Travar a Volkswagen e o recorde de Ogier: alguém consegue?
Hayden Paddon tinha um currículo normal - era filho de peixe (antigo piloto), começou pelos karts, aos 15 anos já corria ralis, com 18 passou pelo susto de capotar e ficar com o carro em chamas (foi ajudado por espectadores), e já homem feito sagrou-se campeão mundial de produção (2011). Nada fazia prever que fosse ele, um intruso neozelandês, a romper a monotonia que ameaçava tomar conta do mundial de ralis de 2016. Mas foi: venceu na Argentina e é o principal candidato a travar a hegemonia da Volkswagen e impedir o recorde de Sébastien Ogier (cinco vitórias), no Rali de Portugal, que começa amanhã, em Lousada.
A 50.ª edição do Rali de Portugal sai para a estrada - numa superespecial na pista de ralicrosse de Lousada (amanhã, 19.00, RTP2) - com os dominadores tradicionais como favoritos. Finlandeses (15 triunfos) e franceses (11) estão representados pelos homens da equipa de fábrica da Volkswagen: Jari-Matti Latvala, vencedor do ano passado, e Sébastien Ogier, que após os triunfos de 2010, 2011, 2013 e 2014 quer igualar o máximo histórico de Markku Alén (1975, 1977, 1978, 1981 e 1987).
Contudo, antes da prova portuguesa - que mais uma vez se fica pelo norte do País - uma lufada de ar fresco atingiu o campeonato mundial de ralis (WRC, na sigla inglesa): a vitória de Hayden Paddon na Argentina. O neozelandês, de 29 anos, deu à Hyundai o segundo triunfo de sempre (após o Rali de Alemanha de 2014) e quebrou a longa hegemonia da Volkswagen, que ia em 12 vitórias consecutivas e conquistas de 37 dos 42 ralis realizados desde o início da de 2013 - a maioria por Sébastien Ogier, tricampeão do mundo, após o abandono de Loeb).
Agora, Hayden Paddon - atual 2.º classificado do WRC, com 57 pontos (menos 39 do que Ogier) - assume a ambição com cautelas. "Na Argentina consegui um excelente resultado e gostaria de conseguir outro bom aqui. Mas tenho de ser realista e pensar que era ótimo terminar num lugar de pódio. Tenho a certeza de que será um grande desafio e sinto-me confiante", garantiu o neozelandês, citado pela organização. "Gosto do estilo das classificativas do rali. Espero que não chova...", acrescentou o homem do Hyundai New Generation i20, que no início do ano só era apontado como o terceiro piloto da marca sul-coreana (atrás do belga Thierry Neuville e do espanhol Dani Sordo).
Ainda assim, os Hyundai - como os Ford (liderados por Mads Ostberg e Eric Camilli) e os Citroën (com Kris Meeke e Stéphane Lefebvre) - não vão ter vida fácil para destronar a Volkswagen, que conquistou as três últimas edições do Rali de Portugal. "Este rali é muito especial para mim. Foi aqui que consegui a primeira vitória no WRC (2011), é a prova que ganhei maior número de vezes (quatro) e tenho recebido sempre um apoio extraordinário do público", afirmou Ogier, focado em "igualar o registo do grande Markku Alén".
O francês, que venceu as primeiras provas de 2016 (Mónaco e Suécia), não espera facilidades. "Vai ser muito difícil para mim, pois sou o primeiro na estrada. Há que aguardar para ver as condições atmosféricas. Era bom que chovesse... mas não creio que vá acontecer. O piso seco é mau para nós", explicou. À espreita, estará o colega de equipa, Jari-Matti Latvala, que ganhou no México e garante estar "com boas sensações". "Sempre gostei da prova portuguesa. O meu espírito é o mesmo [das provas anteriores] e espero poder repetir o triunfo de 2015", disse o finlandês.
Portugueses no fundo da lista
Com a discussão da vitória a ficar para Ogier, Latvala ou outro intruso, não é este ano que um português continua o legado de Carpinteiro Albino (vencedor da edição inaugural, 1967) ou Armindo Araújo (o último luso a ganhar a prova, em 2006). Há dez participantes nacionais entre os 111 registados mas oito estão no fundo da lista de inscritos, sujeitos a enfrentar um piso muito deteriorado pelas passagens dos da frente. E só Miguel Campos (Skoda Fabia R5) e Diogo Salvi (Ford Fiesta R5) vão participar na categoria intermédia - WRC2. Campos, o mais cotado, disse à Lusa estar "motivado e confiante" para ficar num lugar pontuável entre os WRC2.