Tapetes de flores aguardam a passagem do Santo Cristo
As horas que precedem a saída da procissão são de azáfama nos quatro quilómetros de percurso, com dezenas de pessoas a construir os tapetes, rodeadas de caixotes e sacas de flores, aparas de madeira coloridas e ramos verdes de criptoméria.
Num troço da Rua Guilherme Poças Falcão, Paula Moniz organiza hoje os vizinhos em torno de um tapete que faz questão de assegurar desde há cinco anos, quando se mudou para este local da cidade.
A criptoméria foi "picada" por uma pessoa conhecida e foi ela própria quem nos últimos dias tingiu com diversas cores mais de 30 quilos de "farelo" de madeira, recorrendo a anilina e água.
Antes, os tapetes eram feitos integralmente com flores e ramos naturais, mas começaram a ser cada vez maiores, ocupando todo o percurso da tradicional procissão de domingo do Santo Cristo.
A ilha de São Miguel "ficava sem flores", conta Paula Moniz, para explicar o recurso às aparas e "farelo" de madeira.
Além da criptoméria e de algumas flores, o tapete leva ainda hortelã, incenso e funcho, que hão de perfumar a rua quando forem pisados pelas pessoas que fizerem a procissão.
Na mesma rua, no troço que se segue, outro grupo de vizinhos alinha nos passeios 65 sacas de ramos de criptoméria e "quatrocentos e tal euros" de aparas de madeira coloridas, segundo Ernesto Melo Antunes.
Tal como o grupo de Paula Moniz, o tapete deste grupo faz-se com empenho, para ficar bonito, mas também em ambiente festivo, mobilizando "amigos, filhos, sobrinhos, primos".
Apesar de a maioria dos tapetes contarem com as aparas de madeira na composição, há, porém, quem continue a fazê-los exclusivamente com flores e plantas naturais.
É o caso de Carolina, na Rua do Peru, que vai com o pai apanhar o material necessário "nas matas" da ilha nos dias que antecedem a procissão.
O pai faz o tapete há 27 anos em frente da casa onde moram e este ano não foi exceção. Além da criptoméria, o desenho é feito com azálias e hortênsias, tudo apanhado em três dias.
A procissão do domingo do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se realiza desde 1700, é uma dos momentos altos da maior celebração religiosa dos Açores, mobilizando milhares de peregrinos.
Além dos privados, empresas, comerciantes e diversas entidades asseguram a cobertura de todo o percurso com tapetes de flores.
Varandas, janelas e montras são também enfeitadas com colchas e flores à passagem da imagem do Santo Cristo dos Milagres.
MP // ROC