Terá a Turquia capturado o líder do ISIS sem disparar um único tiro?

Turcos dizem ter detido Abu al-Hasan al-Hashimi al-Qurashi menos de três meses depois da morte do antecessor e dois meses após ter assumido oficialmente o cargo.
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A notícia surgiu num portal de informação turco, o OdaTV: o líder do Estado Islâmico (ISIS, na sigla em inglês), Abu al-Hasan al-Hashimi al-Qurashi, terá sido capturado em Istambul na semana passada, sem a polícia precisar de disparar um único tiro. A mesma fonte indica que o anúncio oficial será feito pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nos próximos dias. A confirmar-se, será mais um golpe para o ISIS, menos de três meses após a morte do anterior líder, num bombardeamento na Síria, e numa altura em que o califado é uma miragem mas ainda se mantém a ameaça de células adormecidas e dos chamados "lobos solitários" que podem atacar em qualquer lado.

Segundo o portal turco, depois de a polícia descobrir que o líder do ISIS estaria em Istambul, montou uma operação de vigilância que durou vários dias. A operação terá sido liderada pessoalmente pelo chefe da polícia local, Zafer Akta, tendo uma equipa de agentes antiterrorismo procedido à detenção. Al-Qurashi não teria oposto resistência, não tendo sido disparada uma arma, estando desde então a ser questionado pelos serviços de informação turcos. A notícia é assinada por Toygun Atilla que, segundo a agência EFE, é um conhecido jornalista com contactos importantes dentro da polícia.

A Bloomberg News, que cita oficiais seniores da Turquia, é mais contida, dizendo que os turcos capturaram um homem que acreditam ter liderado o grupo terrorista desde a morte do antecessor numa operação norte-americana no norte da Síria. Al-Qurashi, do qual nunca foi divulgada uma foto, foi nomeado oficialmente líder do ISIS a 10 de março, mais de um mês depois da morte de Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi (nome de guerra de Amir Mohammed Abdul Rahman al-Mawli al-Salbi). Este tinha sucedido em 2019 ao fundador do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi (que declarou o califado do grupo em junho de 2014) e tal como ele optou por suicidar-se, em vez de ser capturado pelos norte-americanos. O líder agora capturado seria irmão de Al-Baghdadi.

A Turquia, que no passado foi alvo de ataques terroristas do Estado Islâmico, foi acusada de permitir a existência de uma "zona segura" para o ISIS nas áreas que ocupa no norte da Síria. A acusação veio da parte das Forças Democráticas Sírias, que são aliadas dos EUA no combate ao ISIS, mas incluem principalmente combatentes curdos das Unidades de Proteção Popular (YPG, na sigla original) - que Ancara vê como terroristas. A Turquia lançou três ofensivas na Síria desde 2016, com o objetivo de derrotar o YPG, que considera parte do movimento separatista do PKK.

A última incursão foi em outubro de 2019, depois de os EUA declararem que tinham concluído a sua missão na Síria e que iriam retirar da zona de fronteira. Na altura, o então vice-presidente Mike Pence chegou a acordo com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para uma pausa nos combates, sendo que mais tarde o YPG procurou o apoio do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, e da Rússia, tendo sido negociado um cessar-fogo com Ancara.

Mas na última segunda-feira, Erdogan anunciou que irá lançar em breve uma nova operação no norte da Síria, com o objetivo de criar uma "zona de segurança" de 30 quilómetros ao longo da fronteira - para a qual encoraja o regresso do milhão de refugiados sírios que estão em território turco. "Reconhecemos as legítimas preocupações de segurança da Turquia na sua fronteira sul. Mas qualquer nova ofensiva irá minar ainda mais a estabilidade regional e pôr em risco as forças norte-americanas que estão na coligação contra o ISIS", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

O califado do Estado Islâmico foi derrotado no Iraque em 2017 e na Síria em 2019, mas o grupo terrorista não desapareceu totalmente, mantendo-se ativo através das células que tem espalhadas. Ainda na quarta-feira, reivindicou o ataque com bombas contra três miniautocarros na cidade afegã de Mazar-i-Sharif, que causaram a morte a dez pessoas.

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