TAP. Galamba demite adjunto que o acusa de querer omitir informação ao Parlamento

O folhetim em torno da comissão parlamentar de inquérito prossegue, imparável. Novos episódios envolvem queixas à PJ, agentes do SIS, acusações de violência física e até de roubo de um computador. Ministro na mira.
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Afinal quem está a mentir? O agora ex-adjunto do ministro João Galamba que o acusa de ter querido sonegar informação à comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP? Ou o ministro João Galamba que esta sexta-feira, em comunicado, negou "categoricamente qualquer acusação de que, por qualquer forma, tenha procurado condicionar ou omitir informação prestada à CPI da TAP"?

O panorama - dentro do Governo - face à CPI está cada vez mais confuso e o processo já envolve acusações ao referido ex-adjunto de Galamba, Frederico Pinheiro, de ter agredido fisicamente quatro colaboradoras do ministro (duas assessoras de imprensa, a chefe de gabinete e uma adjunta) e ainda de ter tentado roubar um computador portátil de trabalho (pertença do Estado). Tais acusações já terão sido motivo de queixa do ministro na PJ.

O caso relaciona-se com a famosa reunião "secreta" que no dia 17 de janeiro juntou, em vídeoconferência, a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, o adjunto do ministro Frederico Pinheiro e um deputado do PS na CPI, Carlos Pereira. A reunião antecedeu a participação de Christine Ourmières-Widener no dia seguinte numa comissão parlamentar para falar da demissão de Alexandra Reis da administração da empresa. Na CPI da TAP, depois, Christine Ourmières-Widener revelaria a existência dessa reunião mas assegurando que não visou condicionar o seu testemunho. "Foi mais um briefing do que uma reunião de estratégia (...). Não me lembro de qualquer combinação de perguntas", disse a agora ex-CEO da TAP. Quem dirigiu a reunião foi Frederico Pinheiro.

No passado quarta-feira, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, demitiu-o. Em causa estão as notas que Frederico Pinheiro tirou da tal "reunião secreta" e de uma outra, na véspera (16 de janeiro) que envolveu o próprio Galamba e a CEO da TAP, entre outras pessoas. Galamba demitiu o adjunto argumentando que este lhe negou "repetidamente" ter tomado essas notas, "o que poderia ter levado a uma resposta errada à CPI por parte do gabinete do ministro das Infraestruturas".

Frederico Pinheiro, porém, negou-o esta sexta-feira. Num comunicado a que o DN teve acesso, o agora ex-adjunto disse que em 5 de abril revelou ao ministro a existência dessas notas. E dizendo mais: nesses apontamento ficava "claro" que, naquela reunião de 17 de Janeiro, "tinham sido articuladas perguntas a serem efetuadas pelo grupo parlamentar do PS e tinham sido referidas as respostas e a estratégia comunicacional da CEO da TAP". Ou seja: a reunião "secreta" foi muito mais do que um simples briefing; foi uma reunião para treinar a (então) CEO da TAP para o que teria de dizer no dia seguinte no Parlamento.

Mas Frederico Pinheiro vai mais longe nesse comunicado. Afirma que a intenção inicial de Galamba era mesmo de não enviar à CPI as ditas notas. Só que teve de a rever porque o próprio Frederico Pinheiro lhe disse que, se fosse chamado à CPI, "seria obrigado a contradizer a informação". Quer dizer: deixou "claro" que "a decisão que tomaram de não revelar a existência das notas teria de ser revista". No passada quarta-feira João Galamba chegou a Lisboa vindo de Singapura e, assim que aterrou, telefonou a Frederico Pinheiro, exonerando-o. Ao fim do dia começou o caso de polícia.

Frederico Pinheiro foi ao seu gabinete do ministério buscar o seu portátil mas quatro colaboradoras de Galamba não o queriam deixar levá-lo. Criou-se uma situação muito tensa, envolvendo supostamente agressões, e Pinheiro terá tentado sair do ministério, com o portátil, partindo um vidro atirando-lhe a sua bicicleta elétrica. Saiu depois de chamar a PSP.

Segundo o Expresso e a SIC, a chefe de gabinete do Ministro terá, já ao final da tarde de quarta-feira, pedido ajuda ao Serviço de Informações de Segurança (SIS) que foi a casa de Frederico Pinheiro ao início de noite resgatar o computador e levá-lo para o CEGER (Centro de Gestão da Rede Informática do Governo).

Mais tarde,, segundo avançou o Expresso e o DN confirmou, Galamba denunciou à PJ a situação e esta polícia abriu um inquérito-crime - podem estar em causa vários crimes, desde furto, a violação de dever e funcionário ou violação de segredo de Estado.

Entretanto, durante a tarde desta sexta-feira a PJ foi buscar o computador ao CEGER para o sujeitar a perícias que podem detetar se foram extraídos documentos classificados ou copiados,

.Agora, a oposição quer ouvir na CPI o ex-adjunto - mais uma mina a explodir aos pés do Governo. António Costa manteve-se rigorosamente silencioso.

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