No estudo, publicado na revista Nature Microbiology, a equipa do iMM, coordenada por Maria Mota, concluiu que uma dieta rica em gorduras altera o estado metabólico, aumentando o chamado stresse oxidativo, que trava a progressão da infeção. .A descoberta, segundo a primeira autora do artigo, Vanessa Zuzarte Luís, poderá ajudar a perceber por que pessoas com anemia falciforme, uma doença genética do sangue caracterizada por níveis elevados de stresse oxidativo das células e com forte prevalência em África, onde a malária é endémica, estão protegidas contra a infeção. .A investigadora adiantou à Lusa que as conclusões podem vir a explicar também por que a tribo nómada africana 'fulani', que tem uma alimentação rica em gorduras saturadas, que inclui leite, banha e óleo de palma, é resistente à malária. ."Achamos, [neste caso], que parte da proteção destas pessoas poderá estar relacionada com o mecanismo do stresse oxidativo que os lípidos provocam no fígado", afirmou. .Segundo Vanessa Zuzarte Luís, se se compreender por que é estes dois grupos populacionais - um com uma doença genética do sangue e outro com uma dieta alimentar rica em gorduras que, em ambos os casos, provocam alterações metabólicas que barram a infeção pelo parasita da malária - "talvez se consiga usar esse mecanismo para proteger todas as outras" pessoas da doença, antes de o parasita se multiplicar, contaminar o sangue e surgirem sintomas, isto é, quando ainda está alojado no fígado. .Uma vacina ou um suplemento alimentar que ativem o stresse oxidativo das células hepáticas pode ser uma potencial ferramenta de prevenção da malária. "Mas ainda estamos longe disso", admitiu a cientista. .No estudo, a alteração metabólica produzida nos ratinhos foi "muito rápida e transitória". .Quando os roedores regressaram aos hábitos alimentares antigos, menos ricos em gorduras, passaram "a ser suscetíveis à infeção da malária"..Para Vanessa Zuzarte Luís, a alteração metabólica, quando gerada, "não é um dano permanente" no hospedeiro, mas causa um "dano colateral" no parasita. .Na experiência, a equipa constatou que, ao fim de quatro dias, os ratinhos infetados com o parasita 'Plasmodium berghei' (o parasita da malária dos roedores), e sujeitos a uma dieta rica em gorduras, tinham uma carga parasitária menor no fígado, quando comparados com outros roedores de um grupo de controlo.."Cerca de 90% dos parasitas foram eliminados no fígado" ao fim desse tempo, assinalou Vanessa Zuzarte Luís..A investigadora adiantou que 30% dos animais "não desenvolveram infeção sanguínea" e os restantes, apesar de a infeção atingir os glóbulos vermelhos, "não sofreram da doença na forma mais severa" porque "têm menos carga parasitária no sangue", dado que possuem "menos carga parasitária no fígado"..Num passo seguinte, a equipa científica mimetizou a dieta alimentar rica em gorduras, e o mecanismo metabólico, numa droga injetada em culturas de células de fígado humano infetadas com o parasita da malária dos roedores. No final, o parasita não sobreviveu.