O presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, alegou ontem que houve uma "tentativa de golpe" por detrás dos protestos violentos da semana passada no Cazaquistão. Escolhido a dedo em 2019 por Nursultan Nazarbayev para lhe suceder à frente dos destinos do país, o veterano diplomata era visto como uma marioneta do antecessor, que após quase 30 anos no poder ainda mandaria a partir dos bastidores. Mas a reação determinada à violência dos últimos dias e o facto de ter afastado alguns aliados do ex-presidente - incluindo o próprio Nazarbayev do Conselho de Segurança Nacional - parecem mostrar que está pronto a sair da sombra do "pai da nação"..Tokayev, de 68 anos, alegou ontem que "militantes armados" aproveitaram os protestos que começaram por causa do aumento do preço do gás de petróleo liquefeito para tentar conquistar o poder. "O objetivo principal era óbvio: pôr em causa a ordem constitucional, destruir as instituições de governo e conquistar o poder. Foi uma tentativa de golpe de Estado", afirmou numa videoconferência com os líderes dos outros países da Organização do Tratado de Segurança Coletiva - a quem pediu ajuda militar para conter os protestos..Noutra conversa, com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, explicou que "combatentes estrangeiros" de países da Ásia Central, Afeganistão e Médio Oriente, "bem organizados", estiveram por detrás da violência. O objetivo seria criar "uma zona de caos controlado" de forma a agarrar o poder. Só não indicou quem teria interesse em agarrar esse poder..Contudo, no sábado, as autoridades prenderam por traição o ex-primeiro-ministro e até agora líder dos serviços de informação, Karim Masimov - um aliado de Nazarbayev. A meio da semana já tinha também demitido o primeiro-ministro, Askar Mamin, que herdara também do antecessor. Nazarbayev, que esteve no poder desde 1990 até 2019 e tem hoje 81 anos, não foi ainda visto em público desde o início da crise. E foi afastado do cargo do Conselho de Segurança Nacional que ainda ocupava..No domingo, o seu porta-voz escreveu no Twitter que o ex-presidente continuava no país - nas ruas houve gritos a pedir que o "velho" fosse embora -, rejeitando os rumores de que teria partido. Mais, que estava em "contacto direto" com Tokayev, a quem pedia que apoiassem. O Kremlin não confirmou se o presidente Vladimir Putin falou ou não com Nazarbayev..Segundo um opositor exilado, Akezhan Kazhegeldin, foram os aliados de Nazarbayev que pagaram aos "extremistas" para que houvesse violência nos protestos. "Almaty sempre foi a base do clã de Nazarbayev", disse à Euronews, alegando que o caos foi "orquestrado" e "liderado" por eles. Kazhegeldin foi primeiro-ministro de 1994 a 1997 e depois forçado ao exílio quando defendeu uma reforma do processo eleitoral. Noutra entrevista, à Reuters, disse que Tokayev tem que agir agora rapidamente para levar os responsáveis à justiça e fazer as reformas que a população exige, lembrando que os aliados de Nazarbayev têm dinheiro e podem voltar a tentar desestabilizar o país, se tiverem oportunidade..O desafio do veterano diplomata, que foi subsecretário-geral da ONU, é garantir o equilíbrio certo. Depois de ter recorrido a Moscovo para ajudar a travar a contestação em casa, mostrando aos aliados do ex-presidente que é ele e não Nazarbayev que está nas boas graças de Putin, tem também que garantir que em termos internacionais não deixa a balança cair para os russos - que alega que sairão rapidamente do país. Enquanto chefe da diplomacia, foi responsável por garantir boas relações também com os EUA e a China..susana.f.salvador@dn.pt
O presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, alegou ontem que houve uma "tentativa de golpe" por detrás dos protestos violentos da semana passada no Cazaquistão. Escolhido a dedo em 2019 por Nursultan Nazarbayev para lhe suceder à frente dos destinos do país, o veterano diplomata era visto como uma marioneta do antecessor, que após quase 30 anos no poder ainda mandaria a partir dos bastidores. Mas a reação determinada à violência dos últimos dias e o facto de ter afastado alguns aliados do ex-presidente - incluindo o próprio Nazarbayev do Conselho de Segurança Nacional - parecem mostrar que está pronto a sair da sombra do "pai da nação"..Tokayev, de 68 anos, alegou ontem que "militantes armados" aproveitaram os protestos que começaram por causa do aumento do preço do gás de petróleo liquefeito para tentar conquistar o poder. "O objetivo principal era óbvio: pôr em causa a ordem constitucional, destruir as instituições de governo e conquistar o poder. Foi uma tentativa de golpe de Estado", afirmou numa videoconferência com os líderes dos outros países da Organização do Tratado de Segurança Coletiva - a quem pediu ajuda militar para conter os protestos..Noutra conversa, com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, explicou que "combatentes estrangeiros" de países da Ásia Central, Afeganistão e Médio Oriente, "bem organizados", estiveram por detrás da violência. O objetivo seria criar "uma zona de caos controlado" de forma a agarrar o poder. Só não indicou quem teria interesse em agarrar esse poder..Contudo, no sábado, as autoridades prenderam por traição o ex-primeiro-ministro e até agora líder dos serviços de informação, Karim Masimov - um aliado de Nazarbayev. A meio da semana já tinha também demitido o primeiro-ministro, Askar Mamin, que herdara também do antecessor. Nazarbayev, que esteve no poder desde 1990 até 2019 e tem hoje 81 anos, não foi ainda visto em público desde o início da crise. E foi afastado do cargo do Conselho de Segurança Nacional que ainda ocupava..No domingo, o seu porta-voz escreveu no Twitter que o ex-presidente continuava no país - nas ruas houve gritos a pedir que o "velho" fosse embora -, rejeitando os rumores de que teria partido. Mais, que estava em "contacto direto" com Tokayev, a quem pedia que apoiassem. O Kremlin não confirmou se o presidente Vladimir Putin falou ou não com Nazarbayev..Segundo um opositor exilado, Akezhan Kazhegeldin, foram os aliados de Nazarbayev que pagaram aos "extremistas" para que houvesse violência nos protestos. "Almaty sempre foi a base do clã de Nazarbayev", disse à Euronews, alegando que o caos foi "orquestrado" e "liderado" por eles. Kazhegeldin foi primeiro-ministro de 1994 a 1997 e depois forçado ao exílio quando defendeu uma reforma do processo eleitoral. Noutra entrevista, à Reuters, disse que Tokayev tem que agir agora rapidamente para levar os responsáveis à justiça e fazer as reformas que a população exige, lembrando que os aliados de Nazarbayev têm dinheiro e podem voltar a tentar desestabilizar o país, se tiverem oportunidade..O desafio do veterano diplomata, que foi subsecretário-geral da ONU, é garantir o equilíbrio certo. Depois de ter recorrido a Moscovo para ajudar a travar a contestação em casa, mostrando aos aliados do ex-presidente que é ele e não Nazarbayev que está nas boas graças de Putin, tem também que garantir que em termos internacionais não deixa a balança cair para os russos - que alega que sairão rapidamente do país. Enquanto chefe da diplomacia, foi responsável por garantir boas relações também com os EUA e a China..susana.f.salvador@dn.pt