "aparição" ouviu-se "Viva as FARC-EP" e em resposta "Viva".
De acordo com o jornal espanhol, no dia anterior a Fundação de Paz e Reconciliação, Pares, tinha alertado que os dissidentes operam em 85 municípios e que têm 1800 guerrilheiros e 24 grupos além de 300 novos recrutas.
O conflito armado na Colômbia, que envolveu guerrilhas, grupos paramilitares, forças do Governo e narcotraficantes ao longo de mais de 50 anos, causou mais de 260 mil mortos, quase 83 mil desaparecidos e 7,4 milhões de deslocados.