Sturgeon desafia May com novo referendo à independência escocesa
Nicola Sturgeon concretizou ontem aquilo que há muito vinha deixando no ar: a Escócia quer repetir o referendo sobre a independência antes de o Reino Unido - país a que pertence - sair da União Europeia. Para isso, anunciou ontem a primeira-ministra escocesa e líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), será apresentada na próxima semana uma nova proposta de lei para realizar uma segunda consulta popular sobre a independência.
"A proposta de lei de referendo será apresentada na próxima semana para consulta" no Parlamento escocês, disse a chefe do governo escocês na abertura do congresso do SNP em Glasgow. "Estou determinada que a Escócia possa reconsiderar a questão da sua independência e isso antes de o Reino Unido sair da UE, se for necessário para proteger os interesses do nosso país".
A 18 de setembro de 2014, 55,30% dos habitantes da Escócia votaram pela permanência do território no Reino Unido, 44,70% votaram pela independência. A 23 de junho deste ano, 52% dos britânicos votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia, 48% pela permanência. Apesar de o brexit ter ganho a nível nacional, na Escócia perdeu, pois 62% dos eleitores votou a favor da permanência no clube europeu.
A proposta de lei irá a debate numa altura em que o SNP já não tem maioria absoluta no Parlamento escocês. Nas eleições de 5 de maio deste ano, o partido de Sturgeon elegeu 63 deputados (menos dois do que os necessários para a maioria absoluta, num total de 129 eleitos). Apesar disso, o SNP é o partido dominante. Nas legislativas britânicas de 7 de maio do ano passado elegeu 56 dos 59 deputados escoceses para o Parlamento de Westminster. A oposição acusa a líder do SNP de só criar divisões. "A prioridade de Nicola Sturgeon é dividir. Mas o nosso país já se encontra dividido depois do jogo do brexit levado a cabo pelos conservadores. Não devemos ter mais divisões", declarou a líder do Labour escocês, Kezia Dugdale.
Apesar de Sturgeon e os nacionalistas quererem repetir o referendo na Escócia, as sondagens não apontam para um crescimento dos pró-independência. Um estudo de opinião BMG que foi publicado ontem pelo jornal e Herald revelou que 47% dos inquiridos é contra a independência, 38% a favor, 12% estão indecisos sobre como votar.
O anúncio ontem feito pela primeira-ministra escocesa é mais um dos seus desafios à primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May. No passado Nicola Sturgeon ameaçou que a Escócia poderia votar contra a saída britânica da UE. Os académicos dividiram-se então sobre a obrigatoriedade ou não desse aval escocês. May, que tem hesitado em ativar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa (que assinala o pedido formal de um país para sair do clube europeu), disse recentemente que pensa fazê-lo até março do próximo ano. Tendo em conta que um país tem dois anos para sair desde que ativa o artigo, o Reino Unido deixaria a UE até março de 2019. Antes disso, Sturgeon quer ver a Escócia como país independente.