Títulos
Duas longas reportagens - uma primeira, na semana passada, no jornal Público e, ontem, outra no semanário Expresso - abordaram o passado académico do primeiro-ministro José Sócrates. Tendo ele feito a licenciatura na Universidade Independente, o escândalo que esta vive chegava por si só para chamar a atenção para o assunto. Mas, evidentemente, a questão de fundo era saber se havia ou não irregularidades na obtenção do curso por parte de um político de relevo e, o que mais era, um primeiro-ministro.
Ambas as reportagens e tudo o mais avulso que saiu - nos jornais referidos e noutros - mostraram sobretudo nebulosas. Da primeira, provado só ficou que Sócrates não se podia intitular "engenheiro" mas, tão--só, "licenciado em Engenharia". Era necessário que, além da licenciatura tirada na Independente, ele passasse um exame na Ordem dos Engenheiros para poder ter o título profissional.
Pecadilho, pois, de Sócrates, que, aliás, fez retirar dos dados biográficos do site do Governo que era "engenheiro". Ficou "licenciado em Engenharia", como aliás sempre constou no site do seu partido, o PS. Realmente ferida ficou, mais uma vez, a titulocracia, a mania nacional de um país de doutores que ainda não aprendeu que em outros, mais cultos e com universidades mais prestigiadas, os primeiros- -ministros são Mr. Blair, quando não simplesmente Tony.
Na reportagem do Expresso, de ontem, soube-se essencialmente que José Sócrates concluiu o curso na Universidade Independente num do-mingo de 1996. À parte o facto de tal ter acontecido durante o Governo de António Guterres, que quis fechar tudo nos dias santos, nomeadamente os supermercados, não se vê que outro indício possa trazer essa efeméride.
Enfim, do conjunto das reportagens e notícias sobre Sócrates e a Univer-sidade Independente, de relevante ficou a balbúrdia da papelada naquela universidade. As balbúrdias de papeladas quando relatadas por quem tem acesso limitado a elas - e os jornalistas foram unânimes sobre os obstáculos que encontraram - só podem dar confusão. Fosse José Sócrates um simples engenheiro, podia borrifar-se para as suspeitas fruto dessa confusão. Mas, na verdade, mais importante que os títulos são as funções (o trabalho) e José Sócrates é um primeiro-ministro.
Por isso são avisados os conselhos dos secretários de Estado, que o DN revela na pág. 9. Sócrates devia mostrar - todinhos - os seus documentos académicos. Merecia, assim, o título de homem frontal. O que, diga-se, não precisa do aval de Ordem nenhuma.