A seleção portuguesa de sub-19 pode fazer hoje história e sagrar-se campeã da Europa pela segunda vez consecutiva. O adversário na final que se realiza na Arménia é a Espanha, com a qual a equipa das quinas se cruzou na fase de grupos (1-1). Esta será a terceira final seguida da seleção agora treinada por Filipe Ramos (ex-jogador do Sporting que foi campeão do mundo de sub-20 em Riade, 1989) e a 13.ª de sempre deste escalão em Europeus, nos quais Portugal ganhou quatro edições (1961, 1994, 1999 e 2018). Há um ano, os sub-19 sagraram-se campeões da Europa sem algumas das principais referências da equipa, casos de João Félix, Gedson Fernandes e David Tavares (Benfica), Luis Maximiniano (Sporting) e Diogo Leite (FC Porto), jogadores que não foram cedidos por integrarem os trabalhos da pré-época dos respetivos clubes. Este ano a história pode voltar a repetir-se, com o selecionador a ver-se privado de várias peças importantes - os benfiquistas Nuno Tavares, Pedro Álvaro, Tiago Dantas, Úmaro Embaló (este lesionado), os portistas Tomás Esteves, Romário Baró e Fábio Silva e os leões Nuno Mendes, Eduardo Quaresma, Rafael Camacho e Joelson Fernandes..Constrangimentos que não impediram que Portugal voltasse a fazer boa figura na prova e que neste sábado possa voltar a conquistar o título de campeão da Europa. Na fase de grupos, a seleção começou por vencer a candidata Itália (3-0), empatou com a Espanha (1-1) e goleou a Arménia (4-0). Nas meias-finais voltou a brilhar e aplicou chapa quatro à Rep. da Irlanda. Agora segue-se a Espanha na final, equipa que já venceu esta competição dez vezes, a última em 2015. "Têm tido uma prestação muito boa. É uma geração que se viu privada de alguns jogadores que faziam parte desta equipa de forma discutível, mas que é a realidade. No torneio de Toulon já tinham sido dados bons indicadores e depois tivemos uma entrada fantástica, com o 3-0 à Itália, e um jogo bem conseguido mas sem um resultado tão bom com a Espanha. Agora resta-nos disputar uma final muito árdua com a Espanha, que teve uma meia-final muito dividida com a França. Será um jogo que vai depender de alguns pormenores e de desequilíbrios individuais, e nós temos dois ou três jogadores que os podem fazer. Se ganharmos, será fantástico, mas se não ganharmos será sempre uma experiência positiva para estes jogadores. Continuamos a produzir futebolistas de qualidade, graças ao trabalho dos clubes", analisou ao DN Carlos Dinis, antigo selecionador das camadas jovens de Portugal.. Só um jogador com experiência de I Liga.Nesta seleção apenas um jogador tem experiência de I Divisão. Gonçalo Cardoso, 18 anos, defesa central, fez um total de 15 jogos pelo Boavista na última temporada - estreou-se em outubro, no Bessa, no triunfo por 1-0 diante do Desportivo das Aves. Depois há um grupo de quatro jovens com experiência de II Liga. Em 2018-19, o extremo João Mário (20 jogos) e o médio ofensivo Fábio Vieira (um) representaram o FC Porto B e conquistaram a Youth League pelos sub-19 dos dragões, tal como o guarda-redes Francisco Meixedo, o central Levi Faustino, o lateral-esquerdo Tiago Lopes e o médio Vítor Ferreira, que completam o lote de convocados dos dragões. Pelo Benfica B atuaram na II Liga o lateral-direito Tomás Tavares (dois jogos) e o médio ofensivo Gonçalo Ramos (seis). A dupla encarnada jogou igualmente na Liga Revelação, onde ganhou rodagem num escalão acima juntamente com os também benfiquistas Celton Biai (guarda-redes), Gonçalo Loureiro (central), Diogo Capitão (médio defensivo) e Tiago Gouveia (extremo), assim como o lateral-direito Costinha, do Rio Ave, o lateral-esquerdo Afonso Freitas e o médio ofensivo Daniel Silva, ambos do Vitória de Guimarães. Por outras paragens andou António Gomes, avançado da equipa sub-20 dos italianos da Atalanta, que é um dos dois convocados que atuam no estrangeiro, juntamente com o extremo Félix Correia, que recentemente trocou o Sporting pelo Manchester City. Félix Correia é um dos sete elementos da convocatória que são juniores de primeiro ano, ou seja, nascidos em 2001. Os outros são Levi Faustino - ainda com 17 anos -, Francisco Meixedo, Tomás Tavares, Rodrigo Fernandes (Sporting), Gonçalo Ramos e Tiago Gouveia..Ou seja, grande parte desta equipa mostrou-se na Liga Revelação, uma competição criada no ano passado pela Federação Portuguesa de Futebol para jogadores de sub-23. Os restantes são juniores. "Cada vez mais os clubes têm melhores estruturas, melhores corpos técnicos e melhores treinadores, e depois temos jogadores com talento, algo que é genético do nosso futebol. E ainda há o papel da federação, que vai sendo cada vez mais determinante, ao levar a cabo uma ação concertada para a certificação dos clubes a vários níveis e a disponibilizar saídas competitivas que não existiam antes na idade de júnior, como a Liga Revelação e as equipas B num nível exigente. Muitos destes jogadores já jogam num nível muito elevado, o que não era possível há uns anos. Estes jovens têm mais oportunidades de evoluir, esta é que é a grande verdade", disse Carlos Dinis. Para o antigo selecionador das camadas jovens, o facto de estes jogadores jogarem na sua maioria na Liga Revelação e pelas equipas B dos seus clubes pode explicar em parte o sucesso. "Estávamos um pouco desligados dos níveis competitivos da Europa. Em muitos países existem equipas B, uns com umas características e outros com outras. Nós levámos algum tempo a adquirir esta cultura e a lançar os jovens cada vez mais cedo. Felizmente, a Liga Revelação, as equipas B e esta mentalidade estão a dar oportunidades aos jovens jogadores, e eles merecem-nas. Os treinadores vão percebendo que é possível dar-lhes oportunidades. Temos 200 e poucos mil praticantes de futebol e isso em 11 milhões de habitantes não é muito significativo, mas somos um caso de estudo. Não é proporcional o número de praticantes com a qualidade de jogo que vamos apresentando e o número de talentos que vamos fabricando", apontou. Gonçalo Ramos, 18 anos, é o melhor marcador da seleção no Europeu, com quatro golos. Marcou um à Itália na fase de grupos e destacou-se com um hat trick na meia-final com a República da Irlanda. O avançado do Benfica é um bom exemplo de como este grupo de jogadores tem evoluído jogando pelos respetivos clube em escalões acima, pois além dos 21 jogos que fez pelos juniores encarnados, participou em cinco partidas pela equipa B do Benfica e fez ainda mais três jogos na Liga Revelação. A final de hoje será a 25.ª da história das seleções jovens nacionais (Europeus e Mundiais incluídos). Às 13 no escalão de sub-19 em Campeonatos da Europa (quatro vitórias), juntam-se sete em sub16/17 (seis triunfos), duas em sub-21 (único escalão que Portugal não conseguiu vencer qualquer competição) e depois mais três em Mundiais de sub-20, prova que a equipa das quinas venceu por duas vezes - Riade 1989 e Lisboa 1991. Caso vença a Espanha hoje, será o 13.º troféu de sempre da história das seleções jovens.