Trafaria 'rouba' transporte de carros a Cacilhas
"É uma redução da oferta nas alternativas à Ponte 25 de Abril. O concelho de Almada é muito grande", desabafa Luísa Ramos, porta-voz da Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul (CUTMS), sem se conformar com uma alteração anunciada há quase um mês, mas que só no sábado (dia 26 de abril) entra em vigor. A opção visa descongestionar os centros urbanos e históricos das duas cidades e, defende o Grupo Transtejo, permite aumentar o "universo de potenciais clientes".
Em causa está uma distância de 11 quilómetros entre os terminais da Trafaria e de Cacilhas, ambos no concelho de Almada, e que, admite a própria transportadora, vai afetar sobretudo os residentes em Almada. "De acordo com esse estudo [de impacte da medida], e tal como era naturalmente esperado, tivemos conhecimento de que existem utilizadores do serviço da atual ligação que não acompanharão a transferência do serviço para a Trafaria, em especial aqueles que habitam em Almada Centro", reconhece, numa resposta enviada por "e-mail" ao DN, o Grupo Transtejo.
A empresa salienta, ainda assim, que as novas zonas abrangidas - Trafaria, Costa de Caparica, Caparica, Sobreda e Charneca de Caparica - "apresentam um mercado potencial de 6500 veículos", dos quais pode vir a ser possível captar, "ao dia útil, entre 0,5% e 2,5%". Feitas as contas, e na melhor dos hipóteses excluindo fins de semana e feriados, serão cerca 41 mil veículos anuais contra os atuais 27 mil. Na pior, serão à volta de oito mil por ano.
As estimativas, que consideram relevantes os acessos ao recente prolongamento da A33 - que liga o Monte da Caparica ao Montijo -, não tranquilizam Luísa Ramos. "Se eventualmente não houver a procura que a empresa espera, pode ser uma forma de permitir acabar com a ligação Trafaria-Porto Brandão-Belém", antevê ao DN a representante, antes de recordar que a eliminação do trajeto que até esta sexta-feira se destina apenas a peões chegou a ser equacionada no final de 2011.
A porta-voz ressalva, porém, que a CUTMS não se oporia à implementação do serviço se este fosse complementar ao que já existe. "Por que é que se retira de Cacilhas?", questiona, sem se mostrar convencidas pelas vantagens operacionais invocadas pelo Grupo Transtejo. "É tudo feito aos soluços", desvaloriza, frisando que Belém é muito menos central que o Cais do Sodré, localizado às portas da Baixa de Lisboa, e que o percurso entre as duas margens passará a durar mais.
O maior número de carreiras disponíveis, a existência de barcos mais modernos com capacidade para transportar 360 passageiros, 30 automóveis e 30 bicicletas são os benefícios referidos pela empresa. A partir deste sábado, quer a ligação Cacilhas-Cais do Sodré quer o trajeto Trafaria-Porto Brandão-Belém têm novos horários, disponíveis para consulta em www.transtejo.pt.