Três Tristes Tigres servem "Guia Espiritual" no primeiro Porto Best Of do ano
Já passaram mais de 20 anos, mas ainda hoje as canções de Guia Espiritual, o segundo disco dos Três Tristes Tigres, soam tão atuais como então. É este disco, editado em 1996 e no qual se incluía o famoso tema Zap Canal, que a dupla composta por Ana Deus e Alexandre Soares vai revisitar no palco do Rivoli, na primeira sessão deste ano do Porto Best Of, onde estará acompanhada pelo baterista João Pedro Coimbra e o teclista Quico Serrano, à época também eles membros da banda.
GNR, Expensive Soul, Capicua ou Tarântula foram alguns dos nomes que, durante o ano passado, passaram pelo Porto Best Of, um ciclo de concertos com curadoria de Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero, onde bandas do Porto são convidadas a tocar e a revisitar na íntegra, à luz do presente, o seu primeiro ou mais influente álbum. É portanto caso para dizer que a edição de 2017 começa em grande, com o regresso aos palcos, 13 anos depois do último concerto, dos Três Tristes Tigres.
Iniciado em meados da década de 90 pela vocalista Ana Deus e pelo guitarrista Alexandre Soares (em parceria com a poetisa Regina Guimarães), este projeto escreveu um dos mais belos capítulos da história da pop portuguesa, precisamente com Guia Espiritual, muito embora, na altura, não tivessem noção disso, como recorda hoje ao DN Ana Deus: "Só me apercebi dessa suposta importância nos anos seguintes, com os comentários das pessoas, até mesmo de algumas que na altura eram crianças e só ouviram o disco muito tempo depois. Na altura tudo aquilo me soava apenas normal e natural, porque era o que fazíamos."
Hoje, sob o filtro de duas décadas passadas, sim, Ana Deus já consegue reconhecer essa importância histórica ao álbum, especialmente por ter sido algo que não teve continuidade nos anos seguintes. "Talvez seja por isso que ainda é lembrado", ironiza a vocalista.
O convite para revisitarem o álbum surpreendeu a dupla, que continua a trabalhar em conjunto no projeto Osso Vaidoso, que no final do ano passado editou o segundo álbum, Miopia. Foi aliás durante um ensaio dos Osso Vaidoso, no qual estava também presente o baterista João Pedro Coimbra, outro antigo membro dos Três Tristes Tigres, que receberam uma chamada de Miguel Guedes, a desafiá-los para este regresso.
"Foi algo que nunca nos passou pela cabeça", confessa Ana Deus, antevendo "um concerto mais revivalista" do que outros já ocorridos nestas noites de Porto Best Of, "mas sem pretender ser saudosista".
Já para Alexandre Soares, o mais complicado, neste súbito regresso ao passado, foi mesmo a parte técnica, "em especial os samplers daquela época", porque as músicas, essas, "começaram a sair logo" ao primeiro ensaio. "Fomos recuperando o que pudemos das máquinas de cada um, mas há muita coisa que se perdeu, o que irá implicar uma abordagem diferente à música, com algumas partes que estavam anteriormente pré-gravadas a terem de ser tocadas", explica o guitarrista.
Do alinhamento e além dos temas de Guia Espiritual, que será tocado na íntegra, fazem ainda parte algumas canções de Comum, o terceiro e derradeiro registo de originais da banda, editado em 1998. O que não está para já nos planos de ambos é um regresso dos Três Tristes Tigres ao ativo, pelo menos ao nível da composição.
"Se me fizessem essa proposta diria logo que não. Neste momento encontrámos o formato perfeito para nos exprimirmos, com os Osso Vaidoso, e não faria muito sentido estar a ressuscitar os Três Tristes Tigres", garante Ana Deus, perante um sorriso cauteloso de Alexandre Soares. "Eu prefiro ficar calado", diz com humor o guitarrista. "Sim, eu também dizia que não queria fazer um best of e ele acabou por sair", lembra a vocalista, referindo-se à coletânea Visita de Estudo, lançada em 2001.
Já quanto a concertos, aí a conversa é outra, sendo expectável mais algumas aparições dos Três Tristes Tigres por aí. "Sim, gostaríamos muito, até porque não faz sentido estarmos a ensaiar tanto para tocarmos uma única vez. E porque mais concertos significam mais trabalho, o que também é muito importante", sustenta Ana Deus.
Antes de os Três Tristes Tigres subirem ao palco e como é habitual nestas noites Best Of, cujo objetivo é misturar passado, presente e futuro da música portuense, atua ainda Old Jerusalem. O alter ego musical de Francisco Silva vem apresentar o último A Rose Is a Rose Is a Rose, que marcou o regresso aos discos, após um interregno de cinco anos, com um trabalho mais centrado nas canções e não tanto na introspeção dos primeiros tempos.
Para abrir a noite foram chamados os Dan Riverman, uma banda formada em 2009 por Dan Alves (voz e guitarra), Rui Materazzi (baixo), Mike Peixoto (bateria), Bruno Macedo (guitarra) e Jonas Araújo (teclados), que depois do elogiado EP de estreia, Hers, se prepara para editar em breve o seu primeiro longa duração. Como garante Ana Deus, "vamos estar em muito boa companhia".
Informação útil:
Porto Best Of
Três Tristes Tigres, Old Jerusalem e Dan Riverman
Teatro Rivoli, Porto
16 de março, às 21.30
Bilhetes: 7,5 euro