Tenerife: quilos e quilos de plástico cobrem a areia de Playa Grande

"Não é preciso ir à Indonésia para encontrar grandes áreas cobertas de plástico" declara María Celma, fundadora de um movimento de limpeza marítima e autora de um vídeo que denuncia a situação.
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Milhares de talheres, garrafas e pratos de plástico flutuam pelos oceanos e pelos rios do mundo. Um estudo recente concluiu que o oceano Pacífico tem tanto plástico que consegue cobrir três vezes a superfície de França. Nos últimos dias, duas baleias foram encontradas mortas com quilos e quilos de plástico no estômago. Agora, um vídeo publicado nas redes sociais demonstra que as praias de Tenerife não escapam a este flagelo.

Um vídeo gravado no passado dia 24 e partilhado no Facebook mostra vários objetos de plástico a chegar à costa e a cobrir grande parte da areia da Playa Grande, em Tenerife. A gravação já foi condenada por centenas de pessoas. Juan Chacón apelidou o ser humano do "maior predador da Terra" e Carolina Navarro escreveu que "isto são as consequências dos nossos atos e as gerações futuras é que irão pagar".

O vídeo foi gravado pela fundadora de um movimento de limpeza marinha, o Océano Limpio Tenerife. María Celma diz que "não é preciso ir a uma praia da Indonésia para encontrar grandes áreas cobertas de plástico" e que pretende que o vídeo tenha impacto na atitude das pessoas e que estas fiquem "cientes do problema", citado pelo Verne.

Apesar de no dia da gravação ter havido mais plástico do que o habitual, María afirma que "em qualquer dia que se vá à praia se vai encontrar plástico", acrescentando que mesmo após uma limpeza a praia não fica completamente limpa, visto a sua equipa não conseguir apanhar todos os detritos. Cada pessoa que trabalha na equipa do Océano Limpio Tenerife costuma recolher "dois sacos de trinta quilos" em dia de limpeza.

A grande maioria dos resíduos recolhidos, segundo a fundadora, são minúsculos - pequenos fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros que ou foram criados assim ou se foram partindo por ação do oceano, o que complica o trabalho da equipa. Existem diversos objetos que não podem ser reciclados devido ao tamanho ou à composição. Os microplásticos impossibilitam a função da máquina de reciclagem que separa objetos, logo a única solução do grupo é deixar este tipo de plásticos "num saco perto do lixo".

Apesar de a Playa Grande ser o palco da sujidade neste vídeo, a fundadora afirma que existem várias praias em Tenerife muito mais sujas. "Todos os plásticos estão expostos na areia, na Playa Grande, mas existem praias rochosas que são muito mais sujas, mas tal só se percebe ao levantar pedras."

Um professor de Biologia e investigador do Grupo de Eco-fisiologia dos Organismos Marinhos da Universidade de Tenerife, May Gómez, declara que "os resíduos que chegam ao litoral podem passar anos no mar e percorrer milhares de quilómetros antes de ficarem presos nas praias".

"As ilhas Canárias são uma barreira natural contra a corrente do Golfo e o seu ramo descendente, a corrente das Canárias, por isso atuam como coletores de detritos marinhos encontrados no Atlântico Norte", explica o investigador. Neste mapa, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, pode-se ver a viagem dos objetos de plástico até às praias.

O Parlamento Europeu aprovou na semana passada uma nova lei que proibirá a venda de produtos de plástico de utilização única, como pratos, talheres, cotonetes e palhinhas, em toda a União Europeia a partir de 2021. O ministro do Ambiente anunciou no passado mês de janeiro pretender que Portugal esteja livre de todos os utensílios de plástico descartáveis dentro de dois anos. João Matos Fernandes diz que vai apresentar uma proposta "até ao final deste primeiro semestre" para que depois "o país tenha dois anos de adaptação para que isso se conclua".

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