Teresa de Calcutá no panteão dos santos católicos

Papa Francisco destacou "incansável trabalhadora da misericórdia" e recordou luta da religiosa contra o aborto
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Chamou-lhe a "mãe dos pobres", um exemplo de misericórdia que ajudou a iluminar a vida dos que não tinham nada. O Papa Francisco canonizou ontem Teresa de Calcutá - dezanove anos depois da sua morte, a freira que já era apelidada de "santa das sarjetas" ascende ao panteão dos santos católicos.

"A sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece nos nossos dias como um testemunho da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres", declarou o Papa Francisco perante milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Apontando a religiosa como um exemplo de "amor gratuito a todos" - "sem distinção de língua, cultura, raça ou religião" - falou numa "incansável trabalhadora da misericórdia". E afirmando que Madre Teresa esteve sempre "à disposição de todos através do acolhimento e da defesa da vida humana, tanto a não nascida como a abandonada e descartada", Francisco Bergoglio fez questão de recordar a luta da freira de origem albanesa (naturalizada indiana) contra o aborto - de que era uma feroz opositora - lembrando que esta sempre dizia que "o não nascido é o mais pequeno, o mais débil, o mais pobre".

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Papa almoça com 1500 pobres

Na Praça de São Pedro estiveram ontem 70 cardeais, 400 bispos e 1700 sacerdotes, além de representantes oficiais de 15 países. E 1500 pessoas pobres ajudadas pelas missionárias da congregação e convidados pelo Papa a almoçar no Vaticano. De acordo com um comunicado da Esmolaria Apostólica - organismo de caridade do Papa - citado pela agência Ecclesia, os convidados "viajaram durante a noite em diversos autocarros para participar primeiro na canonização e depois no almoço" - à base de "pizza napolitana". "Os convidados são pobres e necessitados, sobretudo das casas das Irmãs de Madre Teresa [Missionárias da Caridade] e são provenientes de toda a Itália", sublinhava o documento.

Enorme aparato de segurança

Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) esteve na manhã de ontem na cerimónia de canonização. Ao DN descreve o cenário de uma multidão (muito acima das 100 mil pessoas apontadas pelas agências internacionais, garante), num ambiente de "enorme emoção e comunhão" em torno da figura da religiosa. E sublinha também o aparato de segurança que rodeou a santificação da beata: " Já vim ao Vaticano muitas vezes e nunca vi nada igual. Nem parecido."

No ano em que decorre o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Roma foi palco, neste fim de semana, de um encontro internacional de misericórdias, que levou a Roma uma comitiva portuguesa de cerca de 400 pessoas. Segundo Manuel Lemos, o Papa Francisco insistiu, também no encontro que decorreu no sábado, "na importância e valor da misericórdia" , não por palavras, mas por atos.

Calcutá celebra com missa

Em Calcutá, onde Madre Teresa viveu e fundou as Missionárias da Caridade, estava prevista ontem uma homilia. Segundo o que afirmou à agência espanhola Europa Press a atual Superiora das Missionárias da Caridade, Irmã Pierick Mary Prema, para ontem estava prevista a celebração de uma missa na casa da congregação. Num país de maioria hindu, o primeiro-ministro Narendra Modi afirmou que os indianos estão "orgulhosos" da canonização.

No ano passado o líder de um dos movimentos que suporta o governo tinha acusado Madre Teresa de ter como objetivo a conversão dos doentes ao cristianismo.

Esta foi apenas uma das críticas que, ao longo dos anos, foi sendo feita a Madre Teresa de Calcutá, que foi igualmente acusada de promover uma cultura do sofrimento e de não garantir cuidados médicos adequados àqueles que acolhia. As posições sobre o aborto, que fez questão de sublinhar no discurso de agradecimento do Nobel, em 1979, e sobre a contraceção, foram outros aspetos em que Madre Teresa esteve longe de ser uma figura consensual.

A Igreja católica conta atualmente mais de dez mil santos. Num processo de canonização mais rápido do que é habitual, a beatificação de Madre Teresa avançou logo em 2002, quando o Papa João Paulo II reconheceu como milagre a cura de uma mulher indiana que sofria de cancro do estômago - decisão que foi bastante contestada, até pelo facto de a mulher ter recebido tratamento médico. Depois foi a vez de o Papa Francisco aceitar como milagre a cura de um brasileiro de 43 anos, Marcilio Haddad Andrino, afetado por um tumor no cérebro, levando à canonização de Madre Teresa apenas 19 anos - que se cumprem hoje - após a sua morte.

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