Ter coragem para fazer o que é moral e politicamente correto
Há mais de 20 anos, António Guterres revoltava-se por a sua filha ser apontada no recreio da escola, de forma menos abonatória, por ser filha de um político.
Duas décadas depois, nada mudou neste domínio, antes pelo contrário. Ao Governo cabe fazer o que lhe compete: governar. À oposição, cabe apresentar propostas sólidas e politicamente fundamentadas que sejam alternativa ao rumo seguido pelo partido, ou partidos, no poder. No final de cada mandato, os eleitores julgam nas urnas as respetivas prestações.
Deveria ser assim, mas não é essa a realidade. No Portugal democrático do presente, onde deve haver claramente escrutínio máximo de quem seja escolhido para exercer funções públicas, não existem mais casos, nem piores, do que possam ter existido no passado. A qualidade das oposições é que se tem degradado continuamente, puxando de pseudo trunfos de casos e casinhos, tendo criado a moda de perseguir politicamente os adversários em vez de se apresentarem verdadeiras alternativas politicas.
Além desta estratégia ser um entrave permanente à governação, tem outras duas consequências extremamente perniciosas na opinião pública: a consequente degradação do papel dos sujeitos políticos e a cada vez menor atratividade da sociedade civil por estas funções essenciais para o nosso modelo sociopolítico, que se quer participativo e democrático.
Ao contrário da ideia que se vai instalando insidiosamente, são as boas razões que levam a maioria das pessoas à política, tantas vezes prejudicando a sua vida pessoal e profissional por decidirem dedicar-se durante determinado período das duas vidas a algo em que acreditam.
Com este clima de perseguição, a cada caso se dá mais um golpe na disponibilidade dos cidadãos para darem de si em prol do país que queremos alcançar, e essa reflexão cabe a todos os partidos, mas por maioria de razão aos partidos que sabem que poderão ser chamados a funções governativas.
Perante este clima, destaco a conduta do ex-ministro Pedro Nuno Santos que teve mais uma vez uma postura e decisão que está em vias de extinção: a coragem para fazer o que é moral e politicamente correto, assumindo uma responsabilidade que em bom rigor e factualmente, nem foi diretamente sua.
O País, a política, todos nós, precisamos de melhores exemplos como este, que põem acima de tudo a sua dignidade e hombridade.
Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso