'The Economist' diz que Portugal não terá retoma rápida, mas afasta cenário de crise bancária ou soberana
A retoma de Portugal em 2021 deverá ser lenta, mas o país corre riscos reduzidos de cair novamente numa crise bancária ou soberana graças à proteção do Banco Central Europeu (BCE) e dos apoios da União Europeia, diz a Economist Intelligence Unit (EIU).
"A atual crise de saúde pública vai conduzir a uma contração substancial do produto interno bruto [PIB] real de pelo menos 8% em 2020" e no ano que vem a economia portuguesa vai sentir o "impacto duradouro do coronavírus no turismo, um risco negativo que impedirá uma recuperação rápida", dizem os economistas no mais recente outlook (panorama) da unidade de investigação económica da conhecida revista The Economist.
Em todo o caso, apesar dos problemas estruturais da economia nacional, a EIU diz que "as medidas de política europeia irão limitar o risco de uma crise bancária ou soberana".
"Portugal está a ser afetado por uma recessão económica acentuada e as suas finanças públicas estão-se a deteriorar rapidamente. No entanto, o apoio do BCE está a manter os custos de financiamento em mínimos históricos", observam os mesmos peritos.
"O panorama político estável, à luz dos standards das economias do sul da Europa, serve de apoio ao rating", acrescentam.
Assim é desde agosto do ano passado, apesar de a agência de rating já ter tido duas oportunidades para mexer na nota da dívida nacional. Não o fez, deixou tudo na mesma em 17 de janeiro e em 17 de julho deste ano (as datas em que Portugal estava na lista para ser reavaliado).
No novo estudo, a Moody's refere que "economias como Grécia, Portugal ou Itália, em que as pequenas empresas representam uma grande parte do PIB e do emprego, vão sofrer uma destruição económica maior, dadas as almofadas mais baixas das empresas pequenas, alternativas de financiamento mais reduzidas e horizontes [de negócio] mais curtos".
"Os governos estão demasiado ocupados a gerir a pandemia para se preocuparem com os défices orçamentais, mas o aumento da dívida terá de ser eventualmente resolvido", refere a unidade de investigação.
"Quando a pandemia acabar, a austeridade não será uma opção credível. Os cortes na despesa exigem uma enorme quantidade de capital político" e "além disso, a pandemia mostrou que anos de subinvestimento nos serviços públicos (como saúde) têm consequências graves".
"Do lado da receita, é possível aumentar impostos, mas isso não será suficiente para reduzir de forma significativa os défices."
Os riscos de incumprimento soberano (bancarrota dos Estados e incapacidade de pagar aos credores) existem em teoria, mas a EIU aparentemente exclui Portugal do rol.
"O risco de incumprimento parece maior nalgumas economias mais fracas do sul da Europa, como Itália ou Espanha", mas "na pior das hipóteses, há poucas possibilidades de que o Banco Central Europeu venha a deixar cair esses países da zona do euro, sem vir em seu socorro", acreditam os peritos da The Economist.
Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo