Temer escolhe amigo de Henrique Cardoso para Petrobras
"Foi orientação do presidente Michel Temer e eu sou taxativo nesse ponto: não haverá indicações políticas na Petrobras", disse Pedro Parente, o engenheiro de 63 anos anunciado como novo presidente da empresa estatal. O antigo ministro de Fernando Henrique Cardoso, que presidiu ao Brasil pelo Partido da Social Democracia Brasileira de 1995 a 2003, toma posse durante as investigações do escândalo do petrolão, que a tornou a empresa hoje mais endividada do mundo.
"Não aceitar indicações políticas vai facilitar muito a minha vida e a de todo o conselho de administração, porque se fosse esse o caso, e não será, elas não seriam aceites", continuou em cerimónia de apresentação ao lado do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB). O escândalo do petrolão nasceu da relação promíscua entre construtoras e quadros da Petrobras nomeados por partidos, essencialmente do Partido dos Trabalhadores (PT), dos presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, do Partido Progressista (PP) e do PMDB - estas duas últimas forças estão na coligação que suporta o presidente em exercício Michel Temer (PMDB).
"A mudança profissional não estava nos meus planos mas a convocação para reconstruir o país é muito difícil de recusar", disse Parente. "Estou consciente da minha responsabilidade e dos grandes desafios que temos pela frente", concluiu, a propósito das investigações da Operação Lava-Jato.
Desde 2002, quando abandonou o governo FHC, sigla pela qual é conhecido Fernando Henrique Cardoso, Parente trabalhou na iniciativa privada, como presidente do grupo de comunicação social RBS, da multinacional americana Bunge e da Prada Assessoria, empresa especializada na gestão de fortunas que detém com a sua terceira mulher, além de ser conselheiro de algumas das principais empresas do país, entre as quais a própria Petrobras. Mas antes trabalhou 32 anos no setor público, como uma espécie de "faz-tudo" de Cardoso, passando pelos ministérios das Finanças, do Planeamento, da Casa Civil e do "Apagão", task force criada para combater uma crise energética que afetou o governo de FHC, e sob as presidências de Collor de Mello e de José Sarney.
Parente substitui Aldemir Bendine, que em 14 meses tentou desenvolver uma estratégia de contenção de danos na Petrobras mas, ainda assim, acumulou prejuízo de nove mil milhões de euros. Para resolver a dívida de curto prazo de mais de 30 mil milhões de euros, a estatal tentou vender cerca de dez mil milhões em ativos, o que valeu a Bendine a alcunha de Vendine.
Taiguara dos Santos, sobrinho da primeira mulher de Lula, foi um dos alvos da Operação Janus, que investiga crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro entre a empresa Exergia, de que é um dos sócios, e a construtora Odebrecht, cujo presidente, Marcelo Odebrecht, está detido no âmbito da Lava-Jato. Em causa, supostas irregularidades na ampliação e modernização da hidroelétrica de Cambambe, em Angola, de 2012 a 2015.
São Paulo