SWIFT, o braço financeiro global que o Ocidente pode usar contra a Rússia

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu que a medida seja ativada. Mas o que é o SWIFT afinal?
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Uma exclusão do SWIFT, uma entidade muito discreta, mas importante na máquina das finanças internacionais, é uma das mais pesadas sanções que o Ocidente poderia implantar contra a Rússia pela invasão da Ucrânia.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu esta quinta-feira (24) que essa medida seja ativada, depois de as forças russas terem invadido o seu país, enquanto as potências ocidentais consideram impor sanções adicionais a Moscovo.

A Casa Branca recusou-se nas últimas semanas a excluir a possibilidade de barrar a Rússia do sistema internacional que os bancos usam para transferir dinheiro, uma medida que prejudicaria a capacidade da Rússia negociar com a maior parte do mundo.

Os líderes europeus devem discutir a medida, na sua reunião de emergência nesta quinta-feira, como uma sanção possível. Um funcionário da União Europeia, sob anonimato, disse a jornalistas que a medida provavelmente será mantida em reserva para uma futura ronda de sanções, caso a UE precise de aumentar o grau das punições contra a Rússia.

Fundada em 1973, a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, ou SWIFT, na verdade não lida com nenhuma transferência de fundos.

Mas o seu sistema de mensagens, desenvolvido na década de 1970 para substituir a dependência das máquinas Telex, fornece aos bancos meios de comunicação rápida, segura e barata.

A empresa, com sede na Bélgica, é na verdade uma cooperativa de bancos e proclama permanecer neutra.

Os bancos utilizam o sistema SWIFT para enviar mensagens padronizadas sobre transferências de valores entre si, transferências de valores para clientes e ordens de compra e venda de ativos.

Mais de 11.000 instituições financeiras em mais de 200 países usam o SWIFT, tornando-o a espinha dorsal do sistema internacional de transferências financeiras.

Mas o seu papel proeminente nas finanças também significou que a empresa teve que cooperar com as autoridades para evitar o financiamento do terrorismo.

De acordo com a associação nacional Rosswift, a Rússia é o segundo maior país depois dos Estados Unidos em termos de número de utilizadores, com cerca de 300 instituições financeiras russas pertencentes ao sistema.

Mais de metade das instituições financeiras da Rússia são membros da SWIFT.

A Rússia tem a sua própria infraestrutura financeira doméstica, incluindo o sistema SPFS para transferências bancárias e o sistema Mir para pagamentos com cartão, semelhante aos sistemas Visa e Mastercard.

Em novembro de 2019, a SWIFT "suspendeu" o acesso à sua rede por alguns bancos iranianos. A medida seguiu a imposição de sanções ao Irãp pelos Estados Unidos e ameaças do então secretário do Tesouro Steven Mnuchin de que a SWIFT seria alvo de sanções dos EUA se não cumprisse. O Irão já tinha sido desligado da rede SWIFT entre 2012 e 2016.

Taticamente, "as vantagens e desvantagens são discutíveis", disse à AFP Guntram Wolff, diretor do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas.

Em termos práticos, ser removido do SWIFT significa que os bancos russos não podem usá-lo para fazer ou receber pagamentos com instituições financeiras estrangeiras para transações comerciais.

"Operacionalmente, seria uma verdadeira dor de cabeça", disse Wolff, especialmente para os países europeus que têm um comércio considerável com a Rússia, que é o seu maior fornecedor de gás natural.

As nações ocidentais ameaçaram excluir a Rússia do SWIFT em 2014 após a anexação da Crimeia.
Mas excluir um país tão importante - a Rússia também é um grande exportador de petróleo - poderia estimular Moscovo a acelerar o desenvolvimento de um sistema de transferência alternativo, com a China, por exemplo.

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