"Sustentabilidade Ambiental no Setor da Saúde". O Papel dos Profissionais e das Instituições

Como podem os médicos contribuir para a sustentabilidade ambiental? Que políticas incentivam profissionais e utentes a reivindicarem menos pegada carbónica? Está a tutela a contribuir e a dar orientações para reduzir os gases com efeito de estufa? Foram questões como estas que fizeram o debate lançada pelo Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA) e Embaixada do Reino Unido, em Lisboa com o apoio da farmacêutica GSK.
Publicado a
Atualizado a

"Não é apenas o futuro que está em causa, é o nosso presente", começou por alertar Luís Campos, presidente do CPSA, justificando a visão macro que os países deviam adotar implementando práticas mais sustentáveis em todos os setores. No caso da saúde, o médico ressalvou o papel fundamental que os profissionais desempenham junto das populações e que, por essa razão, podem e devem ter na alteração de comportamentos em toda a sociedade.

À luz das estatísticas citadas pela organização da iniciativa que teve o DN e a TSF como parceiros de média, a produção global de saúde no mundo está a intensificar os níveis de doença no planeta devido à emissão de gases com efeito de estufa.

Nas intervenções ao longo da iniciativa ficou a certeza demonstrada por vários médicos especialistas que os doentes respiratórios já sentem diariamente as consequências do agravamento das condições climáticas. "Precisamos de momentos como este que promovam o diálogo interdisciplinar e abrangente", explicou Chris Sainty, o embaixador britânico, referindo-se aos oradores e à plateia (presencial e remota) profissionalmente muito diversificada.

Com participação remota e ainda que rápida, Maria Neira, diretora do Departamento de Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), pediu contributos de todos para o trabalho em desenvolvimento no ATACH (The Alliance for Transformative Action on Climate and Health), um instrumento que utiliza o poder coletivo dos Estados Membros da OMS para implementar sistemas de saúde sustentáveis ​​e resilientes às alterações climáticas integrando essas práticas nos planos nacionais, regionais e globais. "Precisamos de aprender uns com os outros e os bons exemplos de um lado devem ser seguidos por todos", disse a antiga vice-ministra da saúde de Espanha, nomeada uma das 100 maiores influenciadoras políticas em saúde e alterações climáticas. Dando exemplos de como é possível diminuir o impacto dos serviços de saúde, Maria Neira apontou de imediato a necessidade de existir eficiência energética nos hospitais e centros de saúde.

Médicos e parceiros da cadeia de produção da saúde disseram nesta iniciativa em que TSF e o DN foram parceiros de média que são necessárias novas orientações políticas e novas práticas organizacionais para conseguir ir mais além, em nome de um setor mais verde. Em Portugal, a saúde comparativamente à média global das emissões de gases com efeito de estufa está quatro décimas acima dos atuais 4,4%. Nesse valor surge o transporte de medicamentos, a produção de energia e os pequenos inaladores pressurizados usados por doentes com problemas respiratórios como os principais agentes poluidores.

Sobre a utilização dos inaladores, bombas, como muitos chamam aos dispositivos, Paula Rosa, especialista em pneumologia e coordenadora da Comissão de Trabalho de Doenças Ocupacionais e do Ambiente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia realçou as novas fórmulas menos agressivas para o ambiente, mas nem sempre do conhecimento dos médicos. "Há novos inaladores com menos efeito de estufa. A informação é essencial e se a literacia em saúde é importante para o cidadão comum, também nós, profissionais de saúde, temos de estar atentos e acompanhar a inovação".

A coordenadora do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da Direção Geral da Saúde (DGS) discordou de parte da afirmação. "Não cabe a cada médico, que mal tem tempo para observar o doente, estar a fazer esta ou aquela opção por terapêuticas mais sustentáveis. É aqui que entra a DGS na interlocução com o Infarmed e com outras estruturas como já aconteceu, por exemplo, com a prescrição sem papel que foi uma boa prática em nome da sustentabilidade ambiental. As escolhas devem ser ponderadas com informação sobre os malefícios e haver orientação especifica para os médicos", afirmou Cristina Barbara acreditando que "à semelhança do que acontece com o tabaco também certos inaladores menos verdes podem e devem ser taxados pelo nível de poluição que geram". Neste contexto, a médica mostrou-se ainda preocupada com o desperdício que vê abundantemente na indústria farmacêutica com os dispositivos plásticos fornecidos em cada embalagem, mesmo tratando-se de terapêuticas de recarga.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt