Suinicultores bloquearam base do Intermarché, GNR disparou para o ar
Os suinicultores concentrados junto à base do Intermarché, em Alcanena, em protesto contra a promoção de 50% no preço da carne de porco nas grandes superfícies do grupo, desmobilizaram esta madrugada.
Depois de, horas antes, terem indicado que pretendiam manter o bloqueio ao acesso e a saída de camiões da base logística do Intermarché, em Alcanena, iniciado ao início da noite de segunda-feira, até a campanha de promoção ser suspensa, os suinicultores decidiram desmobilizar para "não criar problemas", manifestando "a boa vontade" em negociar e face aos sinais de abertura por parte da administração do Intermarché.
"Há abertura da administração do Intermarché de, numa fase inicial, fazer uma reunião bipartida - com a parte da produção dos suinicultores e a administração do Intermarché - para que se consiga fazer algum acordo de comercialização de suínos que passará a ser estendida também a um compromisso com a indústria", explicou o porta-voz do movimento, João Correia, à agência Lusa.
Essa reunião com a administração do Intermarché para "encontrar uma base para a sustentabilidade da negociação" mantém-se marcada para sexta-feira, tendo sido a "abertura" por parte do grupo que levou então os suinicultores a esperar pelo menos até lá.
"Na semana passada houve uma grande distribuição, como já é do conhecimento público, a Sonae, [que] negociou diretamente com a produção 10 mil porcos e se nós o conseguirmos fazer com outras cadeias garantidamente começa a haver aqui algum trabalho de base com sustentação para podermos levar o setor da suinicultura para a frente", afirmou João Correia.
A campanha de 50% de desconto em toda a carne de porco, que se inicia hoje e decorre até dia 18, vai, contudo, prosseguir, indicou o porta-voz do movimento dos suinicultores, sublinhando que mantêm a intenção de que seja cancelada e recusando eventual margem de negociação relativamente ao "desconto".
"Não [há margem de negociação](...) Nós estamos a produzir 55% das necessidades que Portugal tem em carne de porco, os espanhóis produzem 158%, e nós, como temos défice do que produzimos, vendemos abaixo de Espanha. Acha que isso é normal?", afirmou.
"Se os espanhóis é que são excedentários eles é que deviam vender abaixo, não nós. Porque é que nós temos de ver a carne de porco sempre a fazer de chamariz para trazer as pessoas às lojas? A carne de porco é um bem de primeira necessidade que é assumidamente por todas as grandes cadeias fazedor de tráfego de cliente. Isso tem de acabar", sustentou.
Estão registados em Portugal cerca de quatro mil suinicultores industriais, havendo no total quase 14 mil explorações.
Sector à beira do colapso
Concentrados desde o princípio da noite, os produtores queixavam-se do não cumprimento do Intermarché das regras de rotulagem e do "uso e abuso" das promoções de carne de porco que esmagam os preços num setor que corre o risco de "colapsar".
João Correia, porta-voz do movimento de suinicultores que, no início de dezembro, começou por promover ações de sensibilização junto dos consumidores e que realizou uma ação similar à de hoje junto ao centro de processamento de carnes da Sonae, em Santarém, disse à Lusa que estas iniciativas tiveram já alguns resultados.
"Algumas grandes superfícies começaram a fazer a identificação da origem da carne de forma visível", disse, lamentando que esta prática não esteja a ser seguida pela cadeia do Intermarché.
"Estamos aqui num direito pacífico e cívico para mostrar a nossa indignação e fazer um alerta sério do que pode ser um problema social", com a destruição de postos de trabalho num setor responsável por 200.000 empregos diretos, muitos com direito a habitação, disse.
A concentração passou, pouco depois da 01:00 de terça-feira, por momentos de alguma tensão, quando um grupo apedrejou um camião de matrícula espanhola que se encontra entre os veículos impedidos de entrar nas instalações, tendo a GNR feito alguns disparos para o ar.
[artigo:4954422]