Relações políticas, questões económicas e reforço de popularidade. Serão estas as pastas que Lula da Silva assumirá, ainda que nem todas formalmente, como superministro de Dilma Rousseff - cargo que se prepara para aceitar. A decisão bate certa com a ideia antecipada por muitos de que Lula andava a preparar terreno para tentar voltar ao poder daqui a dois anos. Mas para o ex-presidente assume uma relevância que não se esgota nessa ambição - essa é, aliás, uma pequena parte do que Lula da Silva pode ganhar, ou não perder, ao aceitar entrar no governo de Dilma. A começar pela espada que tem sobre a cabeça: as suspeitas de corrupção ficariam em suspenso graças à imunidade que o cargo acarreta. Por outro lado, as suas funções de pacificar humores e amaciar reações ao governo de Dilma - protegendo-a, também a ela, no caso de impeachment - serão especialmente úteis para voltar a captar apoios para o lado do PT e sobretudo para si próprio. "No Brasil é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia; quando um rico rouba, vira ministro." A frase foi publicada na Folha de São Paulo há quase 20 anos, posta na boca do então deputado que prometia mudar a realidade política do Brasil e emendar os maiores erros do país. Anos mais tarde, à quarta tentativa, o ex-sindicalista chegava a presidente do Brasil e conseguiria resultados nunca antes sonhados, incluindo pôr o país a crescer 7,5% ao ano. O património declarado de Lula era então de 150 mil euros - um quarto do valor do triplex de Guarujá que a Procuradoria de São Paulo acredita ser dele e razão por que pediu a prisão do ex-governante. A casa foi agora engordar a pasta da Lava-Jato, operação em que Lula também está a ser investigado, sendo suspeito de lavagem de dinheiro, ocultação de património e falsidade ideológica. Superministro aos 70 anos, candidato a presidente aos 72, será difícil até para o Supremo Tribunal Federal tocar-lhe. O deputado Lula bem sabia.