Uma semana após o trágico e terrível terramoto que atingiu o meu país na Província de Al Haouz (a 70 km de Marraquexe), causando mais de 2900 mortos e mais de 5000 feridos, gostaria de começar por exprimir, em primeiro lugar, as minhas mais profundas condolências às famílias das vítimas e as minhas orações para que os feridos recuperem rapidamente..Imediatamente após este drama nacional, Sua Majestade o Rei Mohammed VI deu instruções para a mobilização total de todos os serviços do Estado (Exército, Proteção Civil, Polícia, Segurança Nacional, Administração do Território, Sistema de Saúde, etc.) para prestar socorro e assistência às vítimas e tomar todas as medidas necessárias para fazer face a esta terrível catástrofe..Foram mobilizados todos os meios para salvar vidas e prestar assistência urgente aos feridos nas zonas mais inacessíveis. Assim, desde as primeiras horas da manhã, foram mobilizados meios aéreos (helicópteros) e terrestres (veículos de engenharia civil) de grande envergadura para chegar às aldeias mais remotas nos picos das montanhas do Alto Atlas, recorrendo-se, por vezes, a meios mais tradicionais e rudimentares, como a utilização de cavalos ou mulas para levar os mantimentos aos sobreviventes nos locais mais inacessíveis, por via rodoviária ou aérea..A experiência adquirida ao longo das provações sofridas pelo Reino, no domínio das catástrofes naturais (nomeadamente os sismos de Agadir em 1960 e de Al Hoceima em 1994 e 2004, e a pandemia de covid-19), bem como as diversas intervenções das forças de proteção civil marroquinas no estrangeiro, permitiram uma intervenção eficaz em todas as zonas afetadas pelo sismo..Para além das grandes instituições acima mencionadas, o meu país possui também ONG e uma sociedade civil admiráveis pelo seu dinamismo e empenho. Tendo estado no local, em Marraquexe, no momento desta terrível tragédia, observei em primeira mão a solidariedade espontânea que se manifestou imediatamente, desde as primeiras horas do terramoto, em todas as cidades e regiões do Reino para apoiar os esforços do Estado, canalizando todo o tipo de ajuda para as zonas afetadas. No dia seguinte à tragédia, na cidade de Marraquexe, vi longas filas à porta de um centro de transfusão de sangue onde marroquinos e estrangeiros esperavam pacientemente durante horas para dar sangue. Vi também as associações a trabalhar na recolha e organização do envio de géneros alimentícios e de bens de primeira necessidade para as zonas sinistradas..Esta solidariedade não se limitou apenas aos marroquinos. Uma extraordinária demonstração de compaixão e solidariedade em todo o mundo veio confortar a nossa dor nesta dolorosa provação, com um número impressionante de países a oferecerem ajuda e assistência. A este respeito, gostaria de aproveitar esta oportunidade para reiterar, em nome do meu país, os seus agradecimentos às autoridades portuguesas e a todos os nossos amigos portugueses, por todas as expressões de solidariedade e simpatia que demonstraram ao Reino ao longo desta provação..Na gestão desta grave crise, Marrocos, consciente de que nenhum Estado no mundo pode fazer face sozinho a catástrofes naturais desta dimensão, optou por se apoiar inicialmente nas suas próprias capacidades, avaliar e identificar as suas necessidades prioritárias, antes de recorrer à ajuda dos Estados irmãos e amigos. Contrariamente aos clichés difundidos pelos meios de comunicação social de alguns países, esta escolha foi ditada pelo duplo imperativo de satisfazer as necessidades mais urgentes nesta fase, assegurando simultaneamente a eficácia e a eficiência das operações de socorro. A experiência demonstrou que uma multiplicidade de atores é muitas vezes ineficaz e, por vezes, até contraproducente..Penso que a solidariedade e a ajuda devem ser um processo a longo prazo. Marrocos precisará evidentemente de todos os seus amigos sinceros. As áreas de ajuda mútua no futuro são vastas, como o esforço de reconstrução, para o qual Sua Majestade o Rei lançou o programa de realojamento de emergência para as vítimas de catástrofes, na quinta-feira, dia 14 do corrente mês, e a assistência às categorias mais afetadas pelo terramoto. Este programa inclui também a preservação do património histórico e arquitetónico, incluindo - para dar apenas um exemplo - a Mesquita de Tinmel, berço da Dinastia dos Almohades, que data do século XII..Entretanto, o Reino, sob a liderança de Sua Majestade o Rei, acompanhado por todas as forças motrizes da nação marroquina, ultrapassará os efeitos desta tragédia, armando-se de dignidade e determinação..Embaixador de Marrocos