Há um ano, a ONU lançou a campanha #TakeCareBeforeYouShare para mitigar os efeitos nocivos das notícias falsas, também designadas por fake news. Esta campanha traça o seu percurso no projeto Verified que propõe uma mudança de comportamento social em que o uso da Internet e das redes sociais seja vivido de forma mais consciente e, acima de tudo, de acordo com o princípio de combate a desinformação..É importante refletir sobre o nosso tempo. Sobre a facilidade e velocidade alucinatória com que uma informação se propaga. A desinformação representa um vazio disfarçado de narrativas polissémicas e enviesadas que, no fim, constituem um enorme perigo para democracia. Depende de nós interromper esse vazio que, em rigor, é sobrepovoado com as nossas ideias e conceitos. Se não existir um combate consciente na comunicação de factos distorcidos e falseados, iremos assistir à falência de valores e princípios que nos conferem o direito à informação..As redes sociais são, como bem sabemos, um espaço onde cada vez mais a veracidade da informação vacila. E é também lá que somos confrontados com a evidência de que a desinformação se aproveita da democracia para se instalar no poder. A Internet é um paradigma disso: transformou-se num calvário da sobrevivência onde o falso e o verdadeiro são muitas vezes indiscerníveis..Aqui gravitamos..A génese de uma informação falsa poderá estar ligada a interesses económicos ou ideológicos. Simultaneamente, o PE (Parlamento Europeu), compreende a ameaça de ingerência estrangeira, como os ciberataques. Os objetivos da manipulação de informação e notícias falsas passam por criar divisão e gerar dúvida colocando em causa a confiança das pessoas nos governos e instituições. O circuito que vai desde os autores que de forma consciente e deliberada produzem uma informação falsa, até aos disseminadores ingénuos, é delirante e cria uma teia hipnótica que tem causado um enorme prejuízo público..Quem tem um conhecimento enciclopédico, consegue situar na história uma série de acontecimentos que incorreram invariavelmente e geraram repercussões trágicas. A II Guerra Mundial, por exemplo, em que Adolf Hitler controlava a informação que era propagada com o propósito de ocultar aos próprios cidadãos alemães e polacos a brutalidade que infligia aos judeus nos campos de concentração. A difamação da Rainha Maria Antonieta que culminou, mais tarde, na sua execução e os rumores espalhados nas ruas de Paris sobre a falência do estado que levaram à Revolução Francesa..Devemos questionar, nos dias de hoje, se não estará Putin a fazer o mesmo em relação à invasão e guerra na Ucrânia? A jornalista russa Marina Ovsiannikova leva-nos a presumir que sim, quando interrompeu o noticiário de um canal de televisão estatal russo a segurar um cartaz que dizia: "Não acreditem na propaganda. Estão a mentir-vos." E que leitura poderá ser feita quanto à proibição das redes sociais Instragram, Facebook e Twitter, na Rússia?.A revista The Atlantic descreve no seu artigo The Information War Isn"t Over Yet a campanha anti-Ucrânia, promovida pela Rússia, onde explica a intenção das notícias junto dos próprios cidadãos: de um lado, as informações que são transmitidas e, do outro, as informações que são bloqueadas ao público..Estamos perante duas guerras. A primeira, a ofensiva russa na Ucrânia, e, a segunda, a fabricação de informação falsa que é gerada em função da primeira..Os crescentes casos de desinformação formam uma constelação de motivos que levaram os eurodeputados a dedicar um olhar avaliativo sobre o fenómeno das notícias falsas e a preparar um regime de sanções para evitar que as plataformas de redes sociais sirvam de veículo à sua propagação..Neste sentido, impõe o Parlamento Europeu que sejam considerados oito aspetos fundamentais no combate à desinformação: 1) verificação de conteúdos, 2) verificação do órgão de comunicação, 3) verificação do autor, 4) verificação das fontes, 5) verificação das imagens, 6) pensar antes de partilhar, 7) questionar preconceitos e estereótipos pessoais, e 8) ajudar a identificar informações falsas..Estes princípios operativos constituem uma resposta coordenada dos Estados-Membros da UE e estabelecem uma relação com a informação que salvaguarda a democracia - e a liberdade..A rápida disseminação de informação falsa, inexata ou enganosa representa um dos maiores combates à escala mundial: depende de nós fazê-la parar..Pense antes de partilhar.. Head of Communication na Raposo Bernardo & Associados - Sociedade de Advogados