O campeonato alemão vai com 11 jornadas disputadas e no primeiro lugar não estão os crónicos candidatos Bayern Munique e Borussia Dortmund. A liderança é ocupada pela equipa que tem um dos nomes mais difíceis de soletrar do futebol europeu, o Borussia Mönchengladbach, que ocupa a primeira posição com mais quatro pontos do que o trio que se lhe segue - RB Leipzig, Bayern Munique e Friburgo, todos com 21 pontos. Um período que faz já muitos adeptos sonharem com os gloriosos anos da década de 1970, quando os prussos dominaram o futebol na Alemanha..A equipa treinada por Marco Rose, técnico de 43 anos que chegou do RB Salzburgo, da Áustria, no início desta temporada, depois de ser bicampeão, está a ser a grande surpresa da Bundesliga. O Mönchengladbach não liderava o campeonato desde a terceira jornada da temporada 2011-12, quando era treinado por Lucien Favre. E a última vez que tinha estado na primeira posição após a sétima ronda da liga germânica tinha acontecido em 1985-86, quando Jupp Heynckes dava os primeiros passos como treinador..Marco Rose é um adepto do futebol de ataque e foi essa filosofia de jogo que levou os responsáveis do M'gladbach a apostar na sua contratação. Os seus métodos assentam muito na ideia de jogo de Jürgen Klopp, atual treinador do Liverpool, que o orientou nos tempos em que Rose era defesa esquerdo do Mainz. Foram vários anos de trabalho juntos, com duas subidas de divisão pelo meio, que marcaram para sempre a carreira de Rose. Antes dos dois títulos de campeão austríaco, levou a equipa de juniores do RB Salzburgo à conquista da Youth League 2016-17..A equipa alemã perdeu no mercado de verão dois dos seus melhores jogadores - Thorgan Hazard, que rumou ao Dortmund por 25,5 milhões de euros, e Michaël Cuisance, que assinou pelo Bayern Munique a troco de 12 milhões. Mas nem isso impediu que o clube da região da Renânia do Norte-Vestfália entrasse com o pé direito na Bundesliga, depois de ter ido ao mercado reforçar o plantel com dois laterais - Stefan Lainer e Ramy Bensebaini - e dois avançados - Breel Embolo e Marcus Thuram -, que lhe permitem neste momento liderar o campeonato e estar ainda a lutar por um lugar nos 16-avos-de-final da Liga Europa..Em grande plano neste início de temporada está Marcus Thuram, 22 anos, filho do ex-jogador Lilian Thuram, campeão do mundo pela França em 1998, que leva oito golos em 17 jogos. Também Alassane Pléa, igualmente de nacionalidade francesa, tem estado em destaque, não só pelos golos (quatro) como pelas muitas assistências que tem feito..O plantel está avaliado em 270,5 milhões de euros (o jogador com mais valor de mercado é o central alemão Matthias Ginter, 35 milhões), muito longe dos 882 milhões do todo-poderoso Bayern Munique e mesmo dos 640,5 em que está avaliado o plantel do Dortmund. Mas para já, à 11.ª jornada, o Mönchengladbach é o líder da Bundesliga.."Começámos um projeto novo e a equipa está a dar boas indicações, os jogadores estão a assimilar bem as ideias do treinador. Está tudo a funcionar às mil maravilhas. É verdade. Agora olho mais vezes para a classificação", disse recentemente Max Eberl, diretor desportivo do clube.."As ideias básicas em que assenta o meu modelo de jogo são a emocionalidade, a fome e sermos ativos. Devemos recuperar rapidamente quando perdemos a posse de bola, com muitos sprints. Queremos roubar a bola à frente para o caminho até à baliza do adversário ser curto. Não jogamos de forma agressiva, mas devemos ser rápidos e dinâmicos a atacar. Quero que os adeptos se identifiquem com a nossa forma de jogar", resumiu o treinador.."Passei muitos anos com [Jürgen] Klopp. Aprendi muito sobre o futebol, mas sobretudo com a forma como ele sempre soube gerir o balneário. Talvez tenhamos coisas em comum, mas eu também tenho o meu estilo", assegurou Rose..Os gloriosos anos 1970.O Mönchengladbach foi fundado em agosto de 1900 e na década de 1970 foi uma das melhores equipas da Alemanha, conquistando cinco campeonatos (1969-70, 1970-71, 1974-75, 1975-76, 1976-77) e duas Taças UEFA (1974-75 e 1978-79) durante esse período..O G'ladbach não foi inicialmente escolhido para integrar a Bundesliga, em 1963. Sem grandes recursos financeiros para contratações, recorreu a caça-talentos para encontrar jovens valores. E foi assim que chegaram ao clube, em 1963, o médio ofensivo Günter Netzer e o avançado Jupp Heynckes, que viriam a tornar-se grandes estrelas do futebol germânico..O treinador Hennes Weisweiler foi contratado na temporada seguinte, formando uma equipa que sobressaía pela baixa média de idades dos jogadores - 21,5 anos. Em 1965, o clube subiu à Bundesliga e logo nos anos a seguir começou a marcar o seu espaço, com terceiros lugares nas edições do campeonato de 1968 e 1969..O primeiro título de campeão surgiu logo na temporada 1969-70 e nessa mesma década, com jogadores como Günter Netzer, Uli Stielike, Berti Vogts, Jupp Heynckes, Wolfgang Overath, Frank Schaffer, Horst Koppel e o dinamarquês Alan Simonsen, a equipa de Mönchengladbach somou mais quatro títulos de campeão - superando os três do todo-poderoso Bayern Munique nessa mesma altura -, numa primeira fase ainda treinada por Weisweiler e depois por Udo Latek..O Borussia reinou também na Europa, conquistando duas Taças UEFA. Em 1974-75 eliminou na final o Twente, da Holanda. E em 1978-79 voltou a erguer o troféu, depois de ultrapassar na final o Estrela Vermelha. Antes destes fabulosos anos 1970, a equipa registava apenas uma Taça da Alemanha em 1960. O clube esteve ainda em mais três finais, mas saiu derrotado - a Taça UEFA de 1972-73 diante do Liverpool; novamente 1979-80 com o Eintracht de Frankfurt; e na Taça dos Campeões Europeus de 1976-77, novamente perante o Liverpool. Ou seja, cinco finais europeias em apenas oito anos..A partir da década de 1980, mesmo com Jupp Heynckes como treinador, e com o jovem Lothar Mathaus a começar a afirmar-se, os dias de glória nunca mais voltaram, apesar de a equipa continuar a somar triunfos e bons resultados. Mas já sem conseguir lutar por títulos..Os anos 1990 trouxeram o declínio, sobretudo na parte final. Na época 1998-99, o Borussia caiu pela primeira vez para a II liga alemã, num campeonato para esquecer em que somou 21 derrotas, algumas bem pesadas: 8-2 com o Bayer Leverkusen e um 7-1 diante do Wolfsburgo. Nesta altura jogava no clube o guarda-redes alemão Robert Enke, que chegou a representar o Benfica e que há dez anos morreu na sequência de uma depressão. A equipa passou duas épocas no escalão secundário e regressou ao escalão maior em 2001. Voltaria a cair para a divisão secundária em 2006-07, mas regressou à Bundesliga na temporada logo a seguir..Agora, os velhos tempos parecem estar de volta. Mas o treinador Marc Rose recusa euforias. "Estar em primeiro lugar no campeonato alemão é uma espécie de bónus para o trabalho que temos vindo a desenvolver. Mas nas últimas semanas já vimos que a classificação muda muito, por isso é difícil dizer como realmente nos sentimos por estarmos na liderança. Mas para a nossa equipa o céu é o limite", disse recentemente.