"Todos crescemos como fãs de Bond, e por isso escrever A View to a Kill continua extraordinário para nós"
Os primeiros anos de sucesso dos Duran Duran, na década de 80, coincidiram com a era Margaret Thatcher. Hoje continuam a tocar, mas a Grã-Bretanha vive na era Boris Johnson. Isso afeta a música que fazem, passados 40 anos? É diferente a música que criavam da de agora?
Se é diferente tocar música hoje... não, não creio. Obviamente a forma como a música é vendida, isso sim, é muito diferente, chegamos à nossa audiência de uma forma muito diferente. Via internet, Spotify e por aí fora. Mas escrevemos muito da mesma maneira que antes, como grupo.
Mas a sociedade britânica é muito distinta dos anos 80 para hoje. Isso não se reflete no que escrevem, no que compõem? Sei que nunca tiveram uma atitude pública muito política, mas mesmo assim...
Sim, sempre fomos um grupo apolítico, e por isso a forma como a sociedade evoluiu nunca foi muito importante para a nossa forma de fazer música. Nunca fomos um grupo com intenções políticas, isso nunca fez parte da nossa agenda.
As vossas raízes estarem em Birmingham, o grupo ter nascido nessa que é a segunda maior cidade britânica, muito industrializada, é visível na vossa música?
É uma cidade de muitos grupos musicais. Alguns mesmo extraordinários. Recordo os Moody Blues, alguns dos membros dos Led Zeppelin também são de Birmingham, os Black Sabbath, os Judas Priest, Elo. Sempre foi uma grande cidade da música. E claro que quando crescemos sentimos tudo isto. No nosso início, a nossa dúvida era se conseguiríamos ir além de Birmingham, quando havia tantos grupos com um rock muito mais feliz do que o nosso.
Quando os Duran Duran surgiram, Birmingham já era tão multicultural como hoje, com grandes comunidades da Ásia do Sul, das Caraíbas e de África?
Sim, não só a cidade como a sociedade. Quando estávamos a crescer isso já acontecia e tivemos diferentes influências na nossa música. No Rum Runner, o bar onde começámos a tocar, havia todo o tipo de cultura. Era frequentado por uma mistura de malta negra, malta branca, gays, transgénero, quase uma antecipação daquilo em que a nossa sociedade viria a tornar-se. Temos isso nas nossas raízes. Foi incrível crescer naquele meio.
Fui um daqueles adolescentes que cresceu fascinado pela vossa música, pelos vossos vídeos. Muitos desses fãs, agora já com 50 anos, vieram ao Rock in Rio para vos ouvir e claramente dominam a audiência em termos de números. Têm conseguido conquistar novos públicos, novas gerações?
Sim, temos conseguido chegar a diferentes grupos etários. E isso tem a ver como a música é hoje consumida. Já não temos de ir a uma loja de discos ou ler um artigo numa revista de música, basta ir online e descobrir. E tem sido assim que malta mais jovem tem tido acesso à nossa música. E é muito bom para nós.
Rio é considerado por muitos como o primeiro grande êxito dos Duran Duran, mas A View to a Kill, de 1985, é icónico, até por ser tema de um 007. O que significou aquele convite para fazer a música de um filme de James Bond?
Foi uma das mais importantes músicas que escrevemos, porque todos crescemos como fãs do James Bond, e ir ver aqueles filmes era para os miúdos de Birmingham um escape. Assim, quando nos pediram para escrever a música para um filme daquela série de filmes icónicos, foi extraordinário para nós, e continua a ser.
É uma música que está sempre no vosso alinhamento nos concertos, como aqui no Rock in Rio?
Sim, é uma das músicas que sabemos ser sempre um sucesso. E neste Rock in Rio, mesmo antes de nós, atuam os A-ha, que também criaram um tema para um filme do 007. Que sorte para os fãs de Bond.
Diga-me o título de uma música vossa recente que acredite daqui a 40 anos estar também a ter o sucesso de, por exemplo, A View to a Kill?
Sinceramente, acho que daqui a 40 anos todas as nossas gravações vão continuar a ser ouvidas. Os nossos fãs continuam a gostar do que escrevemos.
leonidio.ferreira@dn.pt