Teve medo de aceitar ser Jean-Luc Godard neste filme, Le Redoutable?
Claro, muito medo. Imagine se isto fosse uma porcaria. O Michel Hazanavicius foi muito honesto. Disse-me que estava a escrever este filme e que estava a pensar em mim para o papel, mas para eu não ficar stressado. Queria apenas que soubesse que era a sua escolha. Achei que ele estava maluco e só depois de ele acabar de escrever o guião é que quis ler. Estava curioso. Quando o li fiquei zangado, pois gostei imenso, não queria ter gostado. Conhecia bem a história de Jean-Luc, mas esta parte da sua vida não. Não disse logo que sim, apenas lhe disse que achava o projeto interessante. Só mais tarde é que decidi mesmo fazer o filme.
O que um ator sente quando está a interpretar Godard e tem uma cena em que a personagem fala mal dos atores?
Este nosso Godard é baseado nas suas contradições. Essa é uma citação dele em O Soldado das Sombras [1963], foi uma ideia do Michel Hazanavicius, pois o Michel Subor era um ator incrível... Mas aqui em França ninguém tem orgulho em ser ator, não é nada prestigiante. Só em Itália é que os atores têm orgulho. Em França temos vergonha de dizer que somos atores. Para nós, é um trabalho vergonhoso, mas precisamos de o fazer... É ótimo podermos matar e amar no cinema, mas às vezes sentimo-nos mesmo estúpidos.
Em criança chegou a conhecer Jean-Luc Godard? Pergunto isto porque o seu pai é também um realizador que chegou a estar alinhado com a nova vaga...
Não, mas atenção, que o filme não é para ser um retrato do Godard, é apenas uma interpretação dele... O curioso é que era um homem que não se comportava para ser amado mas apenas para provocar. Estava pronto para a guerra. Acho que foi mesmo uma boa ideia trazer este filme para Cannes. Nós estamos prontos para lutar! Esta é uma comédia irónica e gentil, acima de tudo uma comédia... Foi ótimo ser eu o escolhido para ser esta versão de Godard, sobretudo porque não estou muito ligado ao seu espírito. O Hazanavicius só me dizia: vai em frente, vai em frente! Não era nada bom se eu fosse um fundamentalista Godard.
Em Cannes