Trégua acaba em banho de sangue na praça de Kiev

(COM VÍDEO EM DIRETO DE KIEV) O socorrista apressa-se a fazer uma massagem cardíaca a um jovem cujo rosto sem cor indicia que já está morto: ontem a polícia abriu fogo com balas reais contra os manifestantes na praça da Independência de Kiev. Atrás dele, um padre de sotaina preta segura o saco do soro para um ferido cujo ferimento ainda sangra e em torno do qual um enfermeiro se agita, a cortar-lhe as roupas. Com uma bandeira com a cruz vermelha à porta, o hotel Ukraina - o enorme edifício de arquitetura estalinista que domina a praça ocupada há quase três meses por milhares de opositores ao Presidente Viktor Ianukovich - está transformado em hospital de campanha.
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O sol acaba de se levantar quando os opositores, munidos de capacetes e armados de bastões, escalaram as próprias barricadas antes de se lançarem contra os polícias, que recuaram e abriram fogo. "Atingiram a cabeça e o coração, com balas reais e não balas de borracha", explica Natalia, socorrista, enquanto aponta para um colete à prova de bala ensanguentado, abandonado no chão, e ainda com marcas de impactos das balas que o atravessaram.

Diante do balcão de receção, há sete corpos no chão, cobertos por um lençol do qual espreitam os sapatos dos mortos. Poças de sangue cobrem o chão, apenas algumas horas depois da violência de quarta-feira que fizera 25 mortos e levara o Presidente a proclamar uma trégua. "Começou tudo às 8.00, quando os Berkout quiseram incendiar o conservatório de música", contou Andrii, do serviço de segurança da praça. Os Berkout, forças especiais anti-motim, com uniforme e insígnia própria, são odiados e temidos entre os manifestantes. O conservatório tem servido de refúgio a dezenas de manifestantes, que ali se alimentam e descansam.

"Tentámos afastá-los e eles abriram fogo sobre nós, disparam tiros de kalashnikov e de espingarda de sniper", garante Andrii. Os polícias recuaram algumas centenas de metros, abandonando o terreno que tinham conquistado na noite de terça para quarta-feira.

Na praça, a ira virou determinação, mobilizando ainda mais energias. Os homens formam uma cadeia humana para transportar os elementos de uma barricada que estão a construir na colina. No pódio no centro da praça, um homem lança um apelo à população para que traga medicamentos e produtos de primeiros socorros.

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Constituído por alguns milhares de manifestantes, o serviço de ordem da praça dispõe de um equipamento diversificado e impressionante: escudos em metal, capacetes diversos e coletes à prova de bala. Mas sobretudo conta com um conjunto de armas desde bastões a barras de ferro, martelos e arpões.

Divididos em pequenos grupos, numa estrutura de tipo paramilitar, os militantes lançaram o assalto contra os polícias, protegidos por escudos. Os jovens, próximos de movimentos radicais, das claques de futebol e da extrema-direita nacionalista constituem o grosso dos manifestantes. Mas também se encontram na praça da independência muitos cidadãos comuns, de todas as idades, como as jovens que ajudam a limpar as ruas ou as que distribuem cocktails molotov pelos manifestantes.

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