"Todo o meu percurso foi feito sem qualquer tipo de discriminação"
Embora a maior fatia da população seja constituída por mulheres, a verdade é que elas continuam a estar sub-representadas em muitos setores e profissões tradicionalmente vistas como masculinas. Não faltam exemplos e a área do direito é uma delas, conforme reconhece Marta Azevedo, atualmente diretora jurídica da Sonae MC. "Continua a ser um mundo muito dominado por homens e, se formos ver os partners das grandes sociedades de advogados, há claramente um grande desfasamento entre homens e mulheres", observa. Ainda assim, a profissional admite que este era um cenário ainda mais presente quando iniciou a carreira e que é "uma tendência que se tem esbatido" com o tempo.
"Nem se percebe esta pirâmide invertida quando, desde já há alguns anos, há muito mais mulheres licenciadas em Direito a sair das universidades e com médias mais altas", aponta. De facto, os números vertidos na base de dados da Pordata confirmam que existiam, em 2021, mais alunas inscritas (59,8%) em cursos de ensino superior nas áreas de Ciências Sociais, Comércio e Direito do que alunos. Contudo, e apesar de dizer existir ainda trabalho a fazer nesta matéria, Marta Azevedo considera ter estado sempre, a nível profissional, à margem da discriminação por género. "Nunca senti nenhum tipo de barreira por ser mulher. Todo o meu percurso foi feito sem qualquer tipo de discriminação", afirma.
Porém, a advogada admite que esta não seja uma realidade comum a todas as mulheres.
"Ainda há estudos que revelam que precisaríamos de mais de 100 anos para atingir a igualdade de género", refere, reforçando a importância de "capacitar as mulheres a atingirem lugares de topo". Foi, aliás, essa uma das razões que a levou a participar na primeira edição do projeto Promova, criado pela CIP com a Nova SBE, para a formação de líderes no feminino. "Este projeto está alicerçado em três grandes eixos: a capacitação e reforço de competências; o networking que nos permite conhecer grandes mulheres; e a consciencialização das organizações e da sociedade em geral para este tema", descreve. A nível individual, Marta Azevedo diz ter sido uma experiência "muito importante" que a deixou mais bem preparada para assumir o desafio lançado pela Sonae MC, em março, para assumir o cargo de diretora jurídica. O programa de desenvolvimento pessoal e profissional tem atualmente as inscrições abertas para a sua terceira edição.
Em casa, a especialista em Direito Laboral procura incutir valores de igualdade e respeito pelo outro aos seus três filhos, duas raparigas e um rapaz. "Falava muito com elas sobre o curso e elas não conseguiam perceber como é que dizia haver mais homens em lugares de topo quando na escola as meninas são as melhores alunas", recorda. Inverter a pirâmide no mercado de trabalho é, por isso, essencial e para isso será fundamental "mudar consciências e comportamentos" culturais. "Acredito bastante nesta juventude porque cresceu com outros ideais, com acesso a informação imediata, questionam-se sobre o porquê de as mulheres não terem o mesmo acesso", afirma.
A transformação cultural é, acredita, lenta, mas acabará por acontecer se todos contribuírem. Do ponto de vista das vantagens, além da garantia de igualdade de oportunidades, Marta Azevedo diz que ter "cada vez mais mulheres como juiz vai, claramente, influenciar a forma como determinadas temáticas são analisadas e abordadas" e que esta "riqueza" trazida pela diversidade é essencial para as empresas e para a sociedade.
O compromisso é assumido pela Sonae MC e trabalhado ano após ano, com os resultados e novas metas a serem publicamente anunciados pela empresa. No relatório sobre os números de 2020, verifica-se que as colaboradoras estavam em clara maioria (66%) nos cargos operacionais - facto explicado também por haver maior número de mulheres nas lojas de retalho que gere - e ainda em minoria nas posições de gestão (36%), apesar da evolução positiva face ao ano anterior. Ainda assim, atesta Marta Azevedo, que acumula as funções de diretora jurídica com as responsabilidades do departamento de relações laborais, "é uma empresa que tem uma estratégia clara para a diversidade e inclusão" nas suas várias vertentes - desde o género à deficiência, passando pela nacionalidade ou questões geracionais. "Não foi por acaso que a Sonae assumiu o compromisso de ter 40% de mulheres em cargos de liderança até 2023", sublinha.
Para garantir esse equilíbrio, a organização aposta em medidas de conciliação entre vida pessoal e profissional, no tempo concedido a pais e mães para cuidarem dos seus recém-nascidos, mas também na política de contratação. Neste campo, os números mostram que em 2020 houve uma distribuição de 44% de mulheres em cargos de gestão (em 2019, tinham sido apenas 26%) e 61% em posições operacionais. "O papel da mulher aqui é muito importante", conclui.
Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad