"Tivemos de ir ao inferno mas vamos voltar aos grandes palcos do futebol português"
O Clube de Futebol "Os Belenenses" garantiu este domingo a subida à Divisão de Honra da Associação de Futebol de Lisboa, a seis jornadas do final do campeonato distrital da I Divisão, série 2. Está assim cumprido, com distinção, o objetivo delineado pela direção presidida por Patrick Morais de Carvalho para esta época.
Depois da vitória diante por 7-0 com o Talaíde, os azuis do Restelo contabilizam 67 pontos, resultado de 22 vitórias, um empate e uma derrota, somando ainda 106 golos marcados e apenas onze sofridos. A direção do Belenenses, na sequência do litígio com a SAD, decidiu criar uma equipa para iniciar o seu percurso no último escalão dos distritais, com o objetivo de em cinco anos chegar ao futebol profissional.
Patrick Morais de Carvalho reconhece que dirigir o Belenenses nestas condições tem sido penoso e defende que Liga e Federação Portuguesa de Futebol deveriam reintegrar o clube nos escalões profissionais, sublinhando os "regimes especiais que têm permitido a vários clubes entrarem diretamente na II Liga".
Quanto à Belenenses SAD, a competir na I Liga, confessa que por vezes espreita os jogos na televisão, mas assegura que os resultados lhe são indiferentes. E garante que, depois de ter perdido a possibilidade de usar o símbolo do Belenenses, "essa equipa vai muito em breve deixar de ter permissão para usar o nome do clube".
Como analisa esta subida de divisão, conseguida de forma tão precoce?
Só cumprimos um quinto da tarefa, pois como é público, o objetivo assumido pelo Clube de Futebol "Os Belenenses" é ir subindo de divisão todos os anos e, em cinco anos, chegar aos campeonatos profissionais. Mas naturalmente que ficámos muito satisfeitos por termos garantido a subida. Quero no entanto lembrar que a época ainda não terminou e temos um segundo objetivo, que é sagrarmo-nos campeões de divisão.
Como tem sido esta época atípica e liderar um clube histórico do futebol português numa divisão distrital?
Foi o início de um caminho penoso. Infelizmente, tivemos de ir ao inferno, mas vamos voltar aos grandes palcos do futebol português, de onde nunca deveríamos ter saído, pois somos o quarto grande. É muito fácil ser presidente de um clube ou de uma SAD quando há dinheiro, mas quando as dificuldades são muitas e há dívidas para pagar, a história é diferente. Não escondo que tem sido uma época muito complicada.
Se o Belenenses conseguir concretizar a subida aos campeonatos profissionais no período de tempo estimado, o objetivo depois na II Liga também será passar para o escalão principal logo na primeira época?
A seu tempo se verá. Nos campeonatos distritais, o Belenenses tem a obrigação de subir sempre de divisão na primeira época, apesar do respeito que as outras equipas nos merecem. Depois, no Campeonato de Portugal, as dificuldades serão bem maiores, pois há 80 candidatos à subida, para apenas dois lugares. E neste escalão há clubes com grandes orçamentos que acabam por não conseguir subir à II Liga. Lembro que nas outras ocasiões em que o Belenenses esteve na II Liga, conseguiu logo na primeira temporada subir ao escalão principal e acredito que possa vir a acontecer de novo. Pela sua dimensão, história e número de adeptos, o Belenenses tem de estar na I Liga.
Tem sido notório o apoio dos adeptos. Estava à espera desta resposta?
Sim, já esperava, pois foram os sócios do Belenenses que escolheram seguir este caminho de honra e de verdade. Foram eles que optaram por disputar a última divisão distrital e estas decisões foram sempre tomadas em Assembleias Gerais muito concorridas. Fazendo uma pequena retrospetiva, em 2012, o Belenenses perdeu o controlo da SAD e durante um período de três anos houve uma convivência relativamente pacífica entre clube e SAD. Em 2015/16 assistiu-se a um divórcio enorme e os associados já não se sentiam representados por aquela equipa do Belenenses e afastaram-se.
Na sua opinião, é possível um clube ter sucesso desportivo em Portugal se não tiver a maioria da SAD?
Nem pensar nisso. Em Portugal temos um grande associativismo e não é possível um clube ter sucesso se os sócios não escolherem as pessoas que os representam. Ter entidades que não se sabe o que representam a tomar as decisões que deveriam caber a representantes eleitos pelos sócios acaba por nunca ter um bom resultado.
Na próxima época, o orçamento do Belenenses vai aumentar?
Não, vai ser exatamente igual ao desta época. Iremos prosseguir com a aposta na formação, com um plantel muito jovem. Esta época, a média de idades do plantel é de 19 anos e na próxima temporada será parecido. Com apenas dois ou três reforços, estaremos mais do que preparados para subir de divisão.
Tem expressado a opinião de que a FPF e a Liga deveriam reintegrar o Belenenses nos campeonatos profissionais. Por que razão?
O futebol português está cheio de regimes de especiais, de equipas que entraram diretamente nos campeonatos profissionais. Podemos ver o que se passou com as equipas B, por exemplo... É penoso o que está a acontecer ao Belenenses. Com todo o respeito que os nossos adversários no campeonato distrital nos merecem, a verdade é que os relvados não estão preparados para receber a nossa equipa e os estádios não reúnem as condições mínimas para acolher os nossos adeptos. Todos sabem que o lugar do Belenenses é na I Liga e se tivermos de chegar lá por este caminho penoso, assim faremos. Não queremos pedir nada, mas se já houve tantos regimes especiais no futebol português, não ficaria mal à FPF e à Liga criar mais um e reparar o mal que foi feito ao Belenenses.
Nesta época ficou apenas o amargo de boca da eliminação na Taça da Associação de Futebol de Lisboa? Isto porque só o vencedor conquista o acesso à Taça de Portugal da época seguinte...
Sim, sem dúvida que ficou esse amargo de boca, mas relembro que o Belenenses competiu com equipas de dois escalões acima, formadas por jogadores muito mais experientes. Não conseguimos, mas o grande objetivo, que era subir de divisão, foi alcançado.
Tem o objetivo de ser o presidente do Belenenses quando o clube regressar à I Liga?
Já sou presidente do Belenenses há cinco anos. Volto a dizer, é fácil ser presidente quando há dinheiro, mas quando não existe liquidez é muito mais difícil. É uma função muito desgastante e que rouba tempo à minha família, à minha atividade profissional e aos meus amigos. Não posso garantir que ainda serei o presidente do Belenenses quando esse dia chegar, mas uma coisa é certa: estarei sempre próximo e o clube estará sempre bem servido, pois há muitas pessoas com massa crítica para ocuparem o cargo de presidente.
Esta época tem visto os jogos da Belenenses SAD na I Liga?
Eu gosto muito de futebol e por isso vejo muitos jogos. Quando a equipa do Silas entra em campo, tento espreitar, embora por vezes não assista aos jogos na totalidade. Aliás, por vezes nem me lembro que essa equipa está a jogar e mais tarde é que fico a saber do resultado. Aliás, é-me indiferente se ganham, empatam ou perdem. Eles já nem jogam com o símbolo do Belenenses e muito em breve vão deixar de poder usar o nome do clube. Quero no entanto referir que gosto muito do Silas e acho que ele tem tudo para vir a fazer uma grande carreira como treinador.
Em alguns jogos desta época, as partidas do Clube Futebol Os Belenenses nos distritais tiveram mais público nas bancadas do que os desafios da Belenenses SAD na I Liga. Isso deu-lhe um gozo especial?
Quero sublinhar que a Liga tem-se prestado a um papel inacreditável. Em jogos com 100 ou 200 pessoas da Belenenses SAD no Estádio Nacional, a assistência no site da Liga é de três mil ou quatro mil pessoas. O que eu sei é que o Clube Futebol "Os Belenenses" tem assistências superiores a muitos clubes da I Liga. Mas o que merece mais destaque é a presença dos nossos adeptos nos jogos fora de casa, proporcionando um ambiente fantástico e fazendo relembrar o romantismo de antigamente. Quem ainda não teve oportunidade de sentir este ambiente, aconselho vivamente a fazê-lo.