Todos contra Susana Díaz, ou Susana Díaz contra todos na luta pelo poder na Andaluzia? O novo Parlamento andaluz entra em funções nesta quinta-feira num ambiente de guerra política aberta entre a ainda presidente da Junta da Andaluzia, todos os outros partidos que ajudaram à pior derrota em três décadas do PSOE andaluz nas eleições autonómicas de dia 2 e, claro, o líder do PSOE a nível nacional que, por acaso, é também o atual primeiro-ministro de Espanha..O Ciudadanos, que há três anos com o seu apoio viabilizou a permanência de Susana Díaz como presidente da Junta da Andaluzia, anunciou agora que chegou a acordo com o Partido Popular andaluz para um programa de governo com 90 medidas. "É mais do que previsível que eu seja o presidente da Junta", afirmou nesta quarta-feira o líder do PP andaluz, Juan Manuel Moreno, prevendo a sua tomada de posse já para o dia 16 de janeiro..Para isso, o PP conta com o apoio não só do Ciudadanos mas também do Vox, segundo fontes populares citadas pelos media espanhóis. Formação de extrema-direita, o Vox surpreendeu tudo e todos ao eleger 12 deputados. Juntos, os três partidos somam 59 deputados no Parlamento, ou seja, mais quatro do que a maioria absoluta de 55. Esperam ainda contar com o apoio da Adelante Andalucía, coligação que inclui partidos como o Podemos, que elegeu 17 deputados..Por isso, o líder do Ciudadanos na Andaluzia, Juan Marín, disse: "Queremos uma Mesa do Parlamento na qual estejam representadas todas as forças políticas, com voz e voto, havendo uma composição que corresponda àquilo que os cidadãos votaram no dia 2 de dezembro." A nível nacional, o partido centrista é liderado por Albert Rivera. A Mesa do Parlamento da Andaluzia é um órgão composto por um presidente, três vice-presidentes e três secretários..Perante esta aparente união, Susana Díaz, no poder desde setembro de 2013, continua a afirmar que o seu partido foi, apesar de tudo, o mais votado nas eleições autonómicas de dia 2 e que ela tem direito a tentar formar governo. "Evidentemente [que me vou apresentar]. Não vou fazer como [Mariano] Rajoy. Ou como [Inés] Arrimadas", declarou a líder dos socialistas andaluzes na sua entrevista de Natal à rádio Cadena Ser. Rajoy, ex-primeiro-ministro, não se apresentou ao debate de investidura após as legislativas espanholas de 2015 por não contar com apoios suficientes. O mesmo fez Arrimadas, líder do Ciudadanos na Catalunha, que venceu as autonómicas catalãs em 2017 mas foi arredada do poder por uma coligação de vários partidos independentistas que continuam até hoje no poder e a semear a confusão.."Apresentei-me às eleições para representar o povo de forma digna. Para que esse milhão de pessoas que votaram em nós sintam orgulho", declarou Díaz, cujo PSOE desceu de 47 para 33 deputados nas eleições de 2 de dezembro, conquistando cerca de um milhão de votos mas perdendo 400 mil eleitores em relação às autonómicas de 2015. Sobre se aceitará abandonar a vida política caso se veja relegada para o papel de líder da oposição na Andaluzia, afirmou: "Não há nada mais importante do que ser coerente com os cidadãos. O que vou dizer [a quem votou no PSOE]? Que se não me deixarem governar me vou embora? Isso seria uma falta de respeito.".Estas afirmações podem, uma vez mais, ser entendidas como uma resposta antecipada a Pedro Sánchez, líder nacional do PSOE e atual chefe do governo de Espanha que, segundo alguns próximos, quereria ver Díaz sair de cena. A verdade é que a disputa política entre os dois vem de longe. Ele considera-a a única responsável pela derrota de dia 2. Ela considera que a benevolência que tem demonstrado em relação aos independentistas catalães ajuda a explicar os maus resultados. Isto porque Sánchez, que chegou ao poder após ganhar uma moção de censura contra Rajoy, tem minoria no Parlamento espanhol e depende de uma série de partidos, entre os quais os independentistas catalães, para aprovar medidas. Sendo a mais urgente e importante a provação do Orçamento do Estado..Díaz, nas declarações que fez à Cadena Ser, também deixou uma mensagem a Rivera do Ciudadanos, uma vez que o partido não tem demonstrado grande coerência em relação aos parceiros com os quais forma alianças. Formação nascida na Catalunha contra a independência, a nível nacional já se ofereceu para pactuar tanto com Rajoy como com Sánchez, na Andaluzia viabilizou o governo de Díaz em 2015 e agora virou-se para o PP, Vox e afins. "O que vai fazer o senhor Rivera? Na sua ânsia de expulsar o PSOE vai dar a mão ao Vox? Vai dizer aos seus aliados da Aliança Liberal Europeia que já não representa o liberalismo europeu moderno, que na Andaluzia vai ligar o seu presente e o seu futuro aos mesmos que na Europa o vão ligar a Matteo Salvini e a Marine Le Pen", declarou, referindo-se aos líderes dos partidos de extrema-direita italiano Liga e francês União Nacional..A pressão do Vox sobre o Ciudadanos e o PP é patente. Já à partida. "Guerra civil quer o vosso Albert Rivera, que quer manter as leis do rancor na Andaluzia. E que se reúne com os amigos de Otegi [ex-porta-voz do Batasuna] em estações de comboio. Ou estão com a Liberdade ou estão com os Comunistas. Não há meio-termo", escreveu no Twitter o líder nacional do Vox, Santiago Abascal. O dirigente de extrema-direita não gostou de saber que em pleno dia de Natal o líder do Ciudadanos se reuniu com responsáveis da Adelante Andalucía na estação de comboios de Jerez de la Frontera.."Preocupa-me que os que estão dispostos a governar na Andaluzia não saibam somar. A não ser que tenham feito pactos com o socialismo, algo que é provável porque nas suas medidas não incluem uma verdadeira mudança", escreveu na mesma rede social Santiago Abascal. Efetivamente, sublinha o El Mundo, o acordo de governo entre PP e Ciudadanos para governar a Andaluzia no lugar de Susana Díaz não inclui exigências do Vox. Entre as quais a supressão ou substituição da lei sobre a violência de género contra a mulher e a anulação das políticas a favor de lésbicas, gays, transexuais e bissexuais.