Tempestade de críticas. Trump mostra gráfico adulterado do Dorian
Num vídeo da Casa Branca divulgado na quarta-feira Trump aponta para um gráfico meteorológico oficial datado de 29 de agosto que mostra os estados que poderiam ser atingidos no que o Centro Nacional de Furacões chama de "cone da incerteza".
Uma linha curva foi adicionada ao cone no gráfico para mostrar o risco de Dorian poder movimentar-se da Florida para o Alabama.
"Ia atingir não só a Florida, mas a Geórgia, poderia ter, ia em direção ao Golfo, era isso que nós, o que foi originalmente projetado...", diz Trump.
A projeção relativa ao furacão Dorian nunca apontou para o Golfo do México, onde o estado do Alabama tem uma linha costeira.
No fim de semana, Trump escreveu no Twitter que o Alabama era um dos estados que poderiam ser atingidos. "Além da Florida, a Carolina do Sul, a Carolina do Norte, Geórgia e Alabama deverão ser atingidos com (muito) mais força do que previsto."
O Serviço Meteorológico Nacional negou essa hipótese 20 minutos depois, também no Twitter. "O Alabama não verá nenhum impacto do Dorian. Nós repetimos, nenhum impacto do furacão Dorian será sentido em todo o Alabama. O sistema permanecerá muito longe do leste", avisou o Serviço Meteorológico Nacional no Alabama.
Quando os jornalistas mais tarde perguntaram a Trump se o gráfico tinha sido desenhado com uma caneta, o presidente declarou três vezes: "Eu não sei."
O meteorologista Al Roker juntou-se ao coro de críticas e lembrou as consequências legais para quem publique previsões meteorológicas falsificadas: a lei dos EUA estipula que quem o faça arrisca uma multa e/ou uma pena de prisão até 90 dias.
Em reação às críticas, o presidente dos EUA insistiu no Twitter: "Certos modelos sugeriram que o Alabama e a Geórgia seriam atingidos (...) O que eu disse foi correto! Todas as notícias falsas para denegrir!"
Donald Trump -- que cancelou a visita à Polónia para acompanhar de perto os acontecimentos relacionados com o Dorian -- havia multiplicado declarações sobre o furacão nos dias anteriores que mostravam falta de conhecimentos sobre o tema. "Não tenho a certeza de já ter ouvido falar sobre a categoria 5", disse no fim de semana. É o quarto furacão de categoria 5 na escala Saffir Simpson (o mais elevado) que atinge os Estados Unidos desde que Trump chegou à Casa Branca.
"Fico preocupado. Tenho pena do presidente e não é isto que se deve sentir da pessoa mais poderosa do país. Não sei se foi ele que sentiu a necessidade de alterar o mapa com um marcador, não sei se foi um assessor que acreditou que teria de fazê-lo para proteger o seu ego. Seja como for, é uma situação inacreditável", comentou o candidato democrata Pete Buttigieg.
O furacão Dorian avançou para a Carolina do Sul e Carolina do Norte, tendo voltado a ganhar força nas últimas horas e alcançado a categoria 3, com ventos até 217 quilómetros por hora.
A sua passagem pelas Bahamas causou 20 mortos e um rasto de destruição. Segundo as Nações Unidas, 70 mil pessoas precisavam de assistência imediata.