A presidente do Parlamento catalão, Laura Borràs, foi suspensa destas funções e do cargo de deputada, depois de um tribunal decidir que deve responder na justiça por suspeitas de corrupção. A suspensão da também líder do Junts per Catalunya foi aprovada pela Mesa do Parlamento, com o único voto negativo a ser o da outra deputada do seu partido, levando Borràs a tecer acesas críticas aos partidos independentistas - incluindo à Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), parceira do Junts no governo de coligação de Pere Aragonès.."A minha suspensão só beneficia os que apostaram numa guerra suja e torna cúmplices os que a executaram de forma gratuita e desnecessária", disse Borràs, que foi cabeça de lista nas eleições de fevereiro de 2021 e tornou-se presidente do Parlamento em março. O acordo para o governo de coligação só ficou concluído em maio..A líder do Junts - do ex-presidente Carles Puigdemont (exilado na Bélgica) - nega os crimes e acusa os deputados que votaram contra ela (dois da ERC, dois socialistas catalães e um da Candidatura de Unidade Popular) de terem vestido a pele de juízes e violarem o direito à sua presunção de inocência..As acusações na justiça contra Borràs não são de agora: há quatro anos tinha sido aberta uma investigação por alegados crimes na adjudicação de contratos quando era diretora da Instituição das Letras Catalãs (que promove o catalão). Na terça-feira, o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha decidiu que terá que ser julgada por malversação e falsificação, por alegadamente ter adjudicado a um amigo contratos no valor de cerca de 300 mil euros. Os procuradores pedem que seja condenada a seis anos de prisão e proibida de ter cargos públicos durante 21 anos.."Os que me querem morta, terão que me matar", tinha dito Borràs depois de ser conhecida a decisão do tribunal, recusando demitir-se e alegando ser vítima da "perseguição judicial" aos independentistas catalães. Ao abrigo do estabelecido no regulamento interno, acabou por ser suspensa. A porta-voz da ERC, Marta Vilalta, justificou o voto do partido, alegando que "não há espaço para a corrupção no independentismo", já que "cada milímetro de tolerância com as suspeitas ou acusações nos debilita como projeto coletivo"..O próprio presidente da Generalitat, também da ERC, disse que não era "aceitável" misturar a luta pela independência" com a defesa de alguém acusado de corrupção. "Isto não é um caso de repressão política", afirmou Aragonès. A presidência interina do Parlamento catalão foi assumida pela vice-presidente, Alba Vergés (da ERC), com o partido a oferecer-se para ceder o cargo a outra pessoa do Junts. Mas estes rejeitam nomear alguém..Borràs tinha entrado no Parlamento rodeada dos deputados do seu partido, numa mostra de apoio. Para já, o Junts diz não querer uma rutura da coligação do governo, mas há algumas vozes internas que defendem que esse devia ser o passo a dar. "Apesar das dificuldades, apesar das deceções pessoais e políticas, o Junts nunca acenderá a chama da divisão entre os independentistas", disse o secretário-geral, Jordi Turull. "O adversário é o Estado e não outros independentistas, por mais que pensemos que estão errados", referiu..susana.f.salvador@dn.pt