Suinicultores quiseram bloquear Lisboa. Agora apelam a Bruxelas
Centenas de suinicultores, em protesto contra o baixo preço da carne no mercado, planearam ontem bloquear o trânsito em Lisboa, mas acabaram "bloqueados" pela PSP, que desviou os 250 pesados (com dezenas de ligeiros à mistura) para a Alta de Lisboa, pelas 18.00. Mais tarde, uma nova tentativa de parar o trânsito na 2.ª Circular (sentido Norte-Sul) também foi travada pela polícia, o que provocou alguns momentos de tensão entre manifestantes e elementos da força de segurança. Um dos suinicultores queixou-se à agência Lusa de ter sido agredido pela polícia, supostamente atingido por gás pimenta, tendo sido assistido por uma equipa do INEM. Segundo a mesma agência, o comandante da divisão de trânsito João Amaral dirigiu-se junto do suinicultor que se queixou da agressão, lamentou e pediu desculpa pelo sucedido, assegurando que iria averiguar as circunstâncias do que aconteceu e chamar à responsabilidade o elemento policial responsável por este ato.
Noutra frente, o objetivo político saiu gorado porque o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, não os recebeu no Terreiro do Paço pois não estaria no ministério. Mas garantiu que apresentará propostas para resolver a questão na segunda-feira em Bruxelas.
"Pé em cima das buzinas, venham para baixo!", apelava ao telemóvel o porta-voz do gabinete de crise do setor, João Correia, acompanhado de uma pequena delegação em frente ao ministério. As buzinas ouviram-se na 2.ª Circular e no Eixo Norte Sul mas a PSP conseguiu desviar o cortejo rodoviário para um local onde não bloquearia o trânsito. No Terreiro do Paço a organização chegou a dizer que tinha indicação por parte de um oficial do trânsito da polícia de que os pesados seriam escoltados para a Baixa pela PSP. O comissário Rui Costa, porta-voz do Comando de Lisboa, negou essa informação.
No ministério, uma assessora do governante entregou um esclarecimento sobre a posição pública de um grupo de suinicultores, onde se anuncia que Capoulas Santos apresentará na segunda-feira, na reunião do Conselho de ministros da Agricultura, em Bruxelas, um conjunto de propostas com vista à resolução do problema, algumas baseadas em sugestões vindas do setor.
As contas dos criadores portugueses resumem o "colapso" em que a fileira está mergulhada. Um porco com 80 quilos, o peso mais rentável para venda no mercado - acima deste valor desvaloriza - deveria andar pelos 120 euros, mas hoje não vai além dos 90. A produção já está a perder 30 euros por cada animal que chega ao mercado, provocando perdas de 40% do rendimento entre cerca de quatro mil produtores e quase 14 mil explorações, traduzindo prejuízos em 160 milhões de euros sobre os 500 milhões que o setor representa anualmente, ameaçando 200 mil postos de trabalho. O balanço foi feito ao DN pelo presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS),Vítor Menino, que reclama ser urgente que "a carne portuguesa seja devidamente identificada nas prateleiras" das grandes superfícies.
O setor debate-se há algum tempo com a falta de escoamento da produção perante a concorrência externa e que já obriga a vender abaixo do preço de custo, o que tem provocado perdas de 40% do rendimento. A esse facto, devido ao excesso de produção de outros países europeus (caso da Espanha), junta-se o embargo da Rússia, país importador da carne nacional e a também a quebra das vendas para Angola. Depois surgem as promoções dos supermercados.
"Isto parece uma tempestade perfeita, mas a verdade é que nos está a arruinar", atesta João Correia, que ontem não escondia a "frustração" por não ser recebido pelo ministro da Agricultura.