Stieg Larsson suspeitava de "muitos nomes portugueses" ligados à morte de Olof Palme
O título é direto: Stieg Larsson - Os Arquivos Secretos e a Sua Alucinante Caça ao Assassino de Olof Palme. E o estilo de Jan Stocklassa só não é o da trilogia Millennium de Stieg Larsson porque abundam provas e não precisa de ficção alguma para elaborar 468 páginas em que põe a claro o esforço do escritor mais popular da Suécia para acusar o assassino do antigo primeiro-ministro Olof Palme. De qualquer modo, o romance com todas as suspeitas ainda não provadas da investigação de Stieg Larsson e de Jan Stocklassa poderá estar a caminho.
O autor esteve em Lisboa a promover uma das quase 30 traduções do seu livro, uma investigação que começou após ler um apontamento de Stieg Larsson: "Questionei-me sobre quem escrevera aquilo e descobri que fora o Stieg. Aí entendi que ele estava muito interessado no assassínio de Olof Palme e deduzi que deveria existir muito mais documentação." Stocklassa iniciou a busca e convenceu o editor da revista Expo (onde Larsson trabalhava) a deixá-lo ver o arquivo do escritor: "Quando fomos ao armazém, descobri que não era uma pilha de folhas mas 20 caixas cheias de documentos. Assinámos um acordo em que só eu tinha acesso ao material e poderia escrever um livro."
O assassínio de Olof Palme ocorreu na noite de 28 de fevereiro de 1986 com um tiro à queima-roupa. O atirador desapareceu e nos 33 anos que se seguiram nunca se encontrou o assassino nem uma teoria que explicasse o acontecimento. Segundo Stocklassa, o interesse pelo esclarecimento do caso tem vindo a diminuir ao longo das décadas: "Houve a explicação oficial de que fora morto por Christer Pettersson, mas a opinião pública não acredita nela e crê que o caso continua por fechar." Não deixa de referir: "Tenho a certeza de que há muitos agentes dos serviços secretos que não queriam a resolução do caso, mas a principal razão foi a incompetência. Além de que o governo interferiu na investigação e pôs a conduzi-lo alguém que não percebia do assunto.
Pergunta-se ao autor se acredita que 33 anos depois o assassino de Olof Palme possa ser encontrado? "Sim" é a resposta. "Estou totalmente convencido de que o caso possa ser resolvido nos próximos dois anos. Diria que as estrelas estão a alinhar-se e que a polícia está finalmente na direção certa", diz. "Não temos muito mais tempo porque as testemunhas são idosas, algumas morreram recentemente, e perderemos a oportunidade para encontrar respostas", acrescenta.
Segundo o autor, o aparecimento do seu livro avivou a investigação: "O caso não estava fechado, mas agora a investigação está mais ativa e, pelo menos, estão a procurar respostas na suspeita mais credível: a pista sul-africana. Que era uma das que Stieg Larsson seguia, além da da extrema-direita e do assassino solitário visto a fugir do local.
Antes de se continuar, questiona-se Stocklassa sobre se consegue apontar o nome do assassino no livro: "O nome dele está no livro mas não o acuso porque só a polícia o pode fazer através de provas concretas." Mas aponta o nome dele, insiste-se: "Sim."
A investigação de Stieg Larsson foi responsável para Jan Stocklassa encontrar o "seu" assassino. Considera que "a teoria de Stieg estava correta no que respeita à participação sul-africana, bem como de um homem em Chipre e o envolvimento da extrema-direita sueca. Essa era a base da sua teoria, mas ele nunca descobriu o verdadeiro assassino e foi isso que tentei fazer."
Há um capítulo no livro em que descreve a ida de Stieg Larsson à polícia informar quais eram as suas conclusões: "A investigação policial só começou a estar no bom caminho a partir do segundo ano; o primeiro foi perdido a seguirem a pista do movimento curdo PKK, a do assassino solitário e de Christer Pettersson. Foi no segundo ano que Stieg falou com a polícia e outras fontes ajudaram a completar o retrato."
Apesar de nunca se ter encontrado o assassino, 130 pessoas assumiram entretanto que tinha sido os autores. Porque queriam tantos ser os protagonistas do crime? "Pode parecer estranho, mas um psiquiatra disse-me que a razão devia-se a serem pessoas que têm problemas psicológicos e precisam de extravasar a sua ansiedade, e uma forma de o fazer é tornarem-se responsáveis pelo pior crime que possa ser cometido. Tem que ver com razões psiquiátricas. Nenhum deles o matou."
As conclusões de Stieg Larsson estavam certas ou também se enganou? Para Stocklassa "ninguém chega às conclusões certas sem cometer erros. Vi que tinha várias teorias em que acreditou durante algum tempo, como a do assassino solitário, mas rapidamente se fixou na teoria da África do Sul."
Para Stieg Larsson, escreve Stocklassa, "o assassínio de Olof Palme podia ser considerado uma consequência lógica da lenta degradação do clima político na Suécia e no bloco Ocidental". Stocklassa teve acesso às três listas de suspeitos de Stieg Larsson e havia um nome que sobressaía: Anders Larsson. À sua volta destacavam-se Bertil Wedin e Victor Gunnarsson. Os três tinham em comum relações com a Aliança Democrática, uma organização de extrema-direita sueca. Mas Anders Larsson estava também ligado ao movimento angolano da UNITA e ao seu representante em Estocolmo, Luís Antunes.
Jan Stocklassa destaca no seu livro o papel da UNITA e de Luís Antunes porque o movimento (as respostas de Stocklassa estão exatamente como foram dadas na entrevista) "era financiado pelos sul-africanos e pela CIA. Há uma ligação portuguesa muito interessante nessa ligação a Angola".
Ligação portuguesa? "Sim, ainda tenho mais documentação para divulgar." Luís Antunes era português? "Não sei a sua nacionalidade, mas existem muitos outros nomes portugueses que não referi no livro."
Podemos dizer que encontrou vários nomes portugueses na investigação? "Sim, são vários e de forma clara. Antunes era o chefe da UNITA em Estocolmo e muito próximo de Anders Larsson, que era uma das duas pessoas que alertaram para o possível crime [sobre Palme] ainda antes de acontecer, tal como o fez Bertil Wedin em Chipre. Portanto, as ligações da UNITA à África do Sul, as ligações de Anders à UNITA e as de Wedin à África do Sul parecem muito importantes."
Stieg Larsson também suspeitava desses nomes portugueses? "Sim, era nisso que trabalhava com muito empenho. Ele tinha um documento assinado por Antunes e escrito em sueco perfeito, ao estilo de Anders Larsson, e ficou convencido de que fora este quem o escrevera. Stieg investigou muito Anders."
Podemos afirmar que os nomes portugueses estão relacionados com a morte de Olof Palme? "Podemos, pelo menos afirmar, que são fundamentais investigar e apurar as ligações possíveis ao assassínio. Especialmente Luís Antunes. E há também Greg Williamson a fazer negócios com Angola. Há muita gente a falar português."
A insistência sobre a conexão portuguesa faz que Jan Stocklassa conclua: "A história destas ligações é provavelmente um outro livro, mas como há muitas ameaças estou a pensar em transformar o que sei num romance policial. Será mais fácil levar as pessoas a ler 400 páginas de investigação do que num livro como este. Como tenho muitas suspeitas que ainda não posso provar, nesse registo poderei incluir tudo."
Stocklassa concorda que Stieg Larsson estava obcecado pelo assassínio de Olof Palme: "Sim, era a sua segunda maior obsessão porque a primeira era a investigação sobre as atividades da extrema-direita. A terceira era os romances policiais que estava a escrever. Estava tão obcecado que não comia, não fazia exercício e fumava muito." É impossível não perguntar se a morte de Larsson foi natural? "Foi sim, não há dúvidas sobre isso. Falei com muitas pessoas e contaram-me como tudo aconteceu. Até a sua companheira tem essa opinião. Portanto, acredito."