Superdomingo eleitoral testa apoio dos alemães à gestão de Angela Merkel
Considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo, Angela Merkel enfrenta amanhã um superdomingo eleitoral, com escrutínios regionais em três estados federados da Alemanha: Bade-Vurtemberga, Renânia-Palatinado e Alta Saxónia (reúnem 17 milhões dos 81 milhões de habitantes que o país tem). Esta será uma oportunidade para a chanceler medir o pulso ao eleitorado e conhecer o preço a pagar pela gestão que tem feito da crise nos refugiados (em 2015 a maior economia da UE recebeu 1,1 milhões de pessoas).
Se a gestão que fez da crise do euro deu à líder da CDU um terceiro mandato à frente do governo alemão, a política de portas abertas que defendeu em relação aos refugiados virou-se contra ela e neste momento parecem ser já mais os que a criticam do que aqueles que com ela concordam. Dentro e fora da Alemanha.
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"Merkel ficou surpreendida com o número de refugiados que chegaram à Alemanha (...) Acho que, inicialmente, não viu a extensão do problema", afirmou nesta quarta-feira nos EUA o ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, Kristian Jensen. "O sucesso implica reduzir o número de migrantes que vêm para a Europa a longo prazo", avisou, no início do mês, Horst Seehofer, líder da CSU, a congénere bávara da CDU. Ambas estão coligadas aos sociais-democratas no governo federal. Mas a nível regional o caso muda de figura. Em Bade-Vurtemberga, por exemplo, a aliança Verdes-SPD pôs fim ao reinado de 50 anos da CDU em 2011. O atual ministro presidente do estado, Winfried Kretschmann, parece apostado em derrotar o seu rival democrata-cristão.
Na Alta Saxónia, onde o desemprego ronda os 10% (muito acima da média nacional), é onde o fenómeno Alternativa para a Alemanha (AfD) se apresenta mais ameaçadora para a CDU de Merkel. O partido eurocético e antimigração liderado por Frauke Petry surge em terceiro lugar creditado com 18% das intenções de voto, segundo uma sondagem Forsa para a RTL. Criado em 2013 no contexto da oposição ao resgate dos países em crise, a AfD deslocou-se para a extrema--direita e tem tentado capitalizar o descontentamento dos alemães com a crise dos migrantes e refugiados. "Precisamos de trabalhar para controlar as fronteiras e deportar as pessoas que estão na Alemanha sem terem direito a estar aqui", declarou Petry à Reuters em Bitterfeld-Wolfen, uma cidade industrial do estado da Alta Saxónia.
Na Renânia-Palatinado, onde há uma rica região vinícola, CDU e SPD encontram-se empatados nas sondagens com 35%. A democrata-cristã Julia Kloeckner, apelidada de "rainha do vinho alemã" e tida como uma das possíveis sucessoras de Merkel, tem vindo a descer nas intenções de voto e está agora taco a taco com a atual ministra presidente social-democrata Malu Dreyer. "Quem ganhar na Renânia-Palatinado, CDU ou SPD, poderá apresentar-se como o vencedor global destas eleições", declarou à Reuters Matthias Kortmann, da Universidade de Munique.
"Nem todos os refugiados vão ficar aqui. Estamos a devolver três mil iraquianos todos os meses quando as suas cidades são libertadas do Estado Islâmico", argumentou Merkel, numa ação de campanha na quinta-feira à noite em Bade-Vurtemberga. Há dez anos no poder, a chanceler tenta recuperar o apoio perdido com a crise dos refugiados ao apoiar um acordo UE-Turquia para a recolocação dos estrangeiros que têm atravessado ilegalmente o mar Egeu para as ilhas gregas. O acordo deverá ser debatido no Conselho Europeu de 17 e 18, mas a ONU e várias ONG já alertaram para o risco de ser ilegal. "Usar a Turquia como capanga bem pago tem várias armadilhas perigosas", sublinhou Paul Hampel, um dos altos responsáveis da AfD. No final de contas, refere Kortmann, Merkel, de 61 anos, "continuará a ser a chanceler, mas poderá ficar com um olho negro."