"Pareço o mesmo John de sempre? Bem, adoro quem me diz isso... Limito-me a fazer exercício, como razoavelmente e tento vestir-me bem. Não sei qual o meu segredo. Tenho uma boa vida e tento evitar as chatices." John Travolta parece rejuvenescido, apesar do cabelo implantado e com brancos. Está a promover o novo filme, Gotti - Um Verdadeiro Padrinho Americano, de Kevin Connolly. Um filme menor, como quase todos os que fez recentemente. Mas a verdade é que o entusiasmo do ícone parece estar ao nível de quando filmou Febre de Sábado à Noite, Grease - Brilhantina e Pulp Fiction. O dele e dos que com ele partilham o espaço, nem que seja numa conferência de imprensa, no hotel Carlton, em Cannes. Deve ser disso que se faz o brilho das estrelas. .Evitar chatices pode querer dizer não falar do novo filme? É que as críticas são mais que muitas. E negativas. Diz o ator: "Enfim, tento estar rodeado de pessoas que não tragam stresses desnecessários. Devemos mesmo evitar todos os stresses que não sejam fundamentais. Os stresses a sério conseguimos resolver, naqueles mais picuinhas é que temos de usar a nossa esperteza. Pergunto sempre ao pessoal que trabalha comigo porque estão a informar-me sobre este ou aquele problema e o que posso fazer em relação a isso. E, garanto-lhe, ninguém tem medo de vir com problemas para cima de mim. Claro que se me incomodarem a perguntar se o meu café está demasiado quente eu fico estranhamente afetado [risos]. Gosto de trabalhar com pessoas que, em vez de virem com problemas, tragam soluções.".O filme conta a história de John Gotti, o mafioso mais mediático dos anos 1980 e 1990 em Nova Iorque, um ítalo-americano que se tornou chefe da máfia nova-iorquina após ter começado do nada. O filme foi exibido numa sessão quase secreta oferecida pelo Festival de Cannes numa sala do Palais, e Travolta, que apostou muito neste papel em que envelhece e rejuvenesce muitos anos, também está ansioso por receber a imprensa "estrangeira", sobretudo depois da desaprovação doméstica e que originou uma onda de indignação da estrela contra o sistema da crítica americana. E, mais uma vez, Travolta é todo ele simpatia, todo ele sorriso aberto..Ao longo dos anos, Travolta tem-se caracterizado por ser afável para a imprensa. A sua sinceridade confunde-se com um ato de entretenimento. Faz o seu habitual: aperta-nos a mão com as duas mãos, num aperto de mão firme, sorriso permanente. Uma lenda americana pode ser um tipo acessível, afável. Fala da família, da cientologia - ainda que seja um pouco incomodativa a forma promocional como usa a polémica igreja, de que faz parte. Imposição de produtor ou mera teimosia, quem interpreta a mulher de Gotti é Kelly Preston, mulher de Travolta na vida real há décadas - são um dos casais mais estáveis de Hollywood, tendo já sobrevivido à morte de um filho..A dada altura, a carreira de Kelly parece ter ficado em segundo plano e só esporadicamente tem algum relevo quando trabalha ao lado do marido, como aconteceu em Terra - Campo de Batalha, de Roger Christian, e 2 Amas de Gravata, de Walt Becker. Travolta não se corta a falar do assunto: "O segredo do nosso casamento é, na essência, sabermos comunicar. É também muito importante a nossa fé na cientologia. Usamos de forma muito forte esses dois instrumentos e evitamos qualquer tipo de conflito. Na verdade, usamos ambos esses instrumentos - sabemos comunicar a praticar a cientologia. A cientologia dá-nos os mecanismos para comunicarmos como deve ser.".No filme, há um grande destaque ao momento em que o casal Gotti perde o filho num atropelamento acidental. Mas Travolta diz que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. "Quer eu quer a minha mulher somos muito bons a separar o mundo do cinema e o mundo real. Representar é apenas fingir, fazer de conta. Tenho um dom para não ficar afetado com esses efeitos colaterais.".O ator admite que não foi fácil ver Gotti ser produzido: "Foi um filme com muitos obstáculos, tal como a própria vida de John Gotti. Sete anos e quatro elencos e realizadores diferentes para ser feito. É um milagre estar aqui agora com este filme. Sempre soube que se o fizéssemos da melhor maneira iríamos conseguir levar a bom porto esta ideia. Insisti muito porque adoro papéis de composição. Perguntam-me se não é desconfortável estar a dar vida a um gangster e eu respondo sempre que não preciso de conforto, tenho é de estar confiante.".Numa altura em que a sua carreira precisa de mais uma reanimação, fica-se com a sensação de que Travolta quis transformar o chefe da família Gambino num ícone de cultura pop, sem falhar os "sacrifícios" do exercício do biopic: transformação física, muita maquilhagem e cabelo rapado para mostrar Gotti a lutar contra o cancro. O filme chega no ano em que Grease, de Randal Kleiser, celebra 40 anos, e o ator também não esquece o papel que o lançou como galã. Travolta diz que continua a ser um dos seus filmes preferidos: "É um filme que provoca pura alegria nas pessoas de todas as gerações. Não conheço outra obra de cinema tão intemporal. Mas também sou muito fã de Pulp Fiction, ainda que por outras razões. E, sim, adoro ser um meme na net com o Vincent. Na altura, nunca imaginei que seria ícone da cultura pop, nem quando fiz Grease ou O Cowboy da Noite - nunca esperei que esses filmes se transformassem em fenómenos."