Um filme baseado num musical que se baseava num caso real, o de Jamie Campbell, adolescente que aos 16 anos se assumia como drag queen num baile da escola. Um caso que se tornou também documentário e bandeira de orgulho da comunidade LGBT inglesa. Todos Falam sobre o Jamie é também a estreia em cinema de Jonathan Butterell, um encenador e coreógrafo em alta no West End e na Broadway, precisamente um dos autores do espetáculo que conquistou os palcos de Londres. O resultado é um musical colorido e com muito sotaque de Sheffield. Os musicais continuam em alta e este tem coragem de ter um grande coração gay e uma mensagem romanticamente anti-homofóbica. O DN entrevistou numa chamada de vídeo o realizador desta aposta britânica que chegou a estar pensada para o grande ecrã..O que tornava o espectáculo musical num "agrada-multidões"? O que pode tornar este filme num caso de grande popularidade? É essa a pergunta mais difícil. Essencialmente, parece-me que atrai as pessoas por algo muito simples. A história de um jovem a trazer a sua alegria para o mundo! Em relação ao filme, espero que todos os espectadores possam sentir isso mesmo. Queria dar uma sensação que fosse a de um musical autêntico e imaginativo. Não quis fazer nada de único, apenas contar uma história real!.Mas qual o maior desafio de adaptar este musical para o cinema? Encontrei muitos desafios mas não tive problemas nenhuns. Não quero parecer presunçoso mas tive tanto prazer em fazer esta adaptação! O que o cinema te dá é uma sensação de escala e de grandiosidade, mas, ao mesmo tempo, pode ser ainda mais íntimo do que o teatro e mostrar o núcleo da alma de um ator. Com aquilo que agora os efeitos visuais permitem acabei por conseguir retratar a imaginação do Jamie sem limites! Da sua sala de aulas até a clubes noturnos e desfiles de moda, tudo foi possível....A história deste menino que quer ser drag queen tem pontos de contacto com a sua história? Muitos! Fiquei logo tocado quando vi o documentário sobre a coragem de Jamie Campbell em querer ir à festa de final do secundário vestido de mulher. Ele, quando decidiu ir dessa maneira vestido teve medo e pediu a documentaristas para registar aquele momento. Aos 15 anos a sua coragem foi tremenda e o facto de ter querido partilhar isso com o mundo é o que me deixou mais sensibilizado. Na idade dele, não tive ninguém que olhasse como um exemplo. Em termos de descrição de homens efeminados, o cinema sempre os tratou como vítimas ou como o alívio cómico. Sempre soube que não tinha de ser assim..Ficou frustrado quando percebeu que o filme iria essencialmente ser visto na Prime Video e não nos cinemas? Fiz este filme para o grande ecrã e para uma experiência coletiva, mas a verdade é que agora está a chegar ao mesmo tempo a 240 territórios diferentes. É um imenso poder ter toda a gente no mundo a ver o teu filme! Por um lado, estou muito agradecido com esse acesso fácil e imediato..Sem Billy Elliot este projeto poderia alguma vez ter nascido? Sim, claro que ajudou, mas como cineasta guiei-me por Kes, de Ken Loach, apesar desse menino não ser "queer", é apenas alguém da classe trabalhadora de uma comunidade da qual tenho um vasto conhecimento. Confesso, cresci com Kes. A maneira como esse menino encontra alegria na relação que tem com aquele pássaro marcou-me para a vida, quer como homem, quer como cineasta, mesmo sabendo que o tom nada tem a ver com este meu filme..Como irá a comunidade LGBT reagir a um filme que toca todos estes temas? Espero que perceba e tenha empatia com esta história. Quero que esta seja a história de um jovem herói efeminado, alguém que não tem vergonha de ser efeminado... Um filme que não esconde nada, o miúdo é mesmo gay do princípio ao fim e acaba por representar todos. Espero que o caso do Jamie possa ter um valor universal. Porque todos temos de encontrar a nossa alegria e saber levá-la para o mundo sem correr perigos por isso..dnot@dn.pt