Tempo de antena

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Ao fim de 448 dias de maioria absoluta, o PSD passou à frente do PS nas intenções de voto e a razão é precisamente aquilo que António Costa aponta como justificação para a ter conseguido, após duas eleições em que precisou de se suportar no populismo da extrema-esquerda para poder sentar-se em São Bento: o desejo de estabilidade dos portugueses. A verdade é que este governo, com o primeiro-ministro à cabeça - não é ele quem escolhe os seus executivos?; não é dele a responsabilidade dos projetos socialistas?; não é a ele que cabe atalhar e emendar os erros? -, tem sido o maior agente de instabilidade que o país alguma vez conheceu.

Ontem, o primeiro-ministro fechou um atarefado dia de presenças mediáticas com uma entrevista à RTP (a terceira em três semanas) em que gastou cada minuto a tentar convencer os que o ouviam que qualquer remédio era mais amargo do que ele. Comparou a pandemia ao populismo e acusou o PSD de não se demarcar dele. Queixou-se de ser criticado por fazer e por não fazer - apesar de saber que a crítica está no muito que piorou com as decisões do seu governo e no silêncio ensurdecedor que escolhe quando lhe é exigida ação. Disse que os portugueses "não estão nem aí" para os TAPgates e das demais vergonhas da atual governação porque isso não melhora as suas vidas. Garantiu até, imagine-se, que não respeitar os mandatos conferidos pelo povo é pôr em causa a democracia...

Sobre o país, os planos para sairmos da miséria, as queixas de professores, médicos, senhorios, reformados, estudantes e todos os que gritavam para serem ouvidos, silêncio absoluto.

Depois de tanto tempo a trabalhar a própria sobrevivência, Costa entrou em modo pânico, querendo fazer crer que é alvo de uma injusta campanha negativa. Mas por mais tempo de antena que os socialistas consigam açambarcar, entre espaços de comentário e entrevistas regulares, por mais especialistas em comunicação que o governo contrate para limpar o rasto de más decisões e comportamentos dos seus ministros, por mais quadros que ponham à porta para impedir de entrar a revolta que se agiganta na rua, por mais lama que deliberadamente espalhem, lançando suspeitas sobre partidos, empresas e pessoas, já não consegue convencer senão uns poucos fiéis incapazes de ver a óbvia nudez do rei. Sócrates também os tinha.

Os portugueses precisam de estabilidade, sim. Mas confrontados com a incompetência atual, naturalmente buscam alternativas - a amplitude da mudança procurada é diretamente proporcional à traição que os portugueses sentem ter sofrido por parte daqueles a quem deram a maioria absoluta há apenas um ano. Os que prometeram equilíbrio e libertaram o caos.

Portugal não está disposto a esperar. Quer uma via de fuga que o afaste de oito anos de governação à esquerda que resultaram na maior insatisfação e contestação social de sempre, um caminho que leve ao fim da impunidade e irresponsabilidade de quem hoje governa o país e apenas consegue introduzir mais areia na engrenagem.

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