Às 1400 pessoas que já trabalham na Everis vão juntar-se mais 500 até 2022. A tecnológica está integrada na sexta maior empresa de serviços de tecnologias de informação do mundo, o Grupo NTT Data, e passa hoje a assumir a designação NTT Data Portugal. Foi adquirida pela multinacional japonesa NTT há sete anos e está em fase de crescimento e contratação. Tiago Barroso é o diretor-geral da empresa em Portugal, desde março de 2020. Liderou a operação em plena pandemia e prepara agora a fase seguinte: a companhia prevê "duplicar a operação de 3 mil milhões de euros para 6 mil milhões de euros na região onde Portugal está incluído (mercados da Europa e América Latina)", avança em entrevista ao DN..A Everis NTT Portugal tem como uma das suas apostas um investimento em 15 polos de conhecimento especializado. Que polos são esses e para que é que servem exatamente? Nós estamos numa fase de mudança, portanto vamos deixar de ser Everis e vamos passar a ser NTT Data em definitivo. Já somos NTT Data desde 2014, mas há agora um passo maior de rebranding e de integração. Há um plano de desenvolvimento de toda a companhia a nível global e, portanto, estamos neste momento a definir qual é o nosso papel nesse plano de investimento global 2022-25. E queremos ter um papel muito interventivo no grupo. Maior do que será a escala do país e, portanto, a única forma que entendemos para ter esse papel é capitalizar aquilo que denominamos por centros de excelência. Pequenos núcleos de pessoas muito especializadas em domínios tecnológicos ou que conjugam conhecimento tecnológico com conhecimento setorial e que possam prestar não só serviços de excelência para dentro daquilo que é a nossa organização em Portugal, mas também para o grupo. Do ponto de vista daquilo que é a realidade que nos trouxe a pandemia, com os novos modelos de trabalho, acreditamos no modelo híbrido, que conjuga o remoto com o presencial e isso abre, também, portas novas..Já vamos à descentralização e ao modelo. Queria perceber o que é que fazem estes 15 centros de conhecimentos especializados. Fazem exatamente o quê? Para que áreas? Para que setores? Temos um centro especializado, por exemplo, no desenvolvimento de soluções clínicas, que está em Braga, junto do Polo Universitário de Braga. Estamos a planear abrir um ligado aos temas da criatividade, mais no interior do país. Temos um outro, que anunciámos há poucos meses, de tecnologias Microsoft Cloud Azure que já está em marcha. Portanto, há aqui uma variedade imensa de espetro, de atuação destes centros de excelência, que depois podem ter, ou não, correspondência com aquilo que são os polos geográficos onde se inserem..Sei que a aposta da descentralização é grande, já falou aqui em dois ou três pontos, mas quer dizer que vão estar de norte a sul com estes 15 pontos, há uma área específica onde apostarão mais? Como é que vai ser disperso? Queremos abranger o país por completo procurando sinergias junto dos polos universitários..Já há parcerias, protocolos encetados com essas universidades? Já temos alguns protocolos e, a seu tempo, vamos anunciando aqueles que vamos fechando. Há muitas conversas em marcha..Muitas empresas costumam queixar-se da falta de talento quando se sai de grandes cidades como Lisboa e Porto e se vai mais para o interior. Além das parcerias com as universidades como é que pensam colmatar essa dificuldade eventual? Primeiro estamos a falar de uma escala grande, mas que é composta por muitas escalas pequenas. A esse nível estamos, automaticamente, a limitar esse problema. Por outro lado, aquilo que é esta nova realidade do trabalho remoto e do trabalho presencial em conjugação faz que existam muitas pessoas interessadas em ter uma vida fora dos grandes centros urbanos, aos quais se possam deslocar, depois, pontualmente. Parece-nos que há aqui uma janela de oportunidade de novas vidas, noutras geografias que não os grandes centros urbanos..A aposta da descentralização seria possível, ou seria igual, pré-pandemia? Ou foi a pandemia que acelerou também esta vossa estratégia? A pandemia não. Eu diria que foram as lições aprendidas com a pandemia que aceleraram essa estratégia. Nós já tínhamos políticas de teletrabalho antes da pandemia, mas, claramente, há aqui uma aceitação generalizada de que o trabalho remoto não é negativo. Nós também não acreditamos 100% em modelos remotos. Acreditamos em modelos híbridos que conjuguem as mais-valias dos dois domínios..Destaquedestaque"[Na NTT Data Portugal] temos a responsabilidade de contribuir com o nosso talento. Diria que essa é a nossa grande missão e mais-valia enquanto operação que faz parte deste grupo.".Fala em 15 polos. Quais são e onde? Já existe uma lista das 15 localidades definida? Ainda está em construção? O que é que nos pode adiantar? Está [a lista] em construção e à medida que forem sendo definidos vamos anunciando cada um deles..Falou-nos de Braga e também do interior mas não disse onde. Onde é que seria? Já temos um polo que está a ser começado, em Castelo Branco. A ideia, depois, é termos mais pelo país..Obviamente que a pergunta seguinte é: que investimento total é que está estimado neste vosso plano de desenvolvimento? Nós temos um plano de investimento que está dentro daquilo que é o plano 2022-25 que estava a referir há bocadinho e que abrange quatro pilares. Temos previstas, só no próximo ano, mais de 500 contratações no total, tanto para os polos como para aquilo que é a nossa estrutura central. Estamos a falar de investimento no que é a criação dessas estruturas deslocalizadas. Estamos a falar de investimento naquilo que é também um reforço das nossas políticas de desenvolvimento de talentos. Desde há bastante tempo que temos práticas internas, e em colaboração com universidades, de academias de upskilling ou de reskilling de talento para aquilo que são as tecnologias de informação. Portanto, também há aí uma linha de investimento significativa. E, por último, e não menos importante, a expansão daquilo que é o nosso laboratório digital, que está em funcionamento já há alguns anos, e que esteve virtualmente em funcionamento durante a pandemia, onde recebemos inúmeros clientes para experimentar tecnologias que podem solucionar algum problema de negócio, e queremos expandir esse laboratório digital. Abri-lo também aos estudantes e às universidades e ter aí também um foco de investimento acentuado..Em montante o investimento é de que valores? Qual é a expectativa? Enquanto companhia não divulgamos esses números. Posso dizer-lhe que a nível daquilo que é a estrutura da EMEAL da NTT Data, portanto Europa e América Latina onde estamos inseridos, temos um plano de duplicar o volume de negócios da companhia que hoje, nessa região, é de 3 mil milhões de euros e quer passar, até 2025, para 6 mil milhões de euros nesse conjunto geográfico..E que percentagem vai ser responsabilidade de Portugal? Portugal é um país pequenino. E tem uma dimensão de mercado pequenina. Mais do que responsabilidade do número, que será sempre pequeno nesse ecossistema, diria que temos a responsabilidade de contribuir com o nosso talento. Diria que essa é a nossa grande missão e a nossa mais-valia enquanto operação que faz parte deste grupo..Há pouco dizia que a Everis tem, também, a ambição de contagiar o grupo internacional NTT com alguma da sua irreverência, alguma da sua cultura. O que é que gostava que passasse para a multinacional nesta fase de transição? A cultura japonesa é muito diferente da nossa. A Everis, enquanto génesis da empresa que agora muda de marca para a NTT Data é uma empresa latina. Durante estes anos, que já somos NTT Data, desde 2014, tem existido aqui um conhecimento mútuo das duas culturas. Um respeito enorme por aquilo que são as diferenças existentes e há um reconhecimento muito grande do lado dos headquarters da NTT Data no Japão sobre o nosso modelo e a nossa filosofia de gestão de pessoas. Há 20 anos que colocamos as pessoas no centro, entendemos que cuidar das pessoas, dar-lhes espaço para elas se desenvolverem é a chave do nosso sucesso e, portanto, essa filosofia de colocar as pessoas no centro está, hoje em dia, disseminada por todo o mercado e isso deixa-nos muito satisfeitos, porque, de alguma maneira, fomos visionários há 20 anos. Essa visão e essa filosofia são aceites pelos headquarters e, mais do que aceites, até se procura alargar a outras operações. O facto tangível dessa aceitação é que o CEO da Everis vai passar a ser o CEO da NTT Data EMEAL..Falou em 500 novas contratações. Que perfil é que procura, numa fase em que tanta gente está à procura de emprego. Que perfil de pessoas procuram, em termos daquilo que são as hard e as soft skills? Somos uma empresa de tecnologias de informação. E o nosso negócio assenta na tecnologia, se bem que, do ponto de vista de oferta de serviços, acreditamos que hoje a conjugação do que é uma competência, uma expertise muito profunda do domínio tecnológico, tem de ser conjugada com conhecimento do negócio dos diferentes setores de atividade e, também, com uma perspetiva de design e criatividade. Entendemos que no conjunto destes três vértices está o valor diferencial da nossa oferta de serviço. Portanto procuramos pessoas nestas três dimensões. Com competência tecnológica, com conhecimento ou com propensão para virem a ter conhecimento sobre um determinado setor de atividade e também do domínio da criatividade e do design. Do ponto de vista prático do domínio da tecnologia há falta de pessoas em Portugal e em toda a Europa. Isso é evidente. E, portanto, há também aqui um alargar a outros domínios do conhecimento, na perspetiva dos recém-licenciados ou recém-mestrados, aos quais ministramos cursos de upskilling ou reskilling para aquilo que são as tecnologias de informação. E essa é outra perspetiva de recrutamento. Com a perspetiva de crescimento tão acentuada procuramos jovens talentos e também pessoas mais experimentadas que já estejam no mercado..Portanto, a preferência é por pessoas na área das tecnologias. Nesses cursos de reskilling e upskilling do que é que mais precisam os talentos que saem das universidades? Em que áreas são mais frágeis, chamar-lhe-ia assim, em que é preciso realmente haver uma formação específica para responder às necessidades do mercado? As pessoas que tiverem uma capacidade conceptual, abstração, de raciocínio lógico, têm toda a potencialidade para entrar neste mercado e deviam ter uma carreira de sucesso naquilo que é o domínio das tecnologias de informação. Obviamente é preciso ter vontade de aprender ao longo da vida profissional. Não é só o curso de entrada... é um trigger, não é o resultado final..Vi nas vossas intenções que querem dar apoio a vários setores da atividade económica, contribuindo até para a balança comercial do país. Que setores são esses? Onde é que esse impulsionar a partir da vossa companhia poderá ser feito? Hoje temos um espetro de presença no mercado abrangente. Trabalhamos setorialmente clientes de entidades financeiras, das áreas de seguros, energia, administração pública, saúde. A nossa missão é ajudar as organizações a evoluir e a terem um desenvolvimento assente na tecnologia. E é isso que podemos e queremos aportar às organizações..Qual foi o grande desafio durante a pandemia? Os ataques cibernéticos, a fraude? Para o nosso negócio o grande desafio e a grande fonte de sucesso foram as pessoas. Mantê-las motivadas elas já estão, mas mantê-las unidas, não as deixar desgastar em demasia. Porque foi um tempo de muito desgaste para todos. Essa foi a chave. Foi a maior dificuldade e a maior chave do nosso sucesso..Esse é o lado humano. E já percebi que as pessoas estão no centro das preocupações, mas do lado da tecnologia em si, do negócio propriamente dito, qual é que foi aqui o grande desafio? Enquanto prestadores de serviços, o que sentimos no início da pandemia foi um desacelerar do negócio, sobretudo nas áreas mais afetadas, no turismo, nos transportes. Mas rapidamente, diria que no verão de 2020, houve um retomar gradual da atividade e, depois disso, até um crescimento mais acentuado do que aquilo que seria expectável no início. Creio que isto se deveu à visão das organizações de que a transição para o digital é ainda mais importante, mais urgente e que o mercado das tecnologias da informação está em franco crescimento, está em aceleração. Isso, em certa medida, é um privilégio e também é preciso saber lidar com esse privilégio com alguma elevação. Mas, de facto, estamos num mercado que está em crescimento e em expansão..Falando em digitalização é inevitável falar no PRR, que tem um grande enfoque na sustentabilidade e na digitalização. Como é que poderá ser uma oportunidade para uma empresa com a vossa? Olhamos para o PRR como uma oportunidade de participarmos no desenvolvimento do país. Estamos em conversações com vários consórcios, mas a nossa visão é olhar para o PRR como uma oportunidade de trabalho, na qual podemos contribuir para o desenvolvimento do país. E achamos que temos capacidades e competências para participar nalguns..No fundo dar suporte a alguns dos vossos clientes que queiram, também, apresentar projetos ao PRR. E trabalhar em conjunto com eles nesse sentido..Já falou, também, do crescimento da companhia e desse período turbulento da pandemia que, apesar de tudo, depois surpreendeu. Estamos quase no final de 2021, já se pode quase fazer um balanço deste ano. E para o próximo? O que é que estima em termos de atividade? Como estava a dizer, do ponto de vista de crescimento estou seguro de que continuaremos a crescer. Temos o tema do talento, que é crítico na nossa atividade..Voltando ao crescimento, quando diz que deverá ser contínuo, estamos a falar de que percentagem? Em faturação, em volume de negócio? Nos últimos três exercícios fiscais, 2018, 2019 e 2020, mais do que duplicámos a companhia em Portugal. Portanto, estamos a falar de crescimentos a uma taxa muito, muito acentuada. Que queremos manter..Alguma nova área de aposta também no próximo ano? Qual é a meta para 2022? A meta para 2022 é, sobretudo, iniciarmos um papel muito relevante dentro daquilo que é o grupo, com os tais centros de competências de que estava a falar há pouco e que, depois, isso nos permita alavancar novos serviços em Portugal. É ter um papel mais preponderante no grupo, permitindo oferecer serviços ainda de maior qualidade e de excelência aos clientes em Portugal..Queria só voltar ao ponto dos recursos humanos, porque já falámos aqui de dois assuntos de grande atualidade. Um deles tem que ver com o teletrabalho - já disse que acredita no híbrido - e queria perguntar-lhe que modelo é que vem para o futuro. E o outro tema é precisamente a retenção de talentos - as áreas da tecnologia têm manifestado o seu sofrimento em reter talentos e a dificuldade que é, porque também a escalada dos salários tem sido muito grande. Como vê estes desafios para o próximo ano? Criámos o nosso modelo de trabalho que designamos de bi-flex. Acreditamos num modelo muito flexível, em que as pessoas podem estar em casa e tirar proveito de estar em trabalho remoto, podem interromper o dia para fazer uma caminhada, para correr, enfim. Mas, ao mesmo tempo, acreditamos muito que o trabalho presencial é fulcral para a cultura da empresa, para o desenvolvimento das pessoas. No nosso tipo de trabalho há muito ensinamento dos mais velhos para os mais jovens e isso é muito mais acelerado presencialmente e, portanto, há aqui vantagens de conseguir conjugar os dois modelos. Do ponto de vista da retenção, as pessoas movem-se por um salário, é inevitável, e nós teremos de acompanhar e estamos a acompanhar esse crescimento de salários. Mas as pessoas também se movem por outras coisas. Movem-se por terem um ambiente de trabalho equilibrado, acreditarem naquilo que é a cultura e os valores da companhia, verem reconhecido o seu trabalho, sentirem que podem desenvolver-se e serem felizes naquilo que fazem, serem entusiastas daquilo que fazem. Portanto diria que há um esforço do ponto de vista da remuneração, mas há um esforço, não menor, na relação com as pessoas..rosalia.amorim@dn.pt