Tiago Pinto: "A reação foi pegar em dinheiro e no passaporte para fugir"
Tiago Pinto, lateral-esquerdo português que atua nos turcos do Osmanlispor, na noite da tentativa de golpe de estado que provocou a morte de 265 pessoas, chegou a traçar planos de fuga. "Foi uma noite muito complicada, de terror. No início, quando ouvi os aviões, pensei que se tratasse de um exercício de rotina porque há várias bases aéreas por perto, mas, depois, quando vi os aviões largar bombas, tomei consciência da gravidade do que estava a acontecer. Estava num restaurante e, no imediato, peguei no carro e, com alguns amigos, fomos para minha casa, onde ficámos juntos. Foram momentos de medo, de muita adrenalina", explicou o filho de João Vieira Pinto em entrevista o jornal O JOGO.
"Depois de seguir para casa, não voltei a sair, mas houve muita confusão nas ruas, com tanques e aviões a bombardear algumas zonas da cidade e em casa ouvimos os tiros e as bombas, o prédio chegou a tremer e até nos atirámos para o chão porque pensámos que tinha sido mesmo ao lado. Foram momentos de grande tensão", continuou.
A família do jogador de 28 anos ainda está em Portugal e estava previsto juntarem-se ao português em agosto. "Ainda estão em Portugal, porque estou a terminar a pré-época. Só estava previsto virem no início de agosto. Agora, ainda não sei o que fazer em relação a isso. Tudo está ainda muito a quente, estou abalado e em baixo por tudo isto e ainda não pensei no futuro. Estou ainda a 'ressacar'".
A primeira reação do português foi fugir da capital turca, ou até mesmo do país e chegou a temer o pior. "Na altura, apenas me preocupei em tentar antecipar o desenvolvimento das coisas e pensar no que poderia fazer, caso a situação piorasse ainda mais. A reação foi pegar em dinheiro e no passaporte e estar pronto a uma eventual fuga. Pensei nos itinerários possíveis, sabendo que seria complicado sair do país se as coisas piorassem. Por um lado, teria a Síria, por outro poderia seguir por Istambul. Além disso, os países fronteiriços estavam em alerta máximo e fecharam as fronteiras. Temi pelo pior e, por isso, tive mesmo de pensar em todas as opções".
A tentativa de golpe de estado foi assunto falado no balneário da equipa no dia seguinte, mas o ambiente já está mais calmo. "Felizmente tudo está mais calmo, à tarde já fomos treinar com alguma naturalidade, embora ainda com relativa apreensão. Tudo está a retomar a normalidade possível, mesmo sem saber o que se passará daqui para a frente".
"É natural que todos falem sobre isso e que tentem amenizar a situação, mas estamos ainda todos em estado de choque porque aconteceu há algumas horas. Concentrámo-nos no campo às quatro da tarde e às seis da manhã ainda estávamos acordados devido aos bombardeamentos. Talvez amanhã [hoje] já possamos falar mais sobre o assunto, sobre consequências políticas e até sociais, mas agora ainda estamos em choque", acrescentou.
Tiago Pinto está incerto sobre o futuro na Turquia: "Ainda não pensei bem nisso, talvez a partir de amanhã [hoje] já comece a pensar nesse cenário. Por enquanto, estou ainda sem reação, sem saber o que dizer ou o que fazer. Isto é algo impensável na carreira de um jogador, estar no centro de uma tentativa de golpe de Estado e bombardeamentos, mas tenho de viver isto e continuar a olhar para o futuro", concluiu.