Tempestade Stella adia visita de Merkel e deixa parada a costa leste
O inverno vinha tão ameno no Nordeste dos EUA que algumas lojas já tinham substituído as camisolas de lã pelos vestidos primaveris nas montras. Mas a tempestade Stella veio provar que se só faltam seis dias para o início da primavera, pode ainda ser cedo para os americanos a viver na costa leste arrumarem as botas e os casacos. Considerada já "a pior tempestade da temporada", esta resultou no cancelamento de 7800 voos, obrigando inclusive a adiar, de ontem para sexta-feira, a visita da chanceler alemã, Angela Merkel, ao presidente Donald Trump.
Durante a noite de segunda-feira para ontem, Stella atingiu a costa leste dos EUA, da Pensilvânia ao Maine, colocando 50 milhões de americanos sob alerta de nevão e deixando cidades como Nova Iorque, Filadélfia, Boston ou Washington quase paralisadas. Com as primeiras previsões a falarem em até 60 cm de neve em Nova Iorque, todas as escolas da cidade estavam ontem encerradas, tal como os tribunais e alguns museus como o Met. A Bolsa continuou a funcionar, mesmo se os corretores foram convidados a trabalhar a partir de casa.
Mas o grande receio dos especialistas era que ao final do dia de ontem Stella se transformasse numa "bomba" meteorológica. Um fenómeno que sucede quando uma massa de ar frio continental choca com temperaturas mais quentes à superfície do mar. O mesmo pode acontecer se uma massa de ar polar chocar com o ar quente vindo do Sul. O contraste de temperaturas provoca a tal tempestade "bombástica", fazendo os ventos aumentar drasticamente de intensidade e a precipitação, inclusive a queda de neve, atingir proporções perigosas.
Ao início da tarde, no entanto, as previsões pareciam menos dramáticas do que seria de esperar. Apesar de tudo, os governadores de Nova Iorque, New Jersey, Pensilvânia e Virgínia declararam o estado de emergência. Andrew Cuomo, o governador de Nova Iorque, anunciou que apesar de estarem a funcionar, mesmo se com horários de fim de semana, tanto o metro como os autocarros poderiam ser sujeitos a cortes ao longo do dia.
Em declarações à MSNBC, Cuomo renovou o apelo a todos os nova-iorquinos para ficarem em casa: "Não há motivos para andar na estrada." O resultado era uma cidade meio deserta. "É uma cidade fantasma", garantia à Reuters Ali Naji, de 33 anos, dono de uma loja de conveniência em Brooklyn, habitualmente bem mais movimentada. Em Manhattan, até a sede das Nações Unidas estava encerrada. Hoje as escolas já devem reabrir, mas o presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, deixou o alerta para a noite: as temperaturas negativas vão provocar gelo nas estradas, apesar do sal que a autarquia espalhou em 96% das vias da cidade. De Blasio sugeriu que evitem usar o carro e recorram antes aos transportes públicos.
Além da neve, também a queda de granizo e a formação de gelo devido ao vento forte e frio que se faz sentir preocupam as autoridades. E se na costa a neve pode não chegar a bater recordes - a tempestade Jonas em janeiro de 2016 fez cair 70 centímetros de neve em 24 horas em Central Park - no interior havia ontem 115 mil casas sem eletricidade e em cidades como Albany ou West Milford esperavam-se para hoje entre 50 e 75 centímetros de neve.
Além dos aeroportos de Nova Iorque - JFK, La Guardia e Newark -, também em Washington, Filadélfia e Boston o tráfego aéreo estava ontem fortemente condicionado, com voos cancelados e longos atrasos nos que conseguiam descolar. Nas zonas costeiras, as autoridades emitiram ainda alertas de inundações.
Cerejeiras em flor ameaçadas
A falta de visibilidade, o gelo e a neve levaram as autoridades a pedir cautela aos americanos. A começar pelo presidente Donald Trump que escreveu no Twitter - somente na sua conta oficial -: "A todos na costa leste, mantenham-se seguros e oiçam as autoridades, enquanto uma grande tempestade se aproxima".
Trump devia ter recebido ontem a chanceler alemã, Angela Merkel, na Casa Branca, mas o mau tempo obrigou a adiar o primeiro encontro entre os dois dirigentes para sexta-feira. Mas Merkel não foi a única líder mundial afetada pela tempestade Stella, também o primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, teve de encurtar uma visita a Boston e cancelar um discurso sobre as relações entre EUA e Irlanda na Biblioteca Presidencial John F. Kennedy.
Na capital federal, os funcionários do governo foram convidados a trabalhar a partir de casa, com algumas agências do executivo a abrir mais tarde ou a permanecerem fechadas. Numa altura em que muitos turistas se preparavam para uma visita a Washington para apreciar a beleza das cerejeiras em flor, a forte queda de neve ameaça estragar esta atração da capital.
Ontem ao final da tarde, os responsáveis americanos davam conta de pelo menos duas mortes que relacionaram com as más condições meteorológicas. Ambos os homens, um de 76 anos e o outro de 64, estavam a limpar neve - um deles com uma máquina e o outro com uma pá - quando foram vítimas de ataques cardíacos, disse à CNN a investigadora Jenni Penn, da polícia de Milwaukee.