Em Lisboa para as conferências Triângulo Estratégico, organizadas pelo Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL), a ex-capitã regente de San Marino explica que um Estado tão pequeno (61 km2) tem mais facilidade em controlar a economia. Mas Vanessa d"Ambrosio admite que também tem desvantagens, como tornar mais difícil desenvolver essa mesma economia. Aos 30 anos, confessa que quando chegou ao poder (tinha 29) foi muitas vezes tratada de forma paternalista pelos homens à sua volta..San Marino é a mais antiga república do mundo, o facto de nos últimos anos terem líderes jovens e mulheres explica em parte o sucesso do país?.Sim. O facto de sermos um Estado pequeno e termos uma comunidade forte ajuda. Depois dos anos 1980, houve mais mulheres a envolver-se na política. San Marino demorou mais do que outros países a dar o direito de voto às mulheres. Só aconteceu em finais dos anos 1950 - em 1958. E votámos pela primeira em 1963, creio. A primeira vez que mulheres foram eleitas para o Conselho Geral foi em 1974. Eram quatro. E em 1981 tivemos a primeira mulher capitã regente, Maria Lea Padini-Angelini e quebrámos o penúltimo baluarte dos homens. No ano passado, quebrámos o último, elegendo duas mulheres para o cargo ao mesmo tempo. A nossa sociedade melhorou e ajuda as mulheres a serem ativas e a envolver-se na administração do território. Por isso, território e comunidade são a chave..Pode explicar um pouco melhor o sistema de governo de San Marino?.Mudamos de líderes de seis em seis meses e são sempre duas pessoas. É uma lei que vem do século XIII. São duas pessoas porque no passado uma vinha da nobreza - dos mais ricos - e outra do povo. E cada uma delas controlava a outra. Seis meses porque o poder assim não ficava muito tempo nas mãos de uma pessoa. Assim garantimos que se mantinha a democracia..San Marino tem um dos PIB per capita mais altos do mundo, baixo desemprego, não tem dívida. Ser um microestado ajuda a manter a saúde da economia?.É mais fácil de controlar, mas também temos alguns problemas precisamente por sermos tão pequenos. O nosso setor público é muito pesado. Temos quatro mil funcionários públicos num país com 35 mil habitantes. É demasiado. Depois há o turismo e a indústria que também são setores fortes. Por sermos tão pequenos, é mais fácil controlar, mas é mais difícil desenvolver a economia. 90% das nossas exportações são para Itália e a nossa indústria tem dificuldade em explorar outros mercados..Estando rodeados pela Itália, como veem um governo de coligação entre o Movimento 5 Estrelas e a Liga?.É difícil fazer uma análise. Nunca vimos o Movimento 5 Estrelas a governar um país. Vimos a governar Roma, Turim. Estamos à espera para ver. Precisamos de uma ligação a Itália, por isso estamos à espera de saber quem vai liderar esse governo para depois podermos iniciar um diálogo, uma comunicação..Desde dezembro de 2016 que lidera a representação de San Marino no Conselho da Europa. Como é a relação com a União Europeia ?.Não fazemos parte da UE mas estamos a trabalhar para um acordo de associação, com Andorra e Mónaco. Apesar de não fazermos parte da UE, amamos a Europa. Acho que muitos cidadãos europeus não sentem ser uma oportunidade fazer parte da UE. Eu vejo em Itália, a perspetiva que têm é sempre de que a Europa lhes está a dizer para fazerem isto ou aquilo. Esquecem que é uma oportunidade para trabalharem, para viajarem, para viverem, para melhorarem, numa sociedade maior. A Europa é um objetivo. E para nós é uma grande oportunidade para alargarmos o nosso mercado. É importante..Houve um referendo em San Marino em 2013 em que a maioria disse querer aderir à UE, mas a fraca participação fez que não fosse vinculativo. A hipótese continua em cima da mesa?.Espero que sim. Há outros pequenos Estados que são membros. O Luxemburgo até é um dos fundadores. É possível. Mas temos de ir passo a passo. San Marino fica no meio de Itália e somos influenciados. O antieuropeísmo em Itália influencia San Marino. Mas temos a sorte de ser um Estado pequeno, onde é mais fácil explicar melhor o que queremos alcançar, qual o nosso objetivo..Formou-se com uma tese sobre a economia e a questão de género na Arábia Saudita. Como vê as recentes reformas no país, onde as mulheres poderão conduzir a partir de junho? .Provavelmente é uma campanha de marketing mas é importante. Porque temos de contextualizar. Não posso ter em conta o que se passa no munda árabe a partir da minha perspetiva. Para mim, algo normal como andar na rua para elas é muito mais difícil. É muito importante o que está a acontecer. Há boas tendências na economia e em termos de formação para as mulheres sauditas..Sendo mulher e muito jovem, sentiu que a olhavam de forma paternalista quando foi capitã regente?.Sempre. Sobretudo nos primeiros encontros que tive, sentia que me estavam a dizer "sim, sim" mas nem ouviam. Mas é preciso ser mais forte do que essas mentes. No ano passado, quando tivemos pela primeira vez duas mulheres, foi maravilhoso. Mas no nosso conselho, temos os conservadores que acharam terrível. É uma democracia, temos de lidar com várias opiniões..Vem de uma família política....Sim, o meu avô materno foi um dos fundadores do Partido Comunista em San Marino. Sempre falámos de política. Ao jantar falava-se sobre a família, sobre a comida, do que se passava a nível local, no país e sobre política.