Tiangong-1 será uma bola de fogo no céu e Portugal está na sua rota. O resto é incerteza
Algures entre a próxima madrugada e a noite de domingo - mais 16, menos 16 horas, segundo a agência espacial europeia ESA - , a estação espacial chinesa Tiangong-1, que muito apropriadamente significa "palácio celestial", vai reentrar na atmosfera da Terra. A incerteza sobre a região em que isso acontecerá, o seu momento exato, ou se no fim vão sobrar pedaços dela, é total. Certo é que a Páscoa vai ter um espetáculo celeste à altura, quando o "palácio espacial" chinês atravessar a grande velocidade a atmosfera terrestre, feito uma bola de fogo, nos seus minutos finais.
"Para quem estiver no local certo à hora certa, se o céu estiver limpo, vai ser espetacular", antecipa Holger Krag, que dirige o departamento de monitorização do lixo espacial da ESA, em Darmstadt, na Alemanha, e que coordena a missão de acompanhamento da reentrada na atmosfera da estação espacial chinesa. "Mesmo à luz do dia, vai ser visível e assemelhar-se-á a uma estrela cadente vagarosa, que a certa altura vai partir-se em várias, e é possível que se veja um rasto de fumo", adianta o especialista da ESA. Com 3% de probabilidades, segundo a ESA, de isso suceder em Portugal, quem sabe...
De forma cilíndrica e com a dimensão aproximada de um autocarro, com 10,4 metros de comprimento por 3, 4 de diâmetro, 7,5 toneladas, já sem o combustível, e dois painéis solares com três por sete metros cada, a Tiangong-1 fez história em setembro de 2011, ao tornando-se a primeira estação espacial da China na órbita terrestre.
Em junho do ano seguinte, a primeira missão tripulada, com três astronautas chineses (taikonautas), entre os quais uma mulher, atracou à Tiangong-1, para uma missão que durou 11 dias em órbita. Em junho de 2013, nova missão, que se prolongou, dessa vez, por 13 dias.
Desde então, a Tiangong-1 permaneceu vazia e em 21 março de 2016, as autoridades chinesas informaram as Nações Unidas de que tinham perdido o controlo sobre ela. Até aí, os propulsores da Tiangong-1 era regularmente despertados para elevar a sua altitude, de modo a mantê-la entre os 330 e os 400 quilómetros de altitude. Desde 2016 isso deixou de ser possível, pelo que a sua órbita veio decrescendo lentamente, como seria de esperar.
Em janeiro deste ano, a Tiangong-1 estava a uma altitude de 280 quilómetros e desde então já baixou para menos de 200 quilómetros, em relação à superfície do planeta. A sua queda precipitar-se-á quando atingir o limiar dos cem quilómetros de altitude, o que ocorrerá nas próximas 24 horas.
A partir daí tudo se precipitará em poucos minutos, com a estação a transformar-se numa bola de fogo, que depois se despedaçará em milhentos pedaços, muitos dos quais vão desintegrar-se. Entre 10 e 40% dos seus materiais poderão, no entanto, cair na Terra, podendo espalhar-se a grandes distâncias entre si, de mais de mil quilómetros. No entanto, as probabilidades de atingirem alguém, dizem os cálculos da ESA e de outros peritos, são de um em 10 milhões, ou mesmo mais.
Perto de de cem toneladas de materiais espaciais sem uso, como satélites desativados, painéis solares e outros, reentram todos os anos na atmosfera de forma incontrolada, em cerca de meia centena eventos deste tipo. Agora chegou a vez do primeiro "palácio celeste" da China, e promete ser um acontecimento.
O céu caiu-lhe, ao de leve, no ombro
Em 1979, a queda do Skylab, a antiga estação espacial dos Estados Unidos, foi um acontecimento. Alguns fragmentos caíram junto a uma cidade na Austrália, sem causar danos. Muitos outros objetos espaciais caem todos os anos, mas até hoje, só há um caso conhecido de uma pessoa atingida, de forma ligeira: Lottie Williams, nos Estados Unidos, a quem um pequeno fragmento de um tanque de combustível de um foguetão Delta II atingiu no ombro, em 1996.