"Empreitada urgente de Conservação do Templo Romano de Évora - Situações críticas". O cartaz que certifica a legalidade das obras que decorrem atualmente neste edifício não deixa margem para dúvidas sobre o que está em curso naquele que é um dos principais monumentos da cidade alentejana..Rodeado de andaimes e coberto de rede desde o início de setembro, enquanto decorre esta empreitada, o Templo Romano isola-se de Évora. É no estaleiro que começa a conversa com o arqueólogo da Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA). "Detetámos em junho que tinha havido um desprendimento de uma parte do capitel, e logo aí fizemos uma primeira análise com os meios disponíveis, pelo exterior do monumento", conta. "Demos conta que havia várias situações de risco", resume..Ato seguinte: pedir uma autorização especial à tutela, o ministério da Cultura, para acudir à situação. Foi concedida. "É uma intervenção de emergência. Teve de ser uma coisa mesmo de urgência com um valor que foi o possível encontrar", diz a diretora regional da Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira. São exatos 47 109,47 euros, que foram conseguidos em articulação com o gabinete do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes..À boleia desta intervenção, com duração de 120 dias, e aproveitando a estrutura de andaimes já montada, a DRCA está a estudar o Templo Romano como nunca é possível - muito perto. "Quisemos aproveitar, já que íamos montar uma estrutura desta dimensão, quase desproporcional em relação à obra que vamos fazer, para fazer um mapeamento das patologias do monumento", explica Ana Paula Amendoeira. "Não é um monumento que se consiga observar num crivo mais fino. Só quando temos uma estrutura destas montada". Isto é, cinco andares; o penúltimo, junto aos capitéis.."A intervenção serve para consolidar situações precárias e perceber as problemáticas para poder depois fazer um projeto direcionado às exigências", explica a conservadora italiana Paola Coghi, especialista em monumentos antigos da Nova Conservação, a empresa a que foi adjudicada a obra..Enquanto esperam resultados laboratoriais a amostras de líquenes retirados do templo, o trabalho é de mapeamento. A espanhola Isabela Valle, assinala numa folha, para memória futura, fissuras, destaques e o estado de cada uma das colunas do templo, agora numeradas. Doze estão completas (com base, fuste e capitel), duas perderam o capitel e uma só tem a base. "Na conservação, é muito importante tornar a linguagem unívoca", diz Paola Coghi, português com sotaque. Foi na número 9 que caiu o fragmento..O monumento, outrora conhecido como Templo de Diana (por se parecer a outro edifício do género em Mérida) e agora apenas chamado de Templo Romano ("é o que sabemos que está certo", diz Rafael Alfenim) é feito de pedras diferentes - mármore na base e capitel, granito no corpo esguio que é o fuste - que reagem de forma diferente à passagem do tempo. O granito, por exemplo, areniza..Ao mapeamento, segue-se a limpeza dos líquenes que cobrem o templo e que lhe dão os tons negro, verde e laranja. "Essa liquenização muito forte também nos impede de ver as patologias e o estado da pedra. Os líquenes só têm um coisa boa, é que testemunham o grau de qualidade da cidade", diz Ana Paula Amendoeira..A diretora regional está preparada para "as coisas más". "É naturalíssimo que haja patologias do edifício. No decorrer desta intervenção, de certeza que se vão descobrir situações que a gente agora não tem conhecimento". Detalha: "É uma estrutura com dois mil anos. Nunca teve obras de conservação". As únicas que conheceu foram aquelas que, no século XIX, devolveram o monumento "à pureza clássica". Teve panos de alvenaria entre colunas e, ao longo da sua história, vários usos, incluindo ser açougue. "O mapeamento permitirá fasear intervenções no tempo à medida que for possível".