Tajani eleito presidente após acordo com liberais e conservadores

Só à quarta volta eurodeputados escolheram sucessor de Martin Schulz. Com Antonio Tajani, o PPE lidera agora todos os órgãos europeus.
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Abraços, muitos, aos companheiro do Partido Popular Europeu (PPE) junto ao bar dos eurodeputados e brindes com champanhe, a que se seguiu uma grande ovação no plenário em Estrasburgo. Assim foi recebido esta terça-feira o novo presidente do Parlamento Europeu (PE), o italiano Antonio Tajani, que dedicou a vitória às vítimas do terramoto em Amatrice.

Foi mesmo uma maratona de mais de dez horas. As negociações de bastidores em Estrasburgo não impediram que a eleição para a presidência do PE chegasse à quarta volta para a sucessão de Martin Schulz. A esta última ronda chegam os dois candidatos mais votados. Tajani, que conseguiu 351 votos, e o compatriota socialista Gianni Pittella, do S&D, grupo ao qual pertence o PS, que se ficou pelos 282.

Na corrida chegaram a estar sete candidatos, mas antes da primeira volta houve uma desistência. A do belga Guy Verhofstadt, líder do grupo dos liberais, que anunciou a retirada da candidatura e o apoio a Tajani. Nos bastidores tinha sido negociado um acordo entre o PPE e o grupo dos liberais (ALDE): Verhofstadt saia da corrida em troca de do Comité dos Presidentes das Comissões. No acordo celebrado, as duas forças políticas reconheciam que "a Europa está em crise" e que os "nacionalismos e populismos" estão a tentar destruí-la por dentro para fora. Os dois grupos diziam-se ainda empenhados na discussão do Brexit por forma a garantir a defesa dos interesses os europeus.

Entre a segunda e a terceira volta da votação, Verhofstadt respondeu ao governo britânico enquanto negociador entre o PE e o Reino Unido para o Brexit: "É uma ilusão pensar-se que se pode ter as vantagens do mercado único e ao mesmo tempo não ter as obrigações". O eurodeputado liberal estimou ainda um prazo de 14 a 15 meses para a saída do Reino Unido da UE.

"Se tivesse havido uma disputa entre Tajani e Verhofstadt, claramente que o primeiro se impunha, agora Pittella não cria tantos anticorpos como Verhofstadt", admitia ao DN o eurodeputado do PSD e vice-presidente do PPE Paulo Rangel. Mas os conservadores do ECR anunciaram o apoio a Tajani pouco tempo antes da última votação e deram-lhe a vitória.

O facto de Tajani fazer parte do partido Forza Italia fundado e liderado por Silvio Berlusconi não é considerado um handicap para o eurodeputado social-democrata. "Tajani foi sempre equilibrado e moderado, mais ligado à democracia-cristã e até foi visto como um interlocutor credível para o governo de Berlusconi", explicou Rangel. Para este, poderia ter jogado mais a desfavor do candidato do PPE o facto de ele ter sido o comissário da Indústria de Durão Barroso durante o escândalo das emissões dos carros da Volkswagen. "Houve muitas dúvidas quanto à responsabilidade da Comissão nessa matéria", lembrou.

Tajani, de 63 anos, foi eurodeputado durante 14 anos, ex-comissário europeu e foi também vice-presidente da Comissão Europeia.

As quatro voltas também se explicam pelo desentendimento entre os dois maiores grupos políticos europeus, PPE e o S&D, no sentido de apoiaram o mesmo candidato ao Parlamento Europeu. Apesar do socialista Martin Schulz ter sido o primeiro presidente do PE a cumprir dois mandatos de dois anos e meio, e eleito sempre à primeira volta, os socialistas decidiram apresentar um candidato, precisamente Gianni Pittella, 58 anos, médico e ex-deputado em Itália e membro do PE desde 1999, contra o do PPE. O que quebrou entendimento de cavalheiros que existia para a alternância no poder e ao mesmo tempo garantir o equilíbrio político entre os órgãos europeus.

Com a eleição de Tajani, o poder fica todo nas mãos do PPE que passa a liderar o Parlamento, a Comissão e o Conselho europeus.

"Houve claramente uma quebra na espécie de "acordo de regime" entre socialistas e o PPE, muitas vezes acompanhado pelos liberais, e que só poderá ser recuperado numa futura escolha para a presidência do Conselho Europeu, caso Donald Tusk, do PPE, não se recandidate ao cargo".

Em Estrasburgo. A jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu

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